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sexta-feira, 20 de maio de 2016

AS ÁGUAS DE ABRIL



AS ÁGUAS DE ABRIL
Lucivânio Jatobá

            Perto do final da madrugada de 22 de abril de 2014, quando as pessoas se preparavam para voltar ao trabalho após um feriadão prolongadíssimo, um evento de fortes chuvas  atingiu a Região Metropolitana do Recife, e particularmente a capital pernambucana.  Recife demonstrou, mais uma vez, ser aquilo que Valdemar de Oliveira denominou de uma “cidade anfíbia”. Mas o que aconteceu mesmo com a atmosfera sobre essa Região,  provocando  uma precipitação pluviométrica que superou , em poucas horas, a  considerável cifra de 100mm? Algumas razões podem ser apontadas:
 1-      O sábado, o   domingo e a segunda-feira do feriadão tiveram uma baixíssima nebulosidade na área  do evento meteorológico. A insolação foi bastante forte , o que implicou, obviamente, no aquecimento mais significativo  do oceano, nas suas águas  superficiais.  -      Esse aquecimento , que ficou mais forte à noite e em especial na madrugada, implicou no ascensão do ar, carregado de muita  umidade.  Deu-se, portanto, a formação de uma zona de instabilidade atmosférica com convergência e ascensão  de ventos úmidos. 2.      Estavam soprando, na área, ventos de sudeste provenientes  de um centro de altas pressões. Por outro lado, fluxos de ar com deslocamento até um pouco anômalo  de direção sudoeste, vindos da Amazônia e do Brasil Central,  convergiram para uma área de baixa pressão ( um cavado) que se instalou sobre a parte oriental de Pernambuco e o Atlântico, numa faixa bem próxima do Estado. 3-     A partir do encontro desses dois fluxos de ar distintos, a nebulosidade acentuou-se, com a formação de nuvens de desenvolvimento vertical, indicadoras de instabilidade atmosférica. A massa de nuvem expandiu-se com incrível rapidez. As chuvas ocorreram, então, atingindo aproximadamente 100 mm, em pouco tempo.
            Esse evento quase extremo de chuvas de abril sobre a “cidade anfíbia”  mostrou que os fatos da natureza encontram-se dialeticamente em permanente relação e contradição,  e que chegam a surpreender até os especialistas em fatos físico-geográficos. Resta preparar-se para os outros episódios pluviométricos singulares que ainda ocorrerão até julho deste ano.
Lucivânio Jatobá, professor de Climatologia no Curso de Ciências Ambientais da UFPE

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