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quinta-feira, 2 de junho de 2016

A PARTICIPAÇÃO DO CLIMA NA MORFOGÊNESE DO RELEVO TERRESTRE



A PARTICIPAÇÃO DO CLIMA NA MORFOGÊNESE DO RELEVO TERRESTRE

              Lucivânio Jatobá
              Rachel Caldas Lins

O clima foi definido por Julius Hann como sendo o conjunto de fenômenos meteorológicos que caracterizam o estado médio da atmosfera, numa determinada parte da superfície terrestre. Max Sorre caracteriza-o como o ambiente atmosférico constituído pela série de estados atmosféricos acima de um lugar, em sua sucessão habitual. JRAMOV (1983) prefere defini-lo da seguinte maneira: “O conjunto de condições atmosféricas próprio de uma dada região do Globo, em função de sua situação geográfica”.

O clima é um dos mais destacados componentes da esfera geográfica. Influencia consideravelmente todos os componentes do complexo geográfico natural, particularmente o relevo terrestre.

Jean Tricart e André Cailleux afirmam que a influência do clima sobre o relevo terrestre se dá de duas maneiras: direta  e indireta.

As influências diretas  são decorrentes dos principais elementos do clima sobre os corpos rochosos que estão expostos ao ar atmosférico. Esses elementos são principalmente as precipitações, a umidade, a temperatura do ar e os ventos.

A ação do clima sobre as rochas acarretam, inicialmente, os processos de meteorização destas e, posteriormente, a ocorrência de processos erosivos deposicionais.

Inúmeros mecanismos morfogenéticos do relevo terrestre são devidos a essas influências climáticas diretas. Eis alguns exemplos:

- a alternância gelo-degelo verificada nas áreas periglaciais, que determina a crioclastia;
- as fortes amplitudes térmicas diárias ocorridas em ambientes desérticos, responsáveis pela meteorização mecânica das rochas;
- as interferências da umidade atmosférica sobre as rochas, determinando a meteorização química;
- as variações de umidade e secura dos ambientes tipicamente tropicais que provocam o aparecimento de couraças lateríticas;
- a atuação dos ventos nos ambientes secos acarretando a formação de depressões de deflação e dunas;
- as precipitações pluviais, interferindo no escoamento superficial e no regime dos rios.

As influências indiretas manifestam-se através da cobertura vegetal. A vegetação funciona como um obstáculo à atuação dos elementos climáticos, sobre as formações superficiais. As áreas que se apresentam recobertas por florestas latifoliadas possuem um escoamento superficial limitado e, consequentemente, uma absorção de grande quantidade de água. As áreas sem florestas, sob condições climáticas úmidas, mostram um escoamento superficial acelerado, uma infiltração rápida e, em decorrência, intenso processo de erosão do regolito.

A vegetação densa impede que os processos morfogenéticos se exerçam livremente sobre as rochas alteradas, atenuando, assim, os processos erosivos.

Nos dias atuais, o estudo das formas das vertentes e da sua evolução vem sendo feito levando-se em conta as interferências dos fatores morfoclimáticos no presente e no passado. As feições assumidas pelas vertentes podem denunciar as condições climáticas que desencadearam os processos morfoescultadores das paisagens. Existem vários exemplos dessa correlação:

- na região tropical úmida, as vertentes apresentam-se com um perfil convexo, em geral com inclinação compreendida entre 10 e 15 graus;
- na zona das savanas (clima tropical com duas estações distintas), as encostas são menos convexas e, às vezes, tendem a um perfil retilíneo, com ligeiras ondulações;
- nas áseas semi-áridas, as vertentes apresentam um perfil marcadamente côncavo, dominando as superfícies planas (pediplanos) com relevos residuais (inselbergues).

PEDIMENTOS, PEDIPLANOS E INSELBERGUES
As principais feições de relevo freqüentemente encontradas nas áreas secas são: pedimentos, pediplanos e inselbergues. Para os geomorfólogos franceses, o termo pedimento significa superfície de aplanamento sobre rochas duras (cristalinas e cristalofilianas), enquanto a palavra “glacis” designa uma superfície de erosão talhada em rochas tenras.

Os pedimentos apresentam um perfil côncavo nas partes superior e média da vertente e suavemente inclinado em direção ao talvegue mais próximo.

Os processos que dão origem aos pedimentos são denominados de pedimentação.

Se as condições semi-áridas prolongam-se por tempo bastante prolongado, a pedimentação alastra-se, desmonta ou rebaixa os interflúvios e mesmo os divisores  d’água e, desse modo, dilata-se e consuma-se um pediplano resultante, portanto da coalescência de pedimentos. Se, porém, essa evolução se processa num período relativamente curto, ocorre apenas a, pedimentação, sob a forma de níveis de erosão confinados nos vales fluviais.

Os inselbergues (bornhardt) são formas de relevo isoladas sobre os pediplanos. Jean Dresch caracteriza os inselbergues como sendo relevos em forma de “ilhas”, pouco extensos e esfacelados, sem sistema de vales e cristas.


No estudo das formas de relevo, é importante a análise da participação de paleoclimas. Inúmeras dessas formas existentes em determinadas regiões morfoclimáticas são, em geral, heranças de processos erosivos desencadeados sob condições climáticas diferentes das atuais. As feições de relevo que não estão em consonância com as condições climáticas atuais das áreas onde elas se encontram são chamadas paleoformas de relevo.

As características paleoclimáticas são estudadas pela Paleoclimatologia e são deduzidas a partir da análise das paleoformas, dos depósitos correlativos e associações fossilíferas disseminadas nas seqüências sedimentares.

As feições de relevo que não estão em concordância com os processos  morfoclimáticos atuais operantes na área onde se localizam são denominadas paleoformas de relevo. Um pedimento numa área quente úmida ou um fiorde numa região temperada exemplificam paleoformas.

Os depósitos correlativos correspondem a acumulação de sedimentos indicadores de prolongadas fases erosivas. Esses depósitos, pelas suas características texturais e estruturais, permitem a reconstituição paleoambiental. No Brasil, existe um depósito sedimentar, denominado Grupo Barreiras, que se estende da Amazônia até o Sudeste do país, indicador de paleoformas secas vigentes no Cenozóico.

Podemos apontar como evidências paleoclimáticas as seguintes:

- presença de evaporitos, depósitos eólicos, depósitos de corridas de lama e de areia e muito cascalho são indicadores de clima seco;
- sedimentos vermelhos, calcários e couraças lateríticas evidenciam climas quentes;
- depósitos de geleiras (morenas), rochas estriadas e varvitos indicam clima muito frio.

No Brasil, as superfícies aplanadas ter sido interpretadas como formas remanescentes de pedimentos e pediplanos e, portanto, representativas de fases climáticas mais secas durante o Cenozóico.

Quando  há mudança no clima seco, responsável pela gênese do pedimento, em direção ao úmido, as correntes fluviais passam a ter mais competência erosiva, verificando-se, então, um processo de dissecação das paisagens pedimentadas. Esse fato é freqüentemente constatado no Nordeste brasileiro.

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