AS
ÁGUAS DE ABRIL
Lucivânio
Jatobá
Perto do final da madrugada de 22 de abril de 2014,
quando as pessoas se preparavam para voltar ao trabalho após um feriadão
prolongadíssimo, um evento de fortes chuvas
atingiu a Região Metropolitana do Recife, e particularmente a capital
pernambucana. Recife demonstrou, mais
uma vez, ser aquilo que Valdemar de Oliveira denominou de uma “cidade anfíbia”.
Mas o que aconteceu mesmo com a atmosfera sobre essa Região, provocando uma precipitação pluviométrica que superou ,
em poucas horas, a considerável cifra de
100mm? Algumas razões podem ser apontadas:
1-
O sábado, o domingo e a segunda-feira do feriadão tiveram uma
baixíssima nebulosidade na área do evento meteorológico. A insolação foi
bastante forte , o que implicou, obviamente, no aquecimento mais
significativo do oceano, nas suas águas superficiais. - Esse aquecimento , que ficou mais
forte à noite e em especial na madrugada, implicou no ascensão do ar, carregado
de muita umidade. Deu-se, portanto, a formação de uma
zona de instabilidade atmosférica com convergência e ascensão de ventos
úmidos. 2. Estavam soprando, na área, ventos de
sudeste provenientes de um centro de
altas pressões. Por outro lado, fluxos de ar com deslocamento até um pouco
anômalo de direção sudoeste, vindos da Amazônia e do Brasil Central,
convergiram para uma área de baixa pressão ( um cavado) que se instalou
sobre a parte oriental de Pernambuco e o Atlântico, numa faixa bem próxima do
Estado. 3- A partir do encontro desses dois fluxos
de ar distintos, a nebulosidade acentuou-se, com a formação de nuvens de
desenvolvimento vertical, indicadoras de instabilidade atmosférica. A
massa de nuvem expandiu-se com incrível rapidez. As chuvas ocorreram, então,
atingindo aproximadamente 100 mm, em pouco tempo.
Esse evento quase extremo de chuvas
de abril sobre a “cidade anfíbia” mostrou que os fatos da natureza encontram-se
dialeticamente em permanente relação e contradição, e que chegam a surpreender até os
especialistas em fatos físico-geográficos. Resta preparar-se para os outros episódios
pluviométricos singulares que ainda ocorrerão até julho deste ano.
Lucivânio Jatobá, professor
de Climatologia no Curso de Ciências Ambientais da UFPE
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