O PAPEL DA ESTRUTURA GEOLÓGICA NA
DEFINIÇÃO DO RELEVO TERRESTRE
( Prof. Lucivânio Jatobá)
Email: lucivaniojatoba@uol.com.br
A estrutura geológica é um tema que não pode ser desprezado na análise
da gênese e da evolução do relevo terrestre. Ela engloba diversos aspectos
relacionados à crosta terrestre, alguns dos quais apresentam uma extrema
complexidade. Boa parte dos aspectos estruturais da crosta terrestre é estudada
por diversas geociências, como por exemplo a Geotectônica, a Geologia
Estrutural, a Petrografia e a Geomorfologia Estrutural.
A Geomorfologia Estrutural foi, durante muitas décadas do século XX, a
parte da Geomorfologia que recebeu a maior atenção dos pesquisadores, mas ,
atualmente, vem recebendo um peso menor nas matrizes curriculares dos cursos
de Geografia, infelizmente. Esse importante ramo da Geomorfologia analisa a
participação da estrutura geológica na definição de alguns compartimentos de
relevo sob dois aspectos básicos. Em primeiro lugar, ela examina os elementos
fundamentais do arcabouço estrutural, como por exemplo a constituição do globo terrestre, a estrutura e a dinâmica da
crosta terrestre, as rochas e os grandes conjuntos estruturais, constituindo , assim, uma
abordagem eminentemente geológica. Em segundo lugar, volta-se para aspectos mais exclusivamente
geomorfológicos, tais como as diferenças litológicas numa paisagem e seus
efeitos morfológicos ou o modelado do relevo em litomassas específicas (
calcário, por exemplo) , ou ainda as morfoestruturas em áreas de colisão de
placas litosféricas etc.
Pierre Birot ( 1958) considerava que a explicação do relevo terrestre
reduzia-se a dois princípios básicos: a) "toda região deprimida é composta
de rochas tenras ou rebaixadas por esforços tectônicos, b) toda região elevada
se compõe de rochas mais resistentes ou foram levantadas por processos tectônicos".
A estrutura geológica compreende, portanto, entre outros, os seguintes
aspectos:
- diferenças de dureza das rochas
- disposição das camadas rochosas
- movimentos crustais
- falhas
-fraturas
-dobras
-litomassas específicas.
As diferenças de dureza das rochas vão desempenhar um papel fundamental
num processos geomorfológico destacado, que é a erosão diferencial. A erosão
diferencial é um processo erosivo eminentemente seletivo. Ela faz-se mais
enérgica em rochas frágeis e mas "suave" em rochas mais resistentes. Essa
modalidade de erosão seletiva tem como principal mérito ressaltar as diferenças
de dureza do material rochoso.
A erosão diferencial depende dos seguintes fatores: a) a consistência da
rocha mais ou menos compacta e de sua textura. Por exemplo, os calcários e as
argilas são mais facilmente desagregáveis pelos filetes d’água do que os granitos; b) do estado
de fraturamento da rocha; o sistema de diaclasamento facilita uma concentração
da rede de drenagem e da infiltração das águas; c) o grau de permeabilidade da
rocha.
As camadas rochosas, sobretudo as sedimentares, dispõem-se nas paisagens
geomorfológicas horizontalmente ou de forma subhorizontal a inclinada. Na
periferia de uma sinéclise, que não foi arqueada, as camadas são mais
inclinadas do que no centro. Neste, as camadas são mais horizontais. Esse fato
, de natureza estrutural, contribui para a existência de cuestas, na periferia
da bacia sedimentar e de chapadas e chapadões no centro. Há notáveis exemplos
dessa influência estrutural na bacia sedimentar do Meio Norte.
As áreas intensamente fraturadas, quando situadas nas imediações de
corpos rochosos não fraturados, respondem, em geral, como áreas deprimidas. O
intenso fraturamento colabora para que haja uma maior infiltração das águas e,
conseqüentemente, uma maior intemperização química dos materiais rochosos.
Esses materiais, assim alterados, tornam-se presa fácil para os processos
erosivos subseqüentes.
Os quartzitos, rochas decorrentes da metamorfização do arenito, são, na
maioria dos casos, mais resistentes ao intemperismo e à erosão do que diversas
outras rochas. No caso de quartzitos mais homogêneos e fortemente cimentados
pela cristalização da sílica, o relevo resultante é quase sempre representado
por cristas elevadas e alongadas, segundo a orientação tectônica. Se esses
quartzitos são friáveis, podem ocupar posição de vales ou regiões rebaixadas. E
, no caso de se acharem dispostos de maneira horizontal, podem dar relevos
tabulares. Os dois casos podem ser visualizados na Região Nordeste do Brasil.
Os diques de diabásio e de andesito, dependendo da qualidade das rochas
encaixantes, possuem comportamentos geomorfológicos distintos. Se as rochas
encaixantes são mais resistentes, os diques condicionam a formação de vales, em
decorrência da remoção efetiva das rochas ígneas básicas. Se, por outro lado,
as rochas encaixantes são menos resistentes e passíveis de desgaste rápido, os
diques constituem elevações que se dispõem de forma grosseiramente paralela .
A superimposição de um rio sobre um núcleo de determinadas rochas, sem
seguir alinhamentos tectônicos, é um indicador de movimento epirogenético (
soerguimento de massa continental).
Os fatores estruturais do relevo podem ser, de forma bastante sintética,
agrupados em duas grandes categorias: fatores tectônicos e fatores litológicos.
Os fatores tectônicos correspondem às forças tectônicas, de caráter
endógeno, que edificam o relevo mediante deformação da litomassa. Ocasionam
intensos dobramentos, falhamentos, subsidências, basculamentos e exaltações.
Para compreender esses fatores, faz-se necessário um conhecimento dos grandes
traços da teoria da Tectônica de Placas, um dos mais importantes paradigmas da
moderna Geologia.
Para a teoria da Tectônica de Placas, a litosfera encontras-se subdivida
em fragmentos, que se movem entre si, denominados placas litosféricas. A zona
de interação entre as placas litosféricas definem-se por convergência
litosférica, divergência litosféricas e falhas de transformação.
As zonas de convergência são as áreas onde se dá a colisão de placas.
Nestas áreas configuram-se morfoestruturas do tipo trincheira oceânica e/ou
sistemas orogenéticos.
As zonas de divergência são aqueles limites onde se dá a separação de
placas litosféricas. Exemplificam-na as morfoestruturas chamadas dorsais
oceânicas, cujo exemplo mais próximo é a Dorsal do Atlântico.
As zonas de falha de transformação são os limites ao longo dos quais as
placas "deslizam". No Oeste dos Estados Unidos, a falha de Santo André é um bom exemplo
desse limite de placas litosféricas.
Os fatores litológicos resultam da maior ou menor resistência dos corpos
rochosos aos processos erosivos, conforme foi anteriormente assinalado. Esses
fatores podem determinar plataformas estruturais de relevo, como por exemplo o
bordo de uma camada mais dura, destacada pela erosão diferencial. Na Figura 4,
mostram-se esquemas ilustrativos de escarpas litológicas.
Os fenômenos tectônicos influenciam também, e de maneira significativa,
os processos de sedimentação, que são importantes à análise morfoestrutural das
paisagens geomorfológicas. Sobre esse assunto, há um interessante trabalho,
escrito em 1974 por Benjamim Bley de Brito Neves, publicado no Boletim do
Núcleo do Nordeste da Sociedade Brasileira de Geologia, n° 2. Encontram-se
transcritos a seguir trechos desse artigo, seguidos de uma atividade prática,
que poderá ser levada a efeito em sala de aula.
QUESTÕES
1- Faça uma análise morfoestrutural da situação indicada na Figura 1.
2- Faça uma análise morfoestrutural da paisagem indicada
na Figura 2.
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