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quinta-feira, 9 de junho de 2016
MAPA DOS REGIMES DE CHUVA DO NORDESTE BRASILEIRO
Este mapa corresponde aos diversos regimes pluviométricos da Região Nordeste do Brasil. Foi originalmente concebido pelos geógrafos Gilberto Osório de Andrade e Rachel Caldas Lins. Os regimes de chuvas foram designados segundo a terminologia de Koppen, adaptada ao Brasil.
A versão original está no livro Nordeste, o Meio e a Civilização, de Vasconcelos Sobrinho, publicado pelo CONDEPE.
CONSIDERAÇÕES SOBRE A ESTRATIGRAFIA DOS SEDIMENTOS CENOZÓICOS EM PERNAMBUCO ( GRUPO BARREIRAS)
Estou disponibilizando o clássico artigo " CONSIDERAÇÕES SOBRE A ESTRATIGRAFIA DOS SEDIMENTOS CENOZÓICOS EM PERNAMBUCO ( GRUPO BARREIRAS), redigido por João José Bigarella e Gilberto de Osório de Andrade, úblicado na revista do ICT, da Universidade do Recife, em 1964.
domingo, 5 de junho de 2016
NEOTECTONISMO NA MARGEM CONTINENTAL BRASILEIRA?
NEOTECTONISMO NA MARGEM CONTINENTAL BRASILEIRA?
Lucivânio Jatobá
A Neotectônica volta-se
fundamentalmente para a ação e os efeitos dos processos tectônicos ditos modernos, ou seja, aqueles
que teriam acontecido no Neógeno-Quaternário. Em outras palavras, os
fenômenos neotectônicos seriam aqueles
ocorridos de 2.600.000 de anos até o Presente.
É necessário lembrar que ainda existe uma certa
controvérsia com relação à idade a partir da qual os fenômenos estruturais
podem ser tidos como neotectônicos. Há
autores, por exemplo, que os consideram
como sendo os que ocorreram do Cretáceo ao Holoceno. Há outros, como por
exemplo Y. Hasui (1990), que preferem a utilização do termo “tectônica
ressurgente”, ao se referirem à reativação de falhamentos pré-cambrianos acontecidos, no Brasil,
durante o Cenozóico.
Em 1948, o geólogo russo V. Obruchev
apresentou uma interessante classificação dos
movimentos neotectônicos. Segundo tal autor, esses movimentos são:
a)
Movimentos Alpinos
b)
Movimentos Recentes ( do Plioceno
ao Quaternário)
c)
Movimentos Atuais.
São vários os indícios dos movimentos neotectônicos na superfície
terrestre. Os que mais se destacam são:
-falhamentos em depósitos sedimentares
plio-pleistocênicos.
-dobramentos que afetam camadas sedimentares
terciárias e/ ou quaternárias.
-terraços marinhos e fluviais deformados.
-superfícies de erosão desniveladas ou
assimetricamente dispostas.
-ocorrência de cachoeiras ( excluindo-se as
interferências litológicas).
-lagos tectônicos na base de uma elevação.
-abalos sísmicos freqüentes nas proximidades de uma
escarpa de falhas.
-meandros encaixados.
Ainda existe um certo ceticismo com
relação à existência de uma neotectônica no Brasil. Algumas razões são
apontadas para justificar tal ceticismo:
- é possível a ocorrência de fenômenos neotectônicos numa margem
passiva de uma placa litosférica como a
Sulamericana?
- o número de sismos
verificados no Brasil é muito pequeno, sobretudo quando comparado com os que se
verificam em outras áreas tectonicamente ativas do planeta.
- Não seriam as mudanças
climáticas cenozóicas a principal causa do policiclismo do relevo brasileiro?
As idéias sobre a ocorrência de
manifestações neotectônicas no território brasileiro não são recentes. Diversos
autores já fizeram referências a fenômenos dessa natureza no Brasil. Um dos
trabalhos mais interessantes sobre esse tema foi o artigo intitulado “Vales tectônicos na planície amazônica”
, escrito por Hilgard O’Reilly Sternberg, em 1950 e publicado na Revista Brasileira de Geografia, do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Naquele clássico trabalho, Sternberg chama a atenção para dois
importantes aspectos da hidrografia amazônica que poderiam levar à suspeita de
vales tectônicos jovens na região. Os indícios apresentados foram o paralelismo
de alguns afluentes da margem esquerda do Amazonas e o padrão de drenagem
retangular existente na Bacia Amazônica.
Um outro autor que examinou mais
detalhadamente a questão foi Rui Osório de Freitas, em seu artigo “Ensaio sobre o relevo tectônico do Brasil”,
publicado em 1951, na Revista Brasileira de Geografia, do IBGE. Esse foi um
trabalho mais vertical sobre as interferências tectônicas modernas sobre o
relevo brasileiro. Rui Osório de Freitas afirmou que:
“As forças tectônicas, de natureza
epirogênica, impuseram ao Brasil deformações caracterizadas por um relevo de
bacias e planaltos, arqueamentos, muralhas , fossas e vales de afundamento ,
que dirigiram a geologia brasileira desde o Devoniano.”
Esse autor apontou, no artigo mencionado, vários
indícios dessa ação tectônica no País:
-drenagem
dirigida para o interior da Bacia do Paraná;
-altitudes
crescentes das serras do Mar e da Mantiqueira;
-arqueamento
e ruptura da Serra do Mar e da Mantiqueira;
-inclinação
do peneplano ( sic) nordestino de W.NW a E. SE;
-o
“planalto da Borborema”, como o do Atlântico, é assimétrico. Possui o
escarpamento de falha voltado para o lado oriental, bem marcado em Pernambuco e
descamba gradualmente para o interior, exatamente como o planalto limitado pela
escarpa da Serra do Mar.
Um outro autor que tratou das ações neotectônicas no Brasil foi o
geógrafo francês Francis Ruellan, no clássico trabalho, sobre a Geomorfologia
brasileira, “ O Escudo Brasileiro e os
Dobramentos de Fundo” . Ruellan, que
influenciou consideravelmente toda uma geração de geógrafos físicos do Brasil, identificou e mapeou as antigas
linhas de dobramentos de fundo, que foram reativadas durante o Cenozóico,
identificando as suas principais direções, por ele assim designadas: Direção E-O; Direção “Brasileira” ( NE-SO) e
Direção “Caraíba”(NO-SE). Essas são as
direções verificadas sobretudo no Nordeste do Brasil.
Gilberto Osório de Andrade e Rachel Caldas Lins, no artigo “Introdução à Morfoclimatologia do Nordeste
do Brasil”, insistiram em afirmar que o relevo nordestino havia sofrido os
efeitos de um tectonismo recente. Ao examinarem o núcleo pré-cambriano do
Nordeste Oriental, esses autores concluíram que o núcleo referido esteve
submetido à maior parte dos mesmos dobramentos de fundo que afetaram o Escudo
Brasileiro, e que, no Terciário
Inferior, estes teriam voltado a
funcionar modestamente.
Essas idéias estruturalistas foram também aceitas por João José
Bigarella e Gilberto Osório de Andrade, no artigo “Considerações sobre a estratigrafia dos sedimentos cenozóicos em
Pernambuco- o Grupo Barreiras” Esses
autores consideraram que a partir do Terciário Inferior, a porção nordestina do
escudo pré-cambriano brasileiro foi submetida a um soerguimento epirogênico a cujo mecanismo esteve ligado o
fato de terem voltado a funcionar antigos dobramentos de fundo das direções
NE-SO ( direção “Brasileira”) e NO-SE ( direção “ Caraíba”), acompanhadas de
falhas e fraturas. Andrade e Bigarella
consideraram, ainda, a participação da “flexura continental”, tese defendida
por Boucart, em 1950, como de fundamental importância para a retenção dos
sedimentos que compõem o Grupo Barreiras, na faixa oriental do Nordeste
brasileiro.
“ O modo por que a formação Guararapes foi depositada na periferia
atlântica do Nordeste induziu Andrade ( 1955, p.34), Dresch ( 1957) e Birot (
1957) a configurarem uma deformação do tipo flexura continental que, segundo Boucart
( 1950), afeta geralmente os bordos dos continentes. Já Ruellan ( 1952)
assinalara uma flexura da direção “Brasileira”(SW-NE) ao longo de toda a costa
oriental do país, considerando ainda que os dobramentos dessa direção parecem
os mais recentes na tectônica do escudo Brasileiro. Dresch e Birot admitiram
que essa deformação teria ocorrido desde o Cretáceo, ou mesmo antes, tendo
voltado a funcionar no Cenozóico.
Segundo Boucart, a linha axial da flexura é móvel e pode se deslocar, no
correr dos tempos, quer para o interior do continente ( alargamento da zona
subsidente), quer para o mar (alargamento da zona soerguida). Teria sido ,
então, na zona costeira subsidente alargada durante a reativação cenozóica que
a acumulação dos depósitos correlativos da pediplanação se efetuou.”
(Andrade, 1968, p.6)
Na década de 1970, Rachel Caldas
Lins ( 1974), no livro “Aspectos gerais
do Agreste pernambucano, epecialmente Caruaru”, publicado pela Fundação
Joaquim Nabuco, voltou a defender a participação do neotectonismo na elaboração
do relevo nordestino. A autora adovoga
que o Pd3 foi elaborado com a participação do tectonismo epirogenético ocorrido
no Oligoceno. Essa superfície de erosão teria sido exaltada e a conseqüência principal
desse fato foi a elaboração de um novo pediplano, o Pd2, no Plioceno Inferior.
O Pd2, por sua vez, sofreu deformação tectônica que colaborou para a formação
de uma nova superfície de erosão, o Pd1, fato este que se fez acompanhado de
falhas e fraturas.
José Salim, Maria do Socorro Lima e
J.M. Mabesoone, ainda nos anos 70, estudando a Geomorfologia da faixa costeira
oriental do Rio Grande do Norte identificaram diversos vales estruturais, do
tipo “graben”, de idade recente, provavelmente do Quaternário Inferior.
Tratam-se de vales mais novos do que a formação Guararapes e mais antigos do
que a formação Macaíba, no Rio Grande do Norte. O amplo vale do Curimataú, por
exemplo, na faixa de contato entre o cristalino pré-cambriano e os sedimentos
Barreiras, encontra-se profundamente relacionado com um falhamento NE-SO. Os
outros vales influenciados por um neotectonismo no Rio Grande do Norte são os
rios Jacu, Trairí, Jundiaí e Potengi.
Mais recentemente, Allaoua Saadi (
1993), apresentou um importante esboço com algumas interpretações preliminares
da neotectônica da Plataforma Brasileira.
Nesse didático e bem estruturado trabalho de síntese, Saadi ressalta que
um dos fatos marcantes da Neotectônica no Nordeste brasileiro está representada
por um domeamento crustal de escala regional, composto por vários eixos menores
de direção NE-SW. Outras evidências do neotectonismo, apontadas pelo prof.
Saadi, no Nordeste brasileiro são deslocamentos e dobramentos que teriam
afetado sedimentos miocênicos e pleistocênicos no Ceará, mais especificamente a
formação Camocim e alguns terraços fluviais.
quinta-feira, 2 de junho de 2016
ALGUMAS DEFINIÇÕES BÁSICAS PARA O ESTUDO DA GEOMORFOLOGIA ESTRUTURAL
ALGUMAS DEFINIÇÕES BÁSICAS PARA O ESTUDO DA
GEOMORFOLOGIA ESTRUTURAL
Lucivânio Jatobá
15- Relevos controlados por subsidência: essas morfoestruturas sofrem uma notável influência da tectônica extensional e, também de uma tectônica plástica.. São encontradas nesse grupo as seguintes morfoestruturas: relevos planos de bacias sinclinais, grabens, fossas intermontanas ou de piemonte.
16- Rifts : são morfoestruturas de caráter tectônico, relativamente estreitas e com grande extensão. Têm origem a partir de uma tectônica extensional ou por fenômenos de natureza termotectônica. Um grande rift e´encontrada na África Oriental, mais especificamente na região dos grandes lagos africanos.
( Texto complementar , para uso em aula, na disciplina Geomorfologia Estrutural, ministrada pelo autor no curso de Graduação em Geografia, Licenciatura, da Universidade Federal de Pernambuco, em 1999 )
Lucivânio Jatobá
Serão
apresentadas, a seguir, de forma bastante sintética, algumas definições e
conceitos que consideramos necessários a
uma melhor compreensão de vários assuntos que comumente são abordados na
disciplina Geomorfologia Estrutural.
1-Antéclise-
estrutura de plataforma, tipo arco, com configuração assimétrica, composta de
rochas sedimentares estendidas a partir de um centro.
2-
Sinéclise-
grande estrutura negativa dos crátons. As camadas sedimentares possuem
inclinações suaves para o centro da bacia. ( Sinônimo- bacia sedimentar, bacia
tectônica). Na parte central das sinéclise afloram osmsedimentos mais jovens,
nas margens, os mais antigos..
3-
Anticlinório-
“Grandes conjuntos de estruturas
anticlinais. Originam-se por dobramentos regionais.
4-Astenosfera-
Camada viscosa e
plástica do manto superior. Localiza-se sob os continentes a uma profundidade
de mais ou menos 100 km. É a fonte dos movimentos crustais.
5-
Arco Insular- Sistema montanhoso submarino cujos cumes
elevam-se sobre o nível do mar, formando cadeia de ilhas em arco. Associam-se
às trincheiras oceânicas.
6-
Batólito-
grande corpo intrusivo com contatos
bruscos e uma grande espessura. Possui uma área superior a 100 km2. Tem composição granitoide. Aflora em
decorrência de fases erosivas.
7-Cinturão
Ativo- maior elemento estrutural
da tectonosfera que se estende no interior dos continentes e oceanos. Apresenta
uma notável atividade tectônica. Exemplificam-no: dorsais oceânicas, sistemas
orogênicos e as trincheiras submarinas.
8-Correntes
de Convecção do Manto-Circulação lenta
de massas do manto da Terra.
9-
Cráton-
elemento básico da estrutura dos continentes. Apresenta um regime tectônico
estável. Possui a seguinte estrutura: piso inferior , com rochas ígneas e
metamórficas; piso superior com rochas sedimentares e vulcânicas. Nos crátons a
atividade vulcânica é muito fraca. Nos crátons predominam relevos relativamente
planos e montanhas erodidas. “ Todas as
plataformas continentais, ou seja, crátons, surgiram no lugar dos
geossinclinais de idade mais antiga. As
rochas originadas durante a pré-história geossinclinal das plataformas integram
seu embasamento dobrado ou
escudo. Como regra geral, são intensamente
dobrados e mais ou menos metamorfizados; em sua composição tomam parete
essencial as formações magmáticas, tanto efusivas como intrusivas; entre estas
últimas são específicos os granitos. .
No caso de predominância, no
embasamento, de rochas altamente metamorfizadas- gnaisses, xistos cristalinos-
o embasamento denomina-se cristalino.
Este caso é comum nas plataformas antigas. O embasamento está recoberto de
massas rochosas não metamorfizadas sedimentares e em alguns trechos vulcânicas,
em geral fracamente alteradas, dispostas quase que horizontalmente. “( JAIN, V.E. Geotectónica
general, 1)
10-
Dorsais-Conjunto de sistemas montanhosos submarinos na zona
axial. Apresentam depressões conhecidas
como “rifts”.
11-
Escudos- a maior estrutura positiva dos crátons. Apresentam
vastos afloramentos de rochas pré-cambrianas e forte metamorfismo , granitização
e rochas dobradas e intensamente falhadas.
12-Fossa
Tectônica -
zona de afundamento tectônico, delimitada por falhas paralelas. Essa expressão é, algumas vezes empregada
como sinônimo: “graben”.
13-
Litosfera- é a
camada rígida externa da Terra. E´ a mais rígida do planeta. É limitada na
parte inferior por uma zona de baixa velocidade, que vem sendo definida,
convencionalmente, por uma superfície isotérmica de 1300- 1400°C. A litosfera é má condutora de calor.
Transmite o calor recebido pela astenosfera, através da convecção, por condução
e irradiação.
A
litosfera é definida pela crosta continental e pela crosta oceânica, além da
parte não convectiva do manto. “A porção
oceãnica da litosfera é formada da mesma maneira em todo o mundo, sendo mais
homogênea, e tem sido ( e pode ser) reciclada continuamente no manto. A porção
continental da litosfera resiste ao processo de subdução por sua natureza física
, é altamente variável e é produto de bilhões de anos de evolução.
(...) A litosfera não
é monolítica, sendo constituída por um contexto composto de vários segmentos,
em natureza, espessura e constituição, sendo estes considerados grandes
(>100000000km²), intermediários (10000000- 1000000km²) e pequenos ( <
1000000km²) , chamados de placas litosféricas. Entre os segmentos pequenos,
além das microplacas ( segmentos que devem Ter pelo menos uma margem ativa) e
microcontinentes ( balizados integralmente por margens passivas), destacam-se
os chamados blocos ( algum tipo de rigicez interna) e terrenos. Estes últimos
são deformados internamente durante as orogêneses e geralmente afastados da sua
posição original por extensões muitas vezes superiores à sua maior dimensão (
por convenção). Esta conceituação (placas grandes, intermediárias e pequenas,
microcontinentes, blocos, “terrenos”, etc) é muito controvertida ainda e longe
do consensual, tendo aqui sido adotadas as designações de Condie ( 1989) e
Berckemann & Hsü ( 1982). O número
da segmentação da litosfera é muito grande, e sua identificação vem
sendo acrescida na proporção que se intensifica o conhecimento geológico e
geofísico, sendo incorreto pensar em número pequeno e finito de placas.
No contexto das placas
grandes., ocorre litosfera de natureza continental e oceânica ( às vezes apenas
oceânica), nos demais segmentos geralmente um ou outro tipo de litosfera é
predominante, precisando ficar claro que mesmo nos segmentos da litosfera há
variações laterais de composição, estrutura e comportamento muito importantes.
No caso dos segmentos cada vez menores, um só tipo de litosfera costuma
ocorrer.
( Benjamim Bley B. Neves- Crátons e Faixas
Móveis)
14-
Sistema Montanhoso-
série de elevações mais ou menos extensas, unidas em grupos montanhosos
separados por depressões intermontanas e vales fluviais. AB’SÁBER ( 1975) classifica as montanhas, segundo a origem
em: montanhas de dobramento,
montanhas dômicas, montanhas de blocos falhados, montanhas vulcânicas, escarpas de falha,
escarpas de erosão e minimontanhas. Eis as definições apresentadas pelo autor (op. cit, p. 30 e 31)
para essas formas de relevo:
“Montanhas de dobramentos: cordilheiras oriundas do dobramento de
camadas originalmente depositadas no fundo dos mares. Após os dobramentos, as
camadas dobradas são soerguidas a milhares de metros de altura, sulcadas pelos rios e, às vezes, por geleiras de
altiitude ( exemplo: Andes , Alpes, Himalaia).
Montanhas
dômicas: são camadas deformadas em forma de
abóbadas. Após a ação de demorados processos erosivos, os domos podem dar
origem a montanhas semicirculares, com cristas serrilhadas e abruptas para o
interior das depressões dômicas e encostas suaves inclinadas para o exterior da
antiga abóbada. Nas porções centrais de alguns domos foram descobertas jazidas
de petróleo em profundidade.
Montanhas
de blocos falhados: porções da crosta terrestre
soerguidas em blocos, a diferentes alturas ( exemplo: Mantiqueira, Bocaina).
Montanhas
vulcânicas: cones vulcânicos, extintos ou
ativos, formados pelo acúmulo de lavas e cinzas em torno de crateras de
vulcões.
Minimontanhas:
área de pequena altitude relativa, porém com forte grau de acidentação.”
15- Relevos controlados por subsidência: essas morfoestruturas sofrem uma notável influência da tectônica extensional e, também de uma tectônica plástica.. São encontradas nesse grupo as seguintes morfoestruturas: relevos planos de bacias sinclinais, grabens, fossas intermontanas ou de piemonte.
16- Rifts : são morfoestruturas de caráter tectônico, relativamente estreitas e com grande extensão. Têm origem a partir de uma tectônica extensional ou por fenômenos de natureza termotectônica. Um grande rift e´encontrada na África Oriental, mais especificamente na região dos grandes lagos africanos.
( Texto complementar , para uso em aula, na disciplina Geomorfologia Estrutural, ministrada pelo autor no curso de Graduação em Geografia, Licenciatura, da Universidade Federal de Pernambuco, em 1999 )
ARMAZENAMENTO D’ÁGUA EM PEDIMENTOS DETRÍTICOS
ARMAZENAMENTO
D’ÁGUA EM PEDIMENTOS DETRÍTICOS[1]
Gilberto Osório de Andrade
Resposta
dada a uma consulta dirigida ao coordenador do ICT pelo deputado estadual dr
.Osvaldo Coelho:
“Atendo,
com muito prazer, pela presente, à solicitação que V. me fez de que lhe resumisse por escrito as
observações a que recentemente procedemos, acompanhados da profa. Rachel Caldas
Lins, assistente de Geomorfologia da Escola de Geologia de Pernambuco, em
meados de agosto próximo passado, durante excursões feitas em várias direções
no município de Petrolina, deste Estado.
Essas observações tiveram como principal motivação verificarmos a possibilidade de serem
propostos critérios morfológicos para a determinação, ali, de áreas suscetíveis
de prospecção d’água do subsolo . Critérios substancialmente morfológicos que
se acrescentassem aos tectônicos propriamente ditos, ou seja: àqueles que visam
os mesmos resultados mediante: a) identificação foto-analítica de ocorrência de
fraturas adaptadoras das linhas de drenagem ; b) determinação do mergulho de
camadas ( de gnaisses, no caso).
Devo
preliminarmente acentuar que, como professor de Geomorfologia da Escola de
Geologia de Pernambuco, insisto sempre com os alunos que:
1º a utilização de critérios morfológicos para a
pesquisa d’água subterrânea é de particularíssimo interesse nas regiões
semi-áridas;
2º porque nas áreas evoluídas segundo o sistema
morfoclimático de erosão semi-árido ( e estruturalmente representadas, no caso,
por porções de velho escudo cristalino) não há que pensar , apenas, em
afloramentos e mantos de alteração in situ (estes últimos , de resto,
ordinariamente infreqüentes ou de fraca espessura); e sim, também, levar em
conta depósitos de tipo especial ( pedimentos detríticos), que são formações sedimentares,
portanto suscetíveis em princípio de armazenamento d’água meteórica.
3º mas que a utilização de tais critérios
morfológicos não deprecia e muito menos invalida os critérios tectônicos;
devem, em lugar disso, coadjuvar as pesquisas feitas à base destes últimos, ou
ainda operar por si mesmos, quando os tectônicos não têm aplicação prática
possível.
Toda
a área correspondente ao município de Petrolina e aos adjacentes apresenta-se
extensivamente nivelada por um considerável aplanamento cenozóico (possivelmente
plio-pleistocênico), que se consumou à custa dum relevo relativamente bem
movimentado. Esse relevo pré-pliocênico seria, assim registo de paleoclima
menos severo do que o atual e, em qualquer hipótese, bem diverso daquele sob a
qual o aplanamento veio a evoluir. A acentuação dos desníveis dum relevo jovem,
e mesmo já maduro, ocorre, com efeito, na razão
direta da concentração de drenagem ( erosão linear, de escavação de
talvegue); essa concentração é típica dos climas com precipitações abundantes
ou, pelo menos, bem distribuídas (paleoclima pré-pliocênico úmido tropical, no
caso, segundo se deve inferir da situação geográfica da área) . Enquanto isso ,
as superfícies de aplanamento se elaboram sob condições climáticas
caracterizadas por chuvas de volume anual escasso, concentradas , porém, numa
curta estação, dando processos de escoamento superficial difuso (paleoclima)
plio-pleistocênico semi-árido, semelhante ao atual , senão bem mais severo).
Do
relevo que precedeu o aplanamento, persistem hoje na área formas residuais que
documentam a sucessão dos eventos cenozóicos indicados: cristas e formas
menores isoladas ( inselbergue), que são remanescentes atuais de antigas massas
progressivamente reduzidas mediante recuo das escarpas , e cujos perfis
documentam, inequivocamente, os mencionados efeitos dum sistema de erosão
semi-árido.
O
perfil característico das escarpas em
recuo ao longo dum processo de aplanamento é o chamado perfil de pedimento: do
alto para baixo, ligeiramente côncavo a princípio, e depois projetando –se em plano inclinado para o
talvegue ou talvegues vizinhos. Trata-se de encostas, ou vertentes, cuja
evolução se caracteriza pela rapidez com que os produtos da alteração do
embasamento são removidos para baixo, pelos aguaceiros torrenciais típicos do
semi-árido. Em conseqüência disso, as partes superior e média da vertente
permanecem desprovidas de manto de
alteração, e o substrato aflora
geralmente (pedimento rochoso), sob a
forma de “ lajedos” . Quanto aos materiais postos assim em movimento ao longo
do declive, sobrecarregam a drenagem que os transporta :uma vez alcançada a
base da encosta, a competência da descarga se anula e os detritos são
abandonados em massa (pedimento detrítico).
Os
produtos clásticos dessarte carregados para baixo e sedimentados como pedimento
detrítico são , portanto, materiais resultantes de morfogênese mecânica,
isto é,: de desagregação com que mal interferem, ou mesmo não interferem,
processos químicos de decomposição ( sistema morfoclimático semi-árido). Esses
depósitos de pedimentos detríticos são facilmente identificáveis : o material é
rudáceo (anguloso , por não Ter sofrido longo transporte); são desprovidos de
estratificação aparente, ou têm estratificação cruzada ( efeitos de sucessivos suprimentos
que a drenagem episódica e sobrecarregada ora retoma, ora abandona); são mal
selecionados (lâminas d’água que deslocam e misturam partículas dos mais
diversos calibres); apresentam freqüentemente na massa, grânulos e seixos
disseminados nela (alta densidade do
meio de remoção); e finalmente contêm partículas de minerais inalterados ( como
o arcósio).
Como
V. está lembrado, nossas investigações se orientaram insistentemente, durante
as excursões, para a identificação desses depósitos. E as indicações que
fizemos, então, de áreas prospectáveis, tomaram como índice principal a
evidência desses pedimentos detríticos, ali onde os leitos atuais dos riachos
deixam-nos expostos e com satisfatória espessura.
Esses
registos sedimentológicos, aliás, nem sempre ao alcance dum controle direto, foram por nós associados à
topografia. A partir, por exemplo, do alto das cristas residuais na região
ocidental do município, pudemos chamar a atenção para o fato de que, ao longo
do perfil já descrito linhas atrás, a cada pedimento rochoso sucede-se um
pedimento detrítico. O aspecto da caatinga ( de melhor porte e muito menos
ressequida, quando não verdejante, nos pedimentos detríticos), bem como as
pequenas lavouras permanentes e os bananeirais não irrigados coincidem, em
posição relativa, com esses depósitos de grande porosidade, isto é: dotados de
acentuada capacidade de absorção e de armazenamento d’águas pluviais. Dá V. a
notícia, com efeito, duma perfuração bem sucedida , com poço de profundidade
relativamente pequena e vazão satisfatória, precisamente num dos lugares por
nós indicados como devendo ser prospectados com boas esperanças.
Restaria ainda mencionar que,
consumando-se um apanhamento semi-árido por coalescência de pedimentos, regiões
inteiras se apresentam, atualmente, sem mais formas residuais sobre aqueles
eminentes. Quando isso acontece, é óbvio
que o controle topográfico do perfil de pedimento não pode ser
diretamente utilizado. Contudo, como o aplanamento se opera mediante recuo de
escarpas, e como os pedimentos
detríticos acumulados na base dessas vertentes hoje desaparecidas, permanecem
em qualquer caso incorporados ao plano geral da superfície, há sempre que Ter
em vista a hipótese de que cada grande
extensão consumadamente aplanada jaz na esteira do mencionado recuo . E,
portanto, conterá, em princípio, áreas sedimentares bem confinadas em desvãos
do embasamento, como depósitos correlativos do aplanamento. Toda a região que ,
sem formas residuais, se alastra para leste das cristas existentes na fronteira
ocidental do município , está nesse caso, e merece, portanto, ser considerada.
Finalmente,
parece-nos necessário referir que, durante um ciclo de pedimentação, Ter-se-ão
sucedido, numa certa medida, flutuações climáticas. Assim, quando sobrevêm
condições climáticas menos severas, ou de maior umidade, a morfogênese mecânica
nas encostas cede o passo a processos de alteração química ; e quando se
restauram, a seguir, as condições semi-áridas, o material que é então removido
para o pedimento detrítico apresenta-se argiloso ou síltico-argiloso. Temos
tido a oportunidade de controlar registos dessa natureza noutras áreas de
pedimentação do semi-árido em Pernambuco.
A importância do fato reside em que, quando se intercalam, num pedimento
detrítico, depósitos rudáceos e horizontes argilosos, estes costumam funcionar
como camadas de impermeabilização capazes de manter lençóis freáticos a diferentes profundidades abaixo
da superfície.
Espero
que estas sumárias informações e o rascunho representativo que as acompanham
satisfaçam seu interesse. Se não, continuo ao seu dispor, com o melhor apreço.
Recife,
23 de outubro de 1963
Gilberto
Osório de Andrade
[1] Este artigo foi na verdade um documento encaminhado pelo geógrafo
Gilberto Osório de Andrade ao então deputado estadual dr. Osvaldo Coelho , em
1963. No texto, o autor examina com muita propriedade e com uma linguagem
bastante didática alguns aspectos da geomorfologia do semi-árido. Em face da importância que tem para o processo ensino-aprendizagem da
presente disciplina, ministrada no Curso de Especialização em Programação de
Ensino em Geografia, resolvemos aqui transcrever o artigo supracitado,
publicado originalmente na revista Arquivos
do ICT, da Universidade do Recife, nº 2, outubro de 1964. ( Nota de L.
Jatobá)
A PARTICIPAÇÃO DO CLIMA NA MORFOGÊNESE DO RELEVO TERRESTRE
A
PARTICIPAÇÃO DO CLIMA NA MORFOGÊNESE DO RELEVO TERRESTRE
Lucivânio Jatobá
Rachel Caldas Lins
O clima foi definido por Julius Hann como sendo o conjunto
de fenômenos meteorológicos que caracterizam o estado médio da atmosfera, numa
determinada parte da superfície terrestre. Max Sorre caracteriza-o como o ambiente
atmosférico constituído pela série de estados atmosféricos acima de um lugar,
em sua sucessão habitual. JRAMOV (1983) prefere defini-lo da seguinte
maneira: “O conjunto de condições atmosféricas próprio de uma dada região do
Globo, em função de sua situação geográfica”.
O clima é um dos mais destacados componentes da esfera
geográfica. Influencia consideravelmente todos os componentes do complexo
geográfico natural, particularmente o relevo terrestre.
Jean Tricart e André Cailleux afirmam que a influência
do clima sobre o relevo terrestre se dá de duas maneiras: direta e indireta.
As influências diretas são decorrentes dos principais elementos do
clima sobre os corpos rochosos que estão expostos ao ar atmosférico. Esses
elementos são principalmente as precipitações, a umidade, a temperatura do ar e
os ventos.
A ação do clima sobre as rochas acarretam,
inicialmente, os processos de meteorização destas e, posteriormente, a
ocorrência de processos erosivos deposicionais.
Inúmeros mecanismos morfogenéticos do relevo terrestre
são devidos a essas influências climáticas diretas. Eis alguns exemplos:
- a alternância gelo-degelo verificada
nas áreas periglaciais, que determina a crioclastia;
- as fortes amplitudes térmicas diárias
ocorridas em ambientes desérticos, responsáveis pela meteorização mecânica das
rochas;
- as interferências da umidade
atmosférica sobre as rochas, determinando a meteorização química;
- as variações de umidade e secura dos
ambientes tipicamente tropicais que provocam o aparecimento de couraças lateríticas;
- a atuação dos ventos nos ambientes
secos acarretando a formação de depressões de deflação e dunas;
- as precipitações pluviais,
interferindo no escoamento superficial e no regime dos rios.
As influências indiretas manifestam-se através
da cobertura vegetal. A vegetação funciona como um obstáculo à atuação dos
elementos climáticos, sobre as formações superficiais. As áreas que se
apresentam recobertas por florestas latifoliadas possuem um escoamento
superficial limitado e, consequentemente, uma absorção de grande quantidade de
água. As áreas sem florestas, sob condições climáticas úmidas, mostram um
escoamento superficial acelerado, uma infiltração rápida e, em decorrência,
intenso processo de erosão do regolito.
A vegetação densa impede que os processos
morfogenéticos se exerçam livremente sobre as rochas alteradas, atenuando,
assim, os processos erosivos.
Nos dias atuais, o estudo das formas das vertentes e
da sua evolução vem sendo feito levando-se em conta as interferências dos
fatores morfoclimáticos no presente e no passado. As feições assumidas pelas
vertentes podem denunciar as condições climáticas que desencadearam os
processos morfoescultadores das paisagens. Existem vários exemplos dessa
correlação:
- na região tropical úmida, as vertentes
apresentam-se com um perfil convexo, em geral com inclinação compreendida entre
10 e 15 graus;
- na zona das savanas (clima tropical
com duas estações distintas), as encostas são menos convexas e, às vezes,
tendem a um perfil retilíneo, com ligeiras ondulações;
- nas áseas semi-áridas, as vertentes
apresentam um perfil marcadamente côncavo, dominando as superfícies planas
(pediplanos) com relevos residuais (inselbergues).
PEDIMENTOS,
PEDIPLANOS E INSELBERGUES
As principais feições de relevo freqüentemente
encontradas nas áreas secas são: pedimentos, pediplanos e inselbergues.
Para os geomorfólogos franceses, o termo pedimento significa superfície
de aplanamento sobre rochas duras (cristalinas e cristalofilianas), enquanto a
palavra “glacis” designa uma superfície de erosão talhada em rochas tenras.
Os pedimentos apresentam um perfil côncavo nas
partes superior e média da vertente e suavemente inclinado em direção ao
talvegue mais próximo.
Os processos que dão origem aos pedimentos são
denominados de pedimentação.
Se as condições semi-áridas prolongam-se por tempo
bastante prolongado, a pedimentação alastra-se, desmonta ou rebaixa os
interflúvios e mesmo os divisores d’água
e, desse modo, dilata-se e consuma-se um pediplano resultante, portanto da coalescência
de pedimentos. Se, porém, essa evolução se processa num período relativamente
curto, ocorre apenas a, pedimentação, sob a forma de níveis de erosão
confinados nos vales fluviais.
Os inselbergues (bornhardt) são formas de relevo
isoladas sobre os pediplanos. Jean Dresch caracteriza os inselbergues como
sendo relevos em forma de “ilhas”, pouco extensos e esfacelados, sem sistema de
vales e cristas.
No estudo das formas de relevo, é importante a análise
da participação de paleoclimas. Inúmeras dessas formas existentes em
determinadas regiões morfoclimáticas são, em geral, heranças de
processos erosivos desencadeados sob condições climáticas diferentes das
atuais. As feições de relevo que não estão em consonância com as condições
climáticas atuais das áreas onde elas se encontram são chamadas paleoformas
de relevo.
As características paleoclimáticas são estudadas pela
Paleoclimatologia e são deduzidas a partir da análise das paleoformas, dos
depósitos correlativos e associações fossilíferas disseminadas nas seqüências
sedimentares.
As feições de relevo que não estão em concordância com
os processos morfoclimáticos atuais
operantes na área onde se localizam são denominadas paleoformas de relevo. Um
pedimento numa área quente úmida ou um fiorde numa região temperada
exemplificam paleoformas.
Os depósitos correlativos correspondem a
acumulação de sedimentos indicadores de prolongadas fases erosivas. Esses
depósitos, pelas suas características texturais e estruturais, permitem a
reconstituição paleoambiental. No Brasil, existe um depósito sedimentar,
denominado Grupo Barreiras, que se estende da Amazônia até o Sudeste do país,
indicador de paleoformas secas vigentes no Cenozóico.
Podemos apontar como evidências paleoclimáticas as
seguintes:
- presença de evaporitos,
depósitos eólicos, depósitos de corridas de lama e de areia e muito cascalho
são indicadores de clima seco;
- sedimentos vermelhos, calcários e
couraças lateríticas evidenciam climas quentes;
- depósitos de geleiras (morenas),
rochas estriadas e varvitos indicam clima muito frio.
No Brasil, as superfícies aplanadas ter sido
interpretadas como formas remanescentes de pedimentos e pediplanos e, portanto,
representativas de fases climáticas mais secas durante o Cenozóico.
Quando há
mudança no clima seco, responsável pela gênese do pedimento, em direção ao
úmido, as correntes fluviais passam a ter mais competência erosiva,
verificando-se, então, um processo de dissecação das paisagens pedimentadas.
Esse fato é freqüentemente constatado no Nordeste brasileiro.
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