Total de visualizações de página

terça-feira, 31 de maio de 2016

A DIALÉTICA DAS CONDIÇÕES CLIMÁTICAS DO SEMIÁRIDO NORDESTINO BRASILEIRO

A DIALÉTICA DAS CONDIÇÕES CLIMÁTICAS DO SEMIÁRIDO NORDESTINO BRASILEIRO

Lucivânio Jatobá, Josiclêda Domiciano Galvíncio

Resumo

O clima, estudado amplamente na Geografia Física, vem sendo analisado atualmente com recursos tecnológicos avançados, acompanhando a Revolução Científico-Tecnológica que opera com impressionante rapidez. Com isso, nunca se procedeu a uma análise tão precisa e rápida das variáveis e eventos climáticos como atualmente. Porém, o conhecimento das condições climáticas ambientais atuais e pretéritas é processo bastante complexo que pode ser compreendido melhor a partir do uso de dados fornecidos pelo sensoriamento remoto, tanto de sensores ativos como de sensores passivos, empregados nessa análise climática. A Dialética Materialista (de acordo com Marx e Engels) difere da Dialética hegeliana, pois em linhas gerais, os marxistas consideram alguns aspectos, como: a Dialética Materialista parte do princípio da unidade material do mundo; o reconhecimento da objetividade da natureza e a atitude de entendimento humano para conhecê-la constituem os princípios básicos da concepção dialético-materialista do mundo, ou seja, a matéria é objetiva e que a matéria é uma categoria filosófica. Nesse sentido, podem ser observados diversos fenômenos climáticos e associar aos princípios listados por Marx e Engels, como por exemplo, as mudanças quantitativas verificadas no quadro térmico superficial do Atlântico Sul que acarretarão mudanças qualitativas na massa Tépida Kalahariana. Quando o Atlântico Sul está mais frio, a estabilidade do ar kalahariano diminui, indicando de forma clara, portanto, uma forte luta de contrários. Partindo do princípio da Conexão Dialética na análise climática no Nordeste brasileiro, pode-se compreender as relações entre o Sol e as secas, pois a natureza tem as suas leis e o Materialismo Dialético busca entendê-las e aplicá-las. O Nordeste brasileiro possui uma das mais complexas condições climatológicas do planeta. A aplicação do Materialismo Dialético à análise climática dessa região pode ser uma atitude extremamente importante para a compreensão da Filosofia da Natureza e para o desenvolvimento da concepção científica de mundo.

 THE DIALECTIC OF A CLIMATE CONDITIONS OF BRAZILIAN NORTHEASTERN SEMIARID

ABSTRACT:
 The climate, object of Climatology study, has been analyzed in the present day, with the use of advanced technological features, accompanying the Scientific-Technological Revolution which operates with impressive speed. With this, it never carried out an examination as precise and fast variables and climatic events like today. However, knowledge of current environmental climate and preterit is fairly complex process that can be better understood from the use of data provided by remote sensing, extracted both active sensors and passive sensors used in climate analysis. Climate analysis can also be made from the use of critical-dialectical method in its essence and not just in the world of phenomenological appearance. This method differs from the Hegelian Dialectic. To address in general terms, the main aspects of critical-dialectical method and its applications to the understanding of complex climate dynamics that defines, in Brazil, one semiaridez of pocket in the Northeast, one of the regions that has the highest degree of climatological complexity, and in the northern state of Minas Gerais. Application of Dialectical Materialism climate analysis of this region can be an extremely important attitude for understanding the nature of philosophy and the development of the scientific conception of the world.

Artigo publicado na Revista Equador, da UFPI.
Download em pdf:  http://www.ojs.ufpi.br/index.php/equador/article/view/4418/2817

segunda-feira, 30 de maio de 2016

ONDA DE LESTE EM 30 DE MAIO DE 2016 NA REGIÃO METROPOLITANA DO RECIFE, BRASIL

ONDA DE LESTE EM 30 DE MAIO DE 2016 NA REGIÃO METROPOLITANA DO RECIFE, BRASIL
         ( Lucivãnio Jatobá)

         A onda de leste é um fenômeno meteorológico típico de áreas tropicais.  Trata-se de uma depressão barométrica que, no caso brasileiro, se origina sobre o oceano Atlântico, em áreas de baixas latitudes. Ela se desloca de leste para oeste.
         No Estado de Pernambuco, as ondas de leste, comuns no período de outono-inverno, avançam até a periferia oriental da zona fisiográfica como Agreste.
         
" As propagações para oeste dos Distúrbios Ondulatórios nos ventos de leste ou simplesmente, Ondas de Leste (OL), são a fonte para muitos ciclones tropicais. A maior parte das ondas no Atlântico e Caribe tem sua origem na África. Estas ondas são disparadas por pequenos vórtices que se deslocam com os alísios, algumas vezes por longas distâncias. Thorncroft e Hodges (2001) usaram a técnica de rastreamento automático para identificar as estruturas coerentes de vorticidade sobre o Oeste da África e  Atlântico Tropical. Estes estudos indicaram que existem duas regiões de fontes dominantes, a primeira está localizada próximo de 15°N (Oeste da África), onde apresenta um máximo de
densidade de trajetória. O segundo foi localizado ao norte de 15°N próximo ao Saara. No Hemisfério
Sul, as OL ocorrem no Pacífico e costa leste da América do Sul. Dependo da época do ano e da região destes distúrbios apresentam um determinado tamanho e intensidade. Em termos de características gerais, as OL são basicamente os sistemas de escala sinótica que apresentam considerável extensão latitudinal, cerca de 10 a 15 graus. Possuem um comprimento de onda de 1500 a 3000 km, e geralmente movem-se para oeste com velocidade entre 5 e 10 m.s-1. Podem ser identificadas nos níveis de 850, 700 e 600 hPa, as quais inclinam-se para leste com a altura."    ( CLIMATOLOGIA SAZONAL DAS ONDAS DE LESTE NO ATLÂNTICO TROPICALUSANDO A TÉCNICA DE TRACKING
José Guilherme Martins dos Santos1, Kellen Carla Lima
Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos, Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais
Rod. Presidente Dutra, Km 39, 12630-000, Cachoeira Paulista, SP, Brasil.
1Grupo de Modelagem da Atmosfera e Interfaces) 


           Na madrugada  do dia 30 de maio de 2016, uma onda de leste, com desenvolvimento rápido, atingiu a Região Metropolitana do Recife, provocando precipitações que superaram, em poucas horas, 200mm!

           A imagem de satélite a seguir mostra a situação dessa Onda de Leste na manhã do dia 30 de maio de 2016.


sábado, 28 de maio de 2016

ATIVIDADE PRÁTICA NO ENSINO DE GEOMORFOLOGIA


ATIVIDADE PRÁTICA NO ENSINO DE GEOMORFOLOGIA

          Autor: Prof. Lucivânio Jatobá
                     lucivaniojatoba@uol.com.br 

          A atividade prática a seguir foi aplicada durante o minicurso A GEOMORFOLOGIA NO ENSINO DE GEOGRAFIA FÍSICA, ministrado durante o  XII Simpósio Brasileiro de Geografia Física Aplicada, realizado em Natal  (RN), Brasil, no período de 9 a 13 de julho de 2007.
          
          Foi apresentada aos participantes uma série de blocos diagramas, extraída do livro clássico Geografia Física, de Arthur Strahler. Nela é possível visualizar as diversas influências dos fenômenos geológicos estruturais sobre a gênese e a evolução do relevo terrestre e também as interferências dos processos morfoclimáticos.
          A atividade foi assim encaminhada:
a) Forme um grupo com no máximo quatro componentes.
b) Todos os componentes deverão examinar atentamente e sucessão dos blocos diagramas .
c)  Foi solicitada a realização de uma  descrição e análise da evolução das paisagens naturais, levando-se em conta as interferências estruturais e morfoclimáticas operantes.












RELAÇÕES ESTRUTURA GEOLÓGICA E RELEVO



O RELEVO TERRESTRE E A ESTRUTURA GEOLÓGICA
          
Autor: Prof. Lucivânio Jatobá

A expressão estrutura, quando empregada na análise geomorfológica, tem um sentido muito amplo. Estrutura não significa apenas a rocha, mas um conjunto de  fenômenos, que compreendem, por exemplo: os movimentos tectônicos e seus efeitos, a disposição das camadas rochosas, a maior ou menor dureza das rochas , os movimentos epirogenéticos, dentre outros.
Os movimentos tectônicos são provocados por esforços internos do planeta. São responsáveis pela ruptura dos corpos rochosos, pelos enrugamentos do terreno, além do arqueamento e a subsidência de amplas áreas da superfície terrestre. Os tipos de relevo que resultam das ações tectônicas são conhecidos como relevos morfotectônicos. Na verdade, são morfoestruturas, na concepção de Guerasimov.
No ensino de Geografia, os relevos morfotectônicos podem ser bem explorados em classe e no trabalho de campo, em algumas áreas do Nordeste. Em classe, o emprego de desenhos simples e esquemáticos de falhas e dobras, que são dois dos mais comuns relevos morfotectônicos, pode se constituir num rico recurso didático. As falhas e os restos de antigos dobramentos são relativamente freqüentes no Escudo Brasileiro, e em particular nos terrenos cristalinos do Nordeste brasileiro. Que sugestões podem ser aqui apontadas para o ensino desse tema?



1- O Relevo em Estruturas Falhadas e Dobradas

            Uma falha é uma ruptura de continuidade verificada no terreno com o conseqüente deslocamento de um bloco rochoso  contra o outro. As rochas ígneas e as metamórficas são as que mais reagem aos esforços tectônicos falhando-se, mesmo que esses esforços sejam convergentes.
            As falhas deixam suas marcas na paisagem geomorfológica. Essas marcas podem ser de caráter geomorfológico ou petrográfico. E são essas marcas que devem ser exploradas pelo professor de Geografia. As principais evidências de falhamentos no campo são: escarpas retilíneas, terraços anormalmente dispostos, vales suspensos, presença de facetas triangulares e trapezoidais e a presença de rochas do tipo milonito, freqüentes, no Nordeste, ao longo dos Lineamentos Pernambuco e Patos, por exemplo.
            Em sala de aula, o professor de Geografia pode mostrar aos alunos mapas hipotéticos com padrões de drenagem indicadores de falhas e/ ou fraturas, ou seja, padrões retangulares. A exibição de transparências contendo cópias de imagens de satélite ou de radar com texturas que denunciem morfoestruturas de falhas.
            As dobras são ondulações das camadas rochosas acarretadas por esforços tectônicos de compressão. São estruturas geológicas típicas de margens ativas de placas litosféricas. Os grandes dobramentos que atualmente se salientam nas paisagens globais ( Andes, Himalaia, Rochosas, Grande Atlas etc) fazem parte de sistemas orogenéticos profundamente dobrados e relativamente recentes. As dobras que existem disseminadas pelo território brasileiro são muito antigas e foram submetidas a prolongadas fases de erosão. Faltam, portanto, no País, sistemas orogenéticos modernos, como aqueles que são vistos nas áreas de colisão de placas.
            Dois tipos básicos de morfoestruturas de áreas dobradas podem ser referidos: relevo jurássico e relevo apalachiano. O relevo jurássico, que não existe no Brasil, resulta de um conjunto de dobras simples  que se encontram numa fase “inicial” do processo erosivo. E´o relevo que caracteriza os Montes Jura, na fronteira da França com a Suíça. O relevo apalachiano é o resultado da evolução avançada do relevo jurássico. Constitui-se de um conjunto de cristas e serras mais ou menos paralelas, produzidas pelos complexos mecanismos da erosão diferencial.
            “Para que ocorra o relevo apalachiano, são necessárias as seguintes  condições:o material rochoso dobrado e  que foi arrasado pela erosão deve ser heterogêneo; ocorrência de afloramentos paralelos de camadas rochosas duras e tenras;existência de um fenômeno tectônico capaz de acarretar o levantamento da área para provocar uma retomada das ações erosivas.Esse tipo de relevo desenvolvido em estruturas dobradas apresenta, em geral, estas características: cristas paralelas, conjunto de vales que geralmente se dispõem sobre rochas tenras; rede de drenagem superimposta.” (JATOBÁ & LINS- 1998, p.45-46)
            Um número considerável de livros didáticos de Ensino Fundamental e do Ensino Médio ilustra o relevo dobrado apenas com feições que são típicas do relevo jurássico. Assim, o professor precisa mostrar aos alunos que esse é somente uma modalidade de relevo em estruturas dobradas. A ênfase, na nossa opinião, deve ser para o relevo apalachiano, que pode ser encontrado em várias áreas do País.
            Outro aspecto que pode ser explorado pelo professor de Geografia, quando abordar esse tema, é a presença das gargantas de superimposição da drenagem, conhecidas regionalmente como boqueirões. Grande parte dos boqueirões  desenvolve-se em cristas de atitude apalachiana.



2- O Papel da Disposição das Camadas Rochosas

            A disposição das camadas rochosas é outro elemento estrutura de grande importância na definição de certas morfoestruturas. As camadas rochosas, particularmente as sedimentares, dispõem na superfície terrestre de duas maneiras: horizontal e inclinada. Numa bacia sedimentar, as camadas sedimentares ficam horizontalmente dispostas no centro dessa unidade geotectônica. Na periferia de uma bacia sedimentar que não foi tectonicamente perturbada, as camadas sedimentares encontram-se inclinadas e  mergulhando para o centro dessa unidade.
            As camadas sedimentares horizontalmente dispostas originam morfoestruturas do tipo chapada.  As inclinadas da periferia das bacias contribuem para a gênese de um relevo dessimétrico, que recebeu a denominação de “cuestas”, como por exemplo a da Ibiapaba, que impropriamente ficou conhecida como “Serra” da Ibiapaba.
            No Nordeste, uma outra impropriedade terminológica acabou sendo consagrada, lamentavelmente. Nos referimos à expressão “Chapada da Borborema”. A Borborema, sob nenhuma hipótese pode ser referida como um chapada. Chapada e´ uma morfoestrutura desenvolvida em bacia sedimentar. A Borborema dispõe-se em terrenos pré-cambrianos do Escudo. E´na verdade um saldo de diversas superfícies de erosão cenozoicas.
            Quando o mergulho das camadas rochosas é mais enfático, inclusive em terrenos cristalinos e cristalofilianos, originam-se feições de relevo conhecidas como cristas. No relevo apalachiano essas cristas são freqüentes.

3- A Erosão Diferencial

            A erosão diferencial é um processo de desgaste e retirada dos materiais rochosos. E´ fenômeno  eminentemente seletivo, haja vista que se faz mais enfático sobre rochas mais tenras, enquanto “poupa” os corpos litológicos mais resistentes. Podemos afirmar, portanto, que sob um mesmo domínio morfoclimático, rochas diferentes dão feições de relevo também diferentes.
             Os numerosos inselbergues que povoam a depressão sertaneja nos diversos Estados nordestinos exemplificam , em sua quase totalidade, os mecanismos da erosão diferencial. Na Depressão de Patos são vistos vários inselbergues em rochas graníticas encaixados em rochas metamórficas, menos resistentes à erosão.
Nota-se, na fotografia, uma nítida influência da estutura geológica sobre o relevo terrestre. ( Extraído de:  https://sites.google.com/site/contienentes/home/relieves)


                     Observa-se  na figura a influência da  disposição das camadas sobre as formas de relevo. (Extraída e modificada de : http://vocabulariogeografico.blogspot.com.br/2011/11/relieve-aclinal.html )




                                                                         
                         Feições de relevo desenvolvidas em terrenos graniticos no semiárido de Pernambuco, Brasil. Localidade: Caruaru.   ( Foto de Mariana Lins, 2007)

Este texto foi utilizado como material didático em aulas da disciplina Análise  Climática, no curso de Ciências Ambientais da UFPE, Recife, Brasil