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sexta-feira, 25 de setembro de 2015

SENSORIAMENTO REMOTO E ANÁLISE AMBIENTAL

Título do Livro: " Sensoriamento Remoto e Análise Ambiental"

Livro organizado pela dra. Josicleda Galvíncio, professora do doutorado do PRODEMA-UFPE, aborda, didaticamente e com muita propriedade, métodos e técnicas de sensoriamento remoto aplicados à análise do meio ambiente. Numerosos exemplos práticos são examinados, facilitando consideravelmente a compreensão desse complexo assunto.
Publicado pela Editora da UFPE. ( Recife, Pernambuco, Brasil)




A GEOGRAFIA FÍSICA NOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL

A GEOGRAFIA FÍSICA NOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL


Lucivânio Jatobá[1]




A Geografia é uma ciência cuja conceituação apresenta um certo grau de complexidade, em face da situação epistemológica em que se encontra. Por se situar numa zona de interseção entre as geociências e as ciências sociais, a Geografia ora é radicalmente concebida como “ciência social”, ora como uma ciência da natureza. Esse caráter meio híbrido tem-se transformado num certo óbice ao avanço da educação geográfica no Brasil, com repercussões negativas sérias no processo ensino-aprendizagem dessa importante disciplina escolar.
Durante muitos anos, a Geografia ensinada ficava muito presa à memorização de fatos naturais e socioeconômicos. Saber dela era possuir a capacidade incomum de dizer altitudes dos lugares mais altos do planeta, profundidades das fossas abissais, densidade demográfica de São Paulo, produção de petróleo do Oriente Médio etc. Essa “Geografia” traumatizou muitas gerações de estudantes que não possuíam uma boa memória e passou a ser conhecida como “a ciência da decoreba”. Lamentavelmente, vários professores ainda insistem nessa Geografia superada, deixando de lado a Geografia mais ativa, de caráter prático-utilitário.
A Geografia, por razões fortemente didáticas, é dividida em Geografia Física e Geografia Humana e Econômica. Na verdade, como insistem os grandes teóricos dessa ciência, ela é uma só. Volta-se, em sua essência, à compreensão da dialética existente entre a Natureza e a Sociedade. Essa interação precisa ser analisada desde os anos iniciais do Ensino Fundamental, que constituem um momento muito rico da trajetória escolar do estudante. Nesse sentido, a formação do professor para atuar nesse nível de ensino deve contemplar a abordagem dessa dialética, enfatizando saberes que possam ajudar a compreensão, pelo aprendiz, da relação natureza-sociedade, a exemplo das noções de tempo e clima. As condições climáticas ambientais são um dos mais destacados elementos da Natureza. Exercem uma notável influência sobre as atividades humanas, particularmente,  a agricultura. Assim, é necessário que o professor, nas dimensões conceituais de Geografia, trabalhe exaustivamente esse tema com os seus alunos. Neste texto, de caráter didático, voltamo-nos à abordagem de alguns aspectos relacionados ao tema Clima, que poderão ser objeto de estudo, com o intuito de subsidiar o trabalho metodológico no ensino de Geografia nas séries  iniciais do nível fundamental. Não serão aqui examinados apenas fatos climáticos, como algo próprio da atmosfera terrestre, mas como fenômenos que exercem grande influência sobre a produção do espaço geográfico, objeto de estudo da Geografia.

  O tempo e o clima na vida da criança

Os conceitos de tempo e clima devem iniciar a abordagem dos conteúdos de climatologia nos anos iniciais da escolaridade. Os diversos canais de televisão, no Brasil, diariamente referem-se ao tempo, em matérias geralmente bem ilustradas com imagens de satélite, de fácil compreensão. A criança atual vem tendo contato permanente com essa informação geográfica fornecida pela mídia, o que não deixa de ser um certo “privilégio” que outras gerações não tiveram. Mas, o que é mesmo tempo meteorológico? Em que ele se diferencia de clima?
O tempo[2], não no sentido cronológico, mas meteorologicamente falando, significa o estado momentâneo da atmosfera sobre uma determinada região ou localidade. É algo que se caracteriza por uma permanente mudança. O tempo pode variar de uma hora para outra, de um dia para outro. Por exemplo, o dia pode começar com a pressão barométrica elevada, ventos calmos e ausência de chuvas. À tarde, entretanto, a pressão poderá cair, os ventos ficarem mais fortes e ocorrerem chuvas abundantes. Os apresentadores de televisão falam, diariamente, de tempo, porém, muitas vezes, cometem erros quando dizem “hoje o clima está chuvoso, mas no final de semana, na maior parte da região, o clima estará seco!”, uma vez que quem variou foi o tempo e não o clima.
O clima é algo mais permanente. Consiste no resultado de um certo “andamento habitual” do tempo verificado numa região ou localidade durante mais de 30 anos. O geógrafo Max Sorre , .  em seu livro clássico “Lês Fondements Biologiques de la Geographie Humaine”, assim definiu clima: “o ambiente atmosférico constituído pela série de estados da atmosfera que recobre um lugar em sua sucessão habitual.
O clima, levando-se em conta o fator escala, pode ser dividido em três níveis: local, regional e zonal. O clima local é aquele observado, por exemplo no topo de uma área serrana ou numa depressão, em espaços secos. O clima regional abrange áreas mais amplas que as do clima local. Por exemplo, o clima semi-árido observado no Estado da Paraíba é um clima regional. Já o clima percebido na serra úmida dentro desse semi-arido é um exemplo de clima local. O microclima não pode ser confundido com o clima local. Trata-se de um clima de áreas muito restritas e nem sempre bem percebido pelo aluno. O clima verificado próximo ao solo de uma floresta úmida diferencia-se do clima existente no topo das árvores; são microclimas distintos, no espaço dominado pelo clima regional ou local.
As principais dimensões conceituais que devem ser tratadas nesse tema poderiam ser assim sintetizadas:
a)      o clima exerce uma enorme influência sobre a vida dos seres vivos e particularmente dos seres humanos;
b)      o clima pode influenciar as nossas emoções;
c)      o tempo muda de uma hora para outra, o clima não;
d)     o clima reflete as condições do ar que envolve o planeta Terra. Entre essas condições, estão a temperatura do ar, a pressão atmosférica, os ventos e a umidade;
e)      o clima colabora para o desenvolvimento das atividades agrícolas ou as dificulta.

As crianças conseguem facilmente perceber as mudanças do tempo e os seus efeitos sobre a vida das pessoas. O uso de sombrinha, guarda-chuva e agasalhos está sempre associado a um tempo chuvoso e/ou frio. As crianças também sentem os dissabores de um dia em que há uma forte insolação e a temperatura do ar se eleva. Falta-lhes o conhecimento científico dos fatores e fenômenos envolvidos nessas situações atmosféricas adversas nas áreas em que vive. Essas mesmas crianças ainda percebem que, numa área rural, as chuvas podem representar algo muito importante para o plantio, especialmente numa região semi-árida. O professor tem, assim, a oportunidade de contar com a motivação das crianças para trabalhar objetiva e cientificamente o tema.




[1] Professor Adjunto do Departamento de Ciências Geográficas da UFPE.
[2] A palavra tempo é usada para designar cronologia, mas também aspecto meteorológico pontual. O inglês emprega a expressão “weather” para designar tempo meteorológico e “time”, para a questão cronológica.

CASCALHEIRA FLUVIAL

Fotografia  de uma cascalheira fluvial, identificada na Zona da Mata pernambucana ( Brasil).  Esse depósito sedimentar é uma evidência de um paleoclima mais seco, quaternário, que aconteceu na área, atualmente úmida.

RELEVO EM ESTRUTURA DOBRADA


Fotografia que mostra, nos Estados Unidos (EUA),  uma nitida morfoestrutura em terrenos dobrados. Observam-se a anticlinal e a sinclinal.
Morfoestrutura é uma forma de relevo determinada por aspectos da estrutura geológica.


domingo, 20 de setembro de 2015

FALHA INVERSA


Fonte da foto: https://www.facebook.com/Geologyistheway/photos/a.667101773342311.1073741837.665536646832157/979719372080548/?type=1&theater

sexta-feira, 18 de setembro de 2015

EROSÃO FLUVIAL EM LEITO ROCHOSO

EROSÃO FLUVIAL EM LEITO ROCHOSO: O CASO DA CACHOEIRA GRANDE – ALTINHO – PE.

Monografia de conclusão do Curso de Licenciatura em Geografia da FABEJA, em 2012. Os rios de leito aluvial já são bem estudados há tempos, mas os estudos sobre os rios de leito rochoso são recentes, partindo da década de 1990, e ainda não estão bem difundidos nos conhecimentos geomorfológicos. A área estudada refere-se a um trecho do rio Una, de regime intermitente por causa do clima semiárido (BShs’), no município de Altinho, Estado de Pernambuco. Objetivos – conhecer e analisar os processos de intemperismo atuantes na área; reconhecer e nomear as várias formas resultantes desses processos. Metodologia – realizou-se uma vasta pesquisa bibliográfica sobre rios de leito rochoso e condições naturais atuantes na região, e visitas ao campo para levantamento fotográfico e entendimento das características locais.

Prof. Orientador: Prof. Dr. Natalicio de Melo Rodrigues
Autoria: Laudenor Pereira da Silva

Para baixar o trabalho: http://www.cbg2014.agb.org.br/resources/anais/1/1404681426_ARQUIVO_AGBRESUMOEXPANDIDO.pdf

quarta-feira, 16 de setembro de 2015

Stability and adaptability of runner peanut genotypes based on nonlinear regression and AMMI analysis

Stability and adaptability of runner peanut genotypes based on nonlinear regression and AMMI analysis (Estabilidade e adaptabilidade de genótipos de amendoim rasteiro baseadas em regressão não linear e análise AMMI)
Adaptation to the semiarid environment is not always possible for all the plant species used for human consumption. With this problem and in search of an alternative to offering quality food that can also be a source of income for farmers in the semiarid region were tested some peanut materials in adverse environmental conditions. The results point to some genotypes more adapted to this environment and are options for semiarid production system.

Adaptação ao ambiente semiárido nem sempre é possível para todas as espécies vegetais usadas na alimentação humana. Diante desse problema e na busca de alternativa para ofertar alimento de qualidade que também possa ser fonte de renda para os agricultores da região semiárida, foram testados alguns materiais de amendoim em condições adversas. Os resultados apontam para alguns genótipos mais adaptados a esse ambiente e configuram alternativas para o sistema de produção do semiárido.

PRODUÇÃO E VALOR NUTRITIVO DA MANDIOCA...


Produção e valor nutritivo da parte aérea da mandioca, maniçoba e pornunça

Some vegetables species have better adapt than others to semiarid environment and soil. The choice of these species, mainly for animal feed, could promote conservation of native forests, offering good quality forage for animals, lower risk and cost to farmer of semiarid region.

Algumas espécies vegetais adaptam-se melhor do que outras ao ambiente e solo do semiárido. A escolha dessas espécies, principalmente para alimentação animal, pode favorecer a conservação das matas nativas, ofertando alimentação de boa qualidade para os animais com menor risco e custo para o agropecuarista da região semiarida.

GEOGRAFIA AGRÁRIA

500 perguntas e 500 respostas sobre fruticultura irrigada

The choice of best way for land management in an area, whether for vegetables or fruit, is critical to investment success . Some techniques are very important for many different types of crops and well employed could increase productivity and preserve environmental health.

A escolha da forma de manejo do solo em uma área, seja ela para o plantio de hortaliças ou de frutas, será algo decisivo para o sucesso do investimento. Algumas técnicas são importantes para diversos tipos de cultivos e se bem empregadas poderão aumentar produtividade e preservar a saúde ambiental.

segunda-feira, 14 de setembro de 2015

A ESTRUTURAÇÃO SUBSUPERFICIAL DE PAISAGENS

O corte de  estradas permite uma análise importantíssima da estruturação subsuperficial de paisagens continentais. A reconstituição paleoambiental é possível  mediante a análise do embasamento e das formações superficiais.
Na fotografia a seguir, de um trecho da cidade de Cachoeiro de Itapemirim, no Estado do Espírito Santo, Brasil, esse fato fica  didaticamente exposto. E´possível ver o embasamento cristalino migmatizado, dobrado, o elúvio e o colúvio.


SOBRE O GEÓGRAFO MANOEL CORREIA

O DISFARCE DA GLOBALIZAÇÃO, SEGUNDO MANOEL CORREIA DE ANDRADE

Título do capítulo de um importante livro do IPEA. Manuel Correia  foi um dos mais destacados geógrafos brasileiros.
Eis o link: https://www.ipea.gov.br/agencia/images/stories/PDFs/livros/livros/livro_brasildemocratico.pdf#page=100

domingo, 13 de setembro de 2015

NEOTECTÔNICA E MORFOTECTÔNICA


ESTUDOS DAS PAISAGENS- GEOMORFOLOGIA
Excelente aula do prof.  Eduardo Salamuni

Para acessá-la: http://www.geologia.ufpr.br/graduacao2/neotectonica/aula3.pdf

Cultivo da Mandioca para a Região Semi-Árida

Cultivo da Mandioca para a Região Semi-Árida
 
 
Como o principal produto da mandioca são as raízes, ela necessita de solos profundos e friáveis (soltos), sendo ideais os solos arenosos ou de textura média, por possibilitarem um fácil crescimento das raízes, pela boa drenagem e pela facilidade de colheita. Os solos argilosos devem ser evitados, pois são mais compactos, dificultando o crescimento das raízes, apresentam maior risco de encharcamento e de apodrecimento das raízes e dificultam a colheita, principalmente se ela coincide com a época seca. Os terrenos de baixada, com topografia plana e sujeitos a encharcamentos periódicos, são também inadequados para o cultivo da mandioca, por provocarem um pequeno desenvolvimento das plantas e o apodrecimento das raízes. É importante observar o solo em profundidade, pois a presença de uma camada argilosa ou compactada imediatamente abaixo da camada arável pode limitar o crescimento das raízes, além de prejudicar a drenagem e a aeração do solo.
 
Para acessar o artigo completo:   http://sistemasdeproducao.cnptia.embrapa.br/FontesHTML/Mandioca/mandioca_semiarido/solos.htm

Alternativas de insumos para manejo em sistemas agrícolas de base ecológica

Considerado o maior e mais dinâmico pólo de fruticultura irrigada do Brasil, o Pólo
Petrolina, PE /Juazeiro, BA, localizado na Zona Semi-Árida do Nordeste brasileiro, no
Submédio São Francisco, é formado pelos municípios Petrolina, Lagoa Grande, Santa
Maria da Boa Vista e Orocó, em Pernambuco; Juazeiro, Sobradinho, Casa Nova e
Curaçá, na Bahia (Figura 1).
Este importante pólo tem apresentado acelerado crescimento da produção agrícola, com
aproximadamente 100.000 ha irrigados, entre projetos públicos e privados, de um
potencial de cerca de 220.000 hectares. A fruticultura irrigada é  a sua principal atividade econômica, com a manga e a uva constituindo as culturas mais exploradas. Outras espécies são também exploradas com sucesso, como banana, coco, goiaba e frutas cítricas. A produção de grãos e culturas de ciclo curto é explorada para o mercado consumidor interno, a exemplo do feijão, milho, melão, cebola, melancia e abóbora, entre outras

Para acessar o artigo completo:  http://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/CNPS-2009-09/14003/1/circtec40_2008alternativa_insumos.pdf

A ABORDAGEM INTERDISCIPLINAR DO TEMA O DOMÍNIO MORFOCLIMÁTICO DOS "MARES DE MORROS" EM PERNAMBUCO

A ABORDAGEM INTERDISCIPLINAR DO TEMA O DOMÍNIO MORFOCLIMÁTICO DOS "MARES DE MORROS" EM PERNAMBUCO
 
Lucivânio JATOBÁ
Professor Adjunto do DCG/UFPE.  Curso de Ciências Ambientais
http://lattes.cnpq.br/5047968131675220
E-mail: luciobr2@yahoo.com.br
 
Alineaurea Florentino SILVA
Pesquisadora da Embrapa Semiárido
Doutoranda em Desenvolvimento e Meio Ambiente.
PRODEMA/UFPB.
http://lattes.cnpq.br/7810302436995638
E-mail: alineaurea.silva@embrapa.br ou alineaurea2012@hotmail.com

Ana Lucia Luiza GOMES
Graduanda do Curso Licenciatura em Geografia da UFPE.
http://lattes.cnpq.br/4586169575989486
E-mail: ana07luh@hotmail.com

Resumo
O Domínio dos “Mares de Morros” em Pernambuco ocupa a parte oriental do Estado e encontra-se amplamente utilizado por atividades agrícolas, desempenhando um papel de destaque na economia regional. Neste trabalho são feitas algumas considerações sobre a gênese do relevo desse domínio, a compartimentação dos solos e a identificação de geossistemas. As colinas da Zona da Mata pernambucana são entendidas como uma resposta a processos geomorfológicos que variaram no tempo e no espaço e as diferenças litológicas locais. O domínio investigado possui uma grande variedade de solos que são uma resposta às interferências climáticas, litológicas e geomorfológicas. Os solos dessas áreas possuem sua diversidade relacionada aos componentes litológicos e ao fator climático, formando, na sua maioria, Argissolos, Latossolos, Luvissolos, NeossolosQuartzarênicos e Gleissolos. O relevo estruturado pelo processo que forma o “Mar de Morros” torna-se uma vantagem quando impede problemas de drenagem e permite uma agricultura mais racional, mesmo que para isso, em alguns casos, seja necessário investimento em insumos e serviços para permitir a atividade agrícola e a produção na entressafra, mais vantajosas financeiramente.
Palavras-chave: Mamelonização. Pedologia. Colinas da Zona da Mata. Uso do solo.

Para baixar o artigo completo:

A OSCILAÇÃO SEMI-ANUAL E SUA VARIABILIDADE INTERANUAL



A OSCILAÇÃO SEMI-ANUAL E SUA VARIABILIDADE INTERANUAL

Andréa S. Taschetto e Ilana Wainer(1)


ABSTRACT
The Semi-Annual Oscillation (SAO) in the sea level pressure over the Southern Ocean is examined in this study, using the National Centers for Environmental Prediction - National Center for Atmospheric Research (NCEP/NCAR) Reanalysis Data Set. In order to characterize its annual mean behavior as well as its interannual to decadal variability, the methodology consists of climatology, harmonic analysis and Multi-Taper Method (MTM) and wavelet power spectra. The results obtained here can be considered as an update of the earlier studies of van Loon and collaborators, since the analysis was extended for the last decade (December/2003). Harmonic analysis applied for three different periods (1968 to 1978, 1979 to 1990 and, 1991 to 2003) shows that the SAO has weakened at mid southern latitudes since 1980. This weakening, however, occurs over the Pacific and Indian oceans, but it cannot be seen over the Atlantic sector. The SAO variability reveals significant energy associated with a 4 year approximately, which suggests the influence of El Niño - Southern Oscillation. Further investigations are being done in order to investigate the physical mechanisms responsible for the maintenance of the SAO over the Atlantic Ocean and its weakening over the Pacific and Indian sectors.


RESUMO
A Oscilação Semi-Anual (SAO – Semi-Annual Oscillation) na pressão atmosférica ao nível do mar sobre o oceano Austral é investigada nesse trabalho, usando dos dados da Reanálise do National Centers for Environmental Prediction - National Center for Atmospheric Research (NCEP/NCAR). Visando caracterizar seu comportamento médio anual e examinar sua variabilidade interanual a decadal. A metodologia consistiu de climatologia, análise harmônica e espectros de potência de Multi-Taper Method (MTM) e de ondaleta. Os resultados desse estudo podem ser considerados como uma atualização dos trabalhos de van Loon e colaboradores, uma vez que a análise foi estendida para a última década (até dezembro/2003). A análise harmônica aplicada a três diferentes períodos (1968 a 1978, 1979 a 1990 e, 1991 a 2003) mostra enfraquecimento da SAO nas médias latitudes do Hemisfério Sul a partir de 1980, aproximadamente. Esse enfraquecimento, contudo, ocorre sobre os oceanos Pacífico e Índico, mas não é visto no setor do Atlântico. A variabilidade da SAO mostra energia significativa associada ao período de aproximadamente 4 anos, sugerindo a influência do fenômeno El Nino – Oscilação Sul. Outras investigações estão em andamento para esclarecer os mecanismos físicos responsáveis pela manutenção da SAO no Atlântico e seu enfraquecimento no Pacífico e Índico.


INTRODUÇÃO
O Oceano Austral é extremamente importante do ponto de vista climático, pois é peça chave na troca de calor e massa entre as demais bacias oceânicas através da Corrente Circumpolar Antártica. Essa conexão circumpolar única permite a existência de uma circulação de escala global.
O Oceano Austral é caracterizado por intensos gradientes meridionais de temperatura devido primeiramente à distribuição de radiação solar incidente nas latitudes mais altas. A pressão atmosférica ao nível do mar (PNM) apresenta valores decrescentes na direção polar a partir das Altas Subtropicais de cada oceano até atingir uma banda de baixa pressão ao redor do continente Antártico (figuras 1 e 2). O cavado da baixa é mais intenso em março e setembro e desloca-se para sul nessa época do ano. Em junho e dezembro o cavado expande-se, enfraquecendo-se e posicionando-se mais ao norte (figura 1b e 1d). Associado à intensidade intra-sazonal e ao movimento latitudinal dessa banda de PNM mínima estão as mudanças das trajetórias e intensidade dos ciclones. Flutuações do cavado circumpolar são, portanto, indicativos de mudanças na atividade ciclônica, com efeito da pressão sobre extensas áreas (do pólo até 35°S) do Hemisfério Sul. Esse comportamento sazonal da pressão é a principal componente da variabilidade climática do oceano Austral e é denominada de Oscilação Semi-Anual (SAO – Semi-Annual Oscillation).

A SAO

A SAO é caracterizada pela expansão e contração da pressão atmosférica nas latitudes médias e altas do Hemisfério Sul duas vezes ao ano (nos equinócios), e foi um sinal dominante no ciclo anual antes de 1979. O mecanismo, primeiramente proposto por Van Loon (1967), é gerado pela existência do continente polar ao sul de 65°S rodeado pelo oceano nas médias latitudes, e a conseqüente diferença do ciclo anual da temperatura (figura 3), mais visível na média troposfera, nessas duas latitudes. Sobre o oceano próximo a 50°S o resfriamento no outono é mais rápido que o aquecimento na primavera, enquanto o inverso é verdadeiro para a latitude de 65°S. Essa diferença resulta num marcado segundo harmônico do gradiente de temperatura meridional entre 50°S e 65°S que por sua vez modula os ciclos anuais da pressão e do vento.
Figura 1. Climatologia da PNM sobre o Oceano Austral, entre as latitudes de 50ºS e 90ºS, nos meses de (a) março, (b) junho, (c) setembro e (d) dezembro. Isóbaras variando de 2mb, entre 980mb e 1010mb, dos tons frios para os quentes, respectivamente. Baseado nos dados da Reanálise NCEP/NCAR.


Figura 2. Climatologia da média zonal da PNM sobre todas as longitudes. Latitudes de 45ºS a 80ºS. Isóbaras variando de 2mb, entre 982mb e 1014mb. Baseado nos dados da Reanálise NCEP/NCAR.


Figura 3. Climatologia da média zonal da temperatura em 500mb nas latitudes de 50ºS (linha sólida) e de 65ºS (linha tracejada). Unidades em graus Celsius. Baseado nos dados da Reanálise NCEP/NCAR. Fonte: van Loon (1967).

A curva da temperatura na latitude de 65°S é defasada em relação à de 50°S devido aos contrastes das propriedades entre o oceano e o continente nessas latitudes. As diferenças entre as duas curvas não param por aí: a curva climatológica da temperatura em 65°S apresenta uma taxa de resfriamento mais lenta do que a de 50°S (figura 3).  Isso, porque em algumas regiões da Antártida o inverno não é bem definido e a temperatura nessa estação acaba não atingindo um mínimo. No início do inverno, o cavado se move para o norte diminuindo a PNM em 50ºS. Ao mesmo tempo a pressão aumenta sobre os três continentes, intensificando, portanto, o gradiente de pressão longitudinal entre os continentes e os oceanos adjacentes. Isto resulta numa amplificação da circulação meridional, e faz com que ocorra advecção de ar quente do cavado para as latitudes mais altas. Essa advecção meridional de larga escala de ar relativamente mais quente para o continente antártico não somente aumenta o fornecimento de calor convectivo, mas também reduz a saída da radiação de onda longa líquida devido às camadas de nuvens que se estendem pelo continente adentro. Por tal motivo a curva climatológica de temperatura acaba não tendo um mínimo definido no inverno. Meehl (1991) apresenta uma revisão completa sobre os mecanismos responsáveis pela SAO.

O Enfraquecimento da SAO
Antes de 1979, a SAO explicava mais de 50% da variância anual da PNM sobre vastas áreas oceânicas das médias e altas latitudes do Hemisfério Sul (van Loon, 1967). Após esse período, a amplitude da SAO decresceu drasticamente, como descrito em vários trabalhos (van Loon and Rogers, 1984; van Loon et al., 1993; Hurrel and van Loon, 1994; Meehl et al., 1998). A partir dessa descoberta, a variabilidade de longo termo da SAO tem sido objeto crescente de estudo. Alguns estudos verificaram relações entre a temperatura da superfície do mar (TSM) e a circulação atmosférica nas altas latitudes do Hemisfério Sul, tais como Zhang et al. (1997), Garreaud and Battisti (1999) e Mo (2000). Outros estudos verificaram relação entre o ENOS (El Nino - Oscilação Sul) e a SAO (Meehl, 1988; Hurrel and van Loon, 1994). Meehl et al. (1998), por exemplo, atribui o enfraquecimento da SAO à mudança no ciclo  anual da temperatura na superfície das médias latitudes. Os mecanismos pelo qual esse aquecimento teria ocorrido ainda são incertos.
Este estudo tem por objetivo investigar o comportamento da SAO e esclarecer alguns aspectos de sua variabilidade e de seu enfraquecimento.


MATERIAIS E MÉTODOS
O trabalho foi baseado nos dados mensais de PNM da Reanálise do National Centre for Environmental Prediction (NCEP) - National Center for Atmospheric Research (NCAR) Reanalysis (Kalnay et al., 1996). Os dados da Reanálise do NCEP/NCAR são dispostos numa grade global de 2,5º de latitude x 2,5º de longitude. Uma revisão mais recente desses dados pode ser encontrada em Kistler et al. (2000).
Vários erros têm sido encontrados nos campos de PNM da Renálise do NCEP/NCAR, particularmente nas tendências sobre o Oceano Austral e continente antártico. Contudo, essa é exatamente a região de interesse desse estudo, uma vez que a posição média do cavado circumpolar antártico localiza-se em aproximadamente 65ºS. Para eliminar possíveis erros e incertezas nesses dados, consideramos sempre a média zonal da PNM sobre todas longitudes, quando se trata de analisar uma série temporal. Em algumas análises, desconsideramos os 20 primeiros anos da série temporal que parecem conter mais incertezas, segundo Hines et al. (2001), devido a baixa quantidade de estações meteorológicas incorporadas à Reanálise antes de 1968. Além disso, a tendência de longo termo foi removida dos dados, como sugerido em Hines et al. (2001), através da subtração de uma média móvel de 10 anos aplicada à série de PNM. 
A metodologia desse trabalho consiste em análise harmônica para examinar o ciclo sazonal da PNM, bem como caracterizar o comportamento médio da SAO, com atenção especial às latitudes de 50ºS e 65ºS. A análise harmônica ou análise de Fourier tem como objetivo básico a aproximação de uma função f(t) por uma combinação linear de componentes senoidais, cada uma com dada freqüência. O conjunto wn(t)=eint; n=0,±1,... de funções ortogonais periódicas, de período 2p, de quadrado integrável, forma a base para a análise de Fourier. Dada uma função periódica, de período T e de quadrado integrável, pode-se expressar a equação como:
  ,
onde ln=2p/T são as freqüências de Fourier e os coeficientes de an e bn são dados por:
    ,           n³0
     ,           n³1.
O harmônico de f(t) para n=1 é chamado fundamental e corresponde a uma onda cosseno (seno) de período igual ao de f(t); para n=2 temos o primeiro harmônico, de período igual à metade de f(t), e assim sucessivamente. A amplitude Rn e fase fn podem ser escritas, respectivamente, como  e ,            n=0,1,2,...
Como intuito de analisar a variabilidade interanual da SAO, as médias sazonais para todo o registro foram removidas, definindo, assim, uma série temporal de anomalias. Utilizou-se o SSA-MTM Toolkit (Singular Spectrum Analysis – Multi-Taper Method) e análise de ondaleta para calcular espectros de potência.
A técnica de MTM (Ghil, 1997) visa reduzir a variância da estimativa espectral  através da multiplicação da série temporal por uma janela antes de aplicar a transformada de Fourier discreta. Pequenos conjuntos de funções ortogonais (denominada “tapers”) são usados para multiplicar a série temporal, ao invés de um único “taper”. O resultado é um conjunto de estimativas espectrais independentes que produzem um espectro final baseado num “ensemble” médio. Uma descrição detalhada sobre o método pode ser encontrada em Percival and Waden (1993). A vantagem desse método é conseguir separa oscilações periódicas determinísticas de flutuações aperiódicas e randômicas associadas a ruído de fundo ou erros instrumentais nas séries temporais.
A análise de ondaleta permite decompor a série temporal de anomalias no espaço de tempo/freqüência simultaneamente. A principal vantagem desse método é que é possível extrair a amplitude de qualquer sinal periódico dentro da série e mostrá-la como essa amplitude varia no tempo. Em outras palavras, esse método pode analisar séries temporais com energia não-estacionária em muitas freqüências diferentes. A ondaleta de Morlet foi utilizada nesse estudo (Torrence and Compo, 1998). A ondaleta de Morlet é uma exponencial complexa modulada por uma Gaussiana, isto é,  , onde t é o tempo, s é a escala da ondaleta, e w0 é  a freqüência adimensional, considerada 6 para satisfazer a condição de admissibilidade (média zero e energia localizada no espaço do tempo e freqüência). Para testar a significância dos picos, um espectro de fundo de Fourier foi escolhido como descrito em Torrence and Compo (1998).


RESULTADOS

Essa seção é dividida em duas partes: a primeira caracteriza a SAO através da climatologia da PNM e da análise harmônica, enquanto que a segunda investiga a variabilidade da SAO com a análise espectral MTM e de ondaleta.

A análise harmônica
            A figura 4 mostra a média zonal da amplitude e porcentagem da variância total explicada pelo primeiro e segundo harmônicos quando a climatologia da PNM é decomposta nos primeiros dois harmônicos. Observa-se que a amplitude do segundo harmônico (linha tracejada) da climatologia de PNM é maior que a do primeiro harmônico (linha sólida) entre as latitudes aproximadas de 62ºS a 72ºS (figura 4, à esquerda). Essa região latitudinal é a única no globo (não apresentada) onde a amplitude do segundo harmônico ultrapassa a do primeiro, o que indica a importância da SAO. A figura 4, à direita, mostra que a porcentagem da variância total explicada pelo segundo harmônico é maior que a do segundo entre a banda latitudinal de  46º a 49ºS e 61ºS a 73ºS, devido à contração/expansão e fortalecimento/enfraquecimento do cavado cirumpolar antártico que ocorre duas vezes ao ano.


 
Figura 4. Variação latitudinal da amplitude (à esquerda) e porcentagem da variância total explicada (à direita) pelos primeiro (linha sólida) e segundo (linha tracejada) harmônicos. Eixo horizontal: latitudes de 45ºS a 90ºS. Eixos verticais: amplitudes entre 1e 3,6mb e 20 a 65%. Unidades em mbar e %, respectivamente.

A figura 5a mostra a evolução latitude vs. tempo do segundo harmônico da média zonal da PNM para cada ano. O diagrama é semelhante ao apresentado por van Loon et al. (1993) que utilizou os dados de PNM do Australian Bureau of Meteorology, cobrindo o período de 1974 a 1988. A diferença da figura 5a em relação ao diagrama de van Loon et al. (1993) é que a análise é feita com a série da Reanálise tendo início em janeiro/1968 e término em dezembro/2003, ou seja, inclui mais 20 anos de dados e, portanto, pode ser considerada uma atualização do trabalho de van Loon et al. (1993) nesse aspecto. A figura 5a revela amplitudes maiores nas latitudes mais altas, alcançando 5mbar em aproximadamente 67ºS em 1975 e 1982, enquanto que em 50ºS, as amplitudes variam entre 1 e 3hPa. Uma importante característica da figura 5a é a amplitude mínima situada entre 55ºS e 60ºS, onde há reversão de fase. Os ciclos anuais da PNM, fora de fase, em 50ºS (figura 6a) e 65ºS (figura 6b) confirmam esse comportamento (veja linha sólida espessa).
A figura 5b mostra as séries temporais da amplitude e variância explicada do segundo harmônico para as latitudes de 50ºS e 65ºS. Observa-se que, normalmente quando a amplitude é alta, a porcentagem da variância explicada também é alta (ultrapassando 75% da variância total), o que ressalta a importância do segundo harmônico em relação ao primeiro (não mostrado) em muitos períodos da série temporal nessas duas latitudes.
A principal característica da figura 5a, contudo, é o evidente enfraquecimento do segundo harmônico após 1980, aproximadamente, que concorda com os estudos anteriores de van Loon et al. (1993) e Hurrel and van Loon (1994). Essa variabilidade decadal pode ser vista nos ciclos anuais da PNM zonal média (figura 6) em 50ºS, 65ºS e da diferença entre essas latitudes, para três diferentes períodos: 1968-1978 (linha tracejada), 1979-1990 (linha tracejada e pontilhada) e 1991-2003 (linha sólida). Os períodos supra citados, com 10, 11 e 12, respectivamente, foram escolhidos de acordo com o comportamento da SAO, isto é, o primeiro período refere-se à maior intensidade da SAO, o segundo envolve o enfraquecimento ocorrido após 1979 (segundo a literatura), e o terceiro investiga seu comportamento na última década.
O ciclo anual da PNM zonal, levando em consideração todo o período dos dados (linha sólida espessa), mostra que em 50ºS (figura 6a), o primeiro máximo, associado a 1006,6hPa, ocorre em março enquanto que o segundo máximo, associado a 1005,8hPa, aparece em agosto. Já em 65ºS (figura 6b), o ciclo anual tem um mínimo em março (986,9hPa) e outro em outubro (984,8hPa). Nota-se que o ciclo anual em 65ºS não sofre enfraquecimento significativo. Segundo van Loon et al. (1993), a diminuição do segundo harmônico é evidente nas médias latitudes, mas não em 65ºS. A figura 6a revela que essas mudanças são realmente mais salientes em 50ºS. Durante o primeiro período decadal (linha tracejada), o ciclo anual em 50ºS revela um forte segundo harmônico. As décadas seguintes são marcadas pela redução da amplitude do segundo pico, que está associado ao enfraquecimento do segundo harmônico. O ciclo da PNM nas médias latitudes, em particular, mostra um aumento do terceiro harmônico para o período de 1979-1990 (linha tracejada e pontilhada), devido ao aparecimento de dois máximos na segunda parte do ano, um em agosto e outro em novembro.
A figura 6c mostra o ciclo anual da diferença da PNM entre as latitudes de 65ºS e 50ºS.  van Loon (1967) considerava a diferença das temperaturas zonais médias a 500mb ou da PNM entre essas latitudes como um índice associado com a intensidade do fenômeno. O deslocamento temporal da PNM entre as médias e altas latitudes do Hemisfério Sul resulta em proeminentes picos na diferença, que ocorrem em março e outubro associados com 19,5hPa aproximadamente. Na década de 90, o ciclo anual revela um pico em setembro, por causa do comportamento semelhante da PNM em 65ºS.

Figura 5. Acima: (a) Amplitude do segundo harmônico para cada ano da PNM média zonal de 1968 a 2003. As áreas sombreadas indicam, valores mais que 40% da variância total explicada pelo segundo harmônico. Intervalos dos contornos de 1hPa e 10%, respectivamente. Abaixo: Séries temporais da amplitude (linha tracejada) e porcentagem da variância explicada (linha sólida) do segundo harmônico, extraídas de (a), para as latitudes de 50ºS (b) e de 65ºS (c). Unidades de hPa e %, respectivamente.


Figura 6. Ciclo anual da PNM média zonal em: (a) 50ºS, (b) 65ºS e (c) a diferença entre essas duas latitudes; para a média sobre os períodos de 1968-1978 (linha tracejada); 1979-1990 (linha tracejada e pontilhada); e, 1991-2003 (linha sólida). A linha sólida espessa representa a média da PNM zonal média sobre o período inteiro (1968-2003). Unidades em hPa.

As mudanças da SAO verificadas até o momento referem-se às séries temporais da média zonal da PNM sobre todas as longitudes. Entretanto, quando analisada espacialmente, a PNM revela comportamento distinto sobre as bacias oceânicas. O enfraquecimento da SAO não ocorre homogeneamente para todas as longitudes. A amplitude e variância explicada do segundo harmônico,dispostas na projeção polar do Hemisfério Sul para as diferentes décadas na figura 7a, mostra que, antes de 1979, a SAO era bastante intensa sobre as três bacias oceânicas nas médias latitudes e em torno do continente antártico. Esse comportamento é condizente com o diagrama exposto na figura 4. A década seguinte (figura 7b) é caracterizada por uma redução significativa no sinal da SAO nas médias latitudes, em especial nos setores do Pacífico e Índico, e ao redor da Península Antártica. A diminuição do segundo harmônico ao redor da Península Antártica, contudo, não é forte o suficiente para influenciar um enfraquecimento da PNM na média zonal da latitude de 65ºS. Esses resultados são consistentes com os de van Loon and Rogers (1984) e van Loon et al. (1993). A última década (figura 7c) revela a persistência desse enfraquecimento nas médias latitudes do Pacífico e Índico, mas não mostra mudanças no comportamento da SAO sobre o setor do Atlântico. A figura 7, portanto, mostra que, embora a SAO tenha enfraquecido nas médias latitudes dos oceanos Pacífico e Índico, o mesmo não ocorre para a bacia atlântica.

Figura 7. À esquerda: Amplitude do segundo harmônico para a média dos períodos de: (a) 1968 a 1978, (b) 1979 a 1990, (c) 1991 a 2003. As áreas sombreadas indicam valores maiores que 40% da variância explicada. Os intervalo dos contornos são de 0,5hPa e 20%, respectivamente. À direita: Ciclo anual da PNM em 50ºS para três regiões oceânicas: (d) Pacífico (180ºW-225ºW); (e) Atlântico (55ºW-0ºE); e, (f) Índico (45ºE-110ºE). Linha tracejada: 1968-1978; linha tracejada e pontilhada: 1979-1990; linha sólida: 1991-2003.


As figuras 7e a 7f esclarecem o comportamento das figuras 7a a 7c através dos ciclos anuais médios da PNM  para cada período, na latitude de 50ºS sobre as seguintes áreas oceânicas: Pacífico (180ºW-225ºW, painel superior), Atlântico (55ºW-0ºE, painel do meio) e Índico (45ºE-110ºE, painel inferior). A SAO durante o período de 1968-1978 (linha tracejada) é bem definida sobre as três bacias oceânicas. As décadas seguintes revelam a redução da amplitude do segundo pico, exceto sobre o oceano Atlântico (figura 7e), onde a SAO não sofre mudanças tão intensas.
Uma vez que grande parte da variabilidade do Pacífico e Índico estão relacionadas com o ENOS, acredita-se que esses fenômenos de escala global possam estar relacionados ao enfraquecimento da SAO sobre as médias latitudes desses dois oceanos. Diferentemente desses oceanos, o Atlântico Sul parece ter um papel fundamental na ocorrência e manutenção da SAO, uma vez que este fenômeno ainda ocorre fortemente nas médias latitudes dessa bacia.

As análises espectrais
            Com o intuito de examinar a variabilidade da SAO, a figura 8 apresenta o espectro de MTM da série de anomalias da média zonal da PNM em 50ºS, 65ºS, da sua diferença e da posição média zonal do cavado circumpolar antártico. Os quatros espectros de potência apresentam pico associado ao período de 4 anos (em torno de 0,020 ciclos/mês), todos significativos a 95%. O pico de energia de 4 anos em 50ºS (figura 8a) ocorre com alguns meses de defasagem em relação ao pico em 65ºS (figura 8b, em torno de 0,021 ciclos/mês). Essa diferença de fase (aproximadamente 5 meses) entre essas duas latitudes resulta num pronunciado pico harmônico de 4 anos na série da diferença entre essas duas latitudes (figura 8c), ressaltando o fenômeno. Sendo 4 anos a variabilidade típica do ENOS, acredita-se a energia encontrada nos espectros de potência possa estar associada a esse fenômeno. Acredita-se que a defasagem de alguns meses entre as latitudes de 50ºS e 65ºS seja grande o suficiente para descartar a hipótese de teleconexão atmosférica e para sugerir um possível transporte de anomalias de temperatura através do oceano.
            O espectro de potência da série de anomalias da posição média zonal do cavado circumpolar antártico é apresentado na figura 8d. A contração/expansão e fortalecimento/enfraquecimento do cavado circumpolar antártico modulam sua posição, que possui um papel essencial em determinar a ocorrência da SAO. A posição da média zonal do cavado é de 65,7ºS e está representada nas figuras 7a a 7c por uma linha sólida ao redor do continente antártico. A análise espectral da posição do cavado revela o mesmo período de variabilidade de 4 anos. Meehl (1991) mencionou a importância do ENSO e das Monções Asiáticas nas mudanças do cavado circumpolar. Van Loon et al. (1993) notou uma mudança na posição do cavado de 1972 a 1988 nos dados de estações meteorológicas da Austrália. Os autores descrevem um movimento para norte do cavado e um movimento para sul da alta subtropical, que enfraqueceu a onda semianual nas médias latitudes, em especial no Pacífico Sul. Uma vez que a posição do cavado está diretamente relacionada a SAO, acredita-se que o ENOS tenha certa influência na variabilidade da SAO.



A   B
C   D
Figura 8. Espectro de MTM para as séries temporais das anomalias da média zonal da PNM em (a) 50ºS, (b) 65ºS, (c) sua diferença, e (d) da posição média zonal do cavado circumpolar antártico. O pico quadrado em (c) é resultado de análise harmônica. Eixo horizontal: freqüências menores que 0,06 ciclos/mês.

            A análise de ondaleta foi aplicada com o intuito de verificar como esses sinais interanuais variam na amplitude e freqüência ao longo da série temporal. A figura 9 apresenta os espectros de ondaleta para as séries temporais de anomalias da PNM média zonal em 50ºS, 65ºS, sua diferença e, ainda, considerando apenas os meses de primavera (setembro-outubro-novembro, SON) da série temporal em 50ºS. A decisão de levar em conta apenas esses referidos três meses se deve ao fato do enfraquecimento da SAO nas médias latitudes estar relacionado com a diminuição do segundo máximo da PNM, que ocorre nessa estação do ano. Os contornos espessos envolvem regiões com 95% de confiança.
            O espectro de ondaleta para 50ºS (figura 9a) mostra energias entre 1-2 anos e em 4 anos, sendo significativa de 1963 a 1969 e 1974 a 1982. A energia de 2-4 anos decresce a partir de 1982, aproximadamente. A figura 9b mostra que a PNM em 65ºS tem alta variância de 1974 a 1982 e 1990 a 1999 associadas ao período de 4 anos. Além disso, é possível notar energias significativas em 1-2 anos ao longo da série (figura 9b). O espectro de ondaleta para a diferença entre essas latitudes também revela energia significativa em 4 anos, em particular de 1960 a 1971 e 1977 a 1983, conforme visto na figura 9c. Esses resultados encontrados nas figuras 9a a 9c confirmam os obtidos através da análise espectral de MTM. A figura 9d mostra que as mudanças na amplitude do segundo pico da PNM nas médias latitudes possam estar associadas a um fenômeno global com período de 6-10 anos, conforme mostra a saliente energia espectral significativa entre 1965 a 1992.
Figura 9. Espectro de ondaleta das séries temporais das anomalias da média zonal da PNM em (a) 50ºS, (b) 65ºS, (c) sua diferença, e (d) da série das anomalias da média zonal da PNM considerando apenas os meses de SNO, quando ocorrem as mudanças sazonais da SAO. Os contornos espessos envolvem regiões significativas a 95%.


DISCUSSÕES E CONCLUSÕES
Esse trabalho caracteriza o comportamento climatológico da PNM no Hemisfério Sul, em particular nas latitudes de 50ºS e 65ºS, com atenção especial ao fenômeno da Oscilação Semi-Anual. Esse estudo também investiga a variabilidade da SAO e ainda expande os trabalhos de van Loon and Rogers (1984), van Loon et al. (1993) e Hurrel and van Loon (1994), entre outros, através da extensão do comportamento da SAO sobre a última década. Para tanto, fez-se uso dos dados de PNM da Reanálise do NCEP/NCAR.
O enfraquecimento da SAO pode ser visto na análise harmônica da média zonal da PNM nos últimos anos. Entretanto, essa mudança é clara sobre as médias latitudes dos oceanos Pacífico e Índico, mas de forma alguma pode ser considerada presente sobre o setor do Atlântico, onde a SAO ainda é forte e presente. Diferentemente dos outros oceanos, o Atlântico Sul parece exercer um papel fundamental na manutenção da SAO.
Os resultados das análises espectrais, tanto com a técnica de MTM, quanto com a de ondaleta, mostram variabilidade interanual significativa nas séries temporais de anomalias da média zonal da PNM nas latitudes de 50ºS, 65ºS, sua diferença e na da posição média do cavado circumpolar antártico, todas associadas ao período de 4 anos. A série de anomalias da média zonal da PNM dos meses de SON em 50ºS revela alta variância de 1965 a 1992 associada com o período de 6-10 anos.
Os resultados obtidos com esse estudo indicam uma possível relação do ENOS com a variabilidade da SAO. Uma vez que a SAO é um fenômeno de interação oceano-atmosfera e dependente do balanço de calor oceânico, seu enfraquecimento poderia estar relacionado a uma possível mudança na quantidade de calor armazenada no oceano durante os eventos quentes do Pacífico, que mudaria o ciclo anual de temperatura, alterando, conseqüentemente, o ciclo anual da PNM. Os mecanismos responsáveis por tais relações, bem como a importância do Atlântico Sul na existência da SAO, são objetos de estudo futuros.


AGRADECIMENTOS
Este trabalho contou com o auxílio da FAPESP 00/02958-7, FAPESP 02/01211-0, CNPq 300040/94-6, CNPQ-MMA/550363/02-5 e Inter-American Institute for Global Change Research (IAI). Agradecemos também ao Reindert Haarsma, Harry van Loon e Gerald A. Meehl por suas discusses e ao Tim Thoar por sua ajuda computacional. Os dados de PNM são provenientes do NOAA-CIRES Climate Diagnostics Center, Boulder, Colorado, USA, do site http://www.cdc.noaa.gov/.


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