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segunda-feira, 25 de julho de 2016

IMPACTOS AMBIENTAIS: ESTUDO DE CASO DO ECOSSISTEMA MANGUE NA ZONA COSTEIRA DE PERNAMBUCO

IMPACTOS AMBIENTAIS: ESTUDO DE CASO DO ECOSSISTEMA MANGUE NA ZONA COSTEIRA DE PERNAMBUCO 

 SUAPE IMPACTOS AMBIENTALES: ESTUDIO DE CASO DEL ECOSISTEMA MANGUE EN LA ZONA COSTEIRA DE PERNAMBUCO – SUAPE

Viviane Trajano da Silva¹; Ítalo Rodrigo Paulino de Arruda²; Gerlando Rodrigues de Lima³; Viviane Pedroso Gomes4 ¹Estudante de Bacharelado em Geografia, Universidade Federal de Pernambuco. E-mail: vivitrajanogeo@hotmail.com; ²Estudante de Licenciatura em Geografia, Universidade Federal de Pernambuco. E-mail: italotavares0811@gmail.com; ³Estudante de Licenciatura em Geografia, Universidade Federal de Pernambuco. E-mail: rodriguesgerlando@gmail.com, 4Mestranda em Desenvolvimento e Meio Ambiente - PRODEMA – Universidade Federal de Pernambuco. E-mail: vivianegomesgeo@gmail.com. Palavras-chave: Impactos Ambientais; Mangue; Pernambuco. 

INTRODUÇÃO

 O manguezal é um ecossistema típico de zona costeira, de mudança entre os ambientes terrestre e marinho, específico de regiões tropicais e subtropicais, sujeito ao regime das marés (SCHAEFFER-NOVELLI, 1995). Incontáveis são as ações antrópicas, que levam a desestruturar o funcionamento dos manguezais, como desmatamento, aterro, drenagem, queimadas, assoreamento, extração de madeira, exploração da fauna, efluentes industriais, poluição e entre outros (BARBOSA et al., 2011). A zona costeira de Pernambuco, especificamente a zona sul vem apresentando forte crescimento econômico nos últimos anos, através de atividades ligadas a indústrias e grandes projetos de infraestrutura (MANSO et al., 2010), como por exemplo, pelo Porto de Suape que para a sua efetivação foi necessário à supressão da vegetação em diversas áreas além do grande setor imobiliário que se instalou na Praia do Paiva, entre outros. Este trabalho tem como objetivo ressaltar a importância do ecossistema Mangue em Suape/PE, que sofreu muito devido à associação de diferentes processos naturais e antrópicos, bem como propor a geoconservação de seus elementos da geodiversidade.

MATERIAL E METODOLOGIA 

O Complexo Industrial Portuário de Suape (Figura 1) está localizado entre os municípios de Cabo de Santo Agostinho e Ipojuca na Região Metropolitana, a IV Encontro de Desenvolvimento e Meio Ambiente 30 e 31 de maio de 2016 | Recife - Pernambuco LIVRO DE RESUMOS 13 aproximadamente 40 km do Recife, capital do Estado. Sua zona estuarina é formada pelos rios Massangana, Tatuoca, Ipojuca e Merepe. Geologicamente Suape está inserida na Bacia Sedimentar de Pernambuco e está localizada entre a Zona de Cisalhamento de Pernambuco ao alto Maragogi, limite com a Bacia de Alagoas. É formada por sedimentos holocênicos, as Formações Cabo, Estiva e Algodoais; rochas da Suíte Magmática Ipojuca e afloramentos do Grupo Barreiras, que repousam sobre o embasamento cristalino, constituído por rochas de idade pré-cambriana pertencentes à província da Borborema. É um ambiente costeiro bastante dinâmico, formado por extensos manguezais. Esta pesquisa foi realizada através investigação bibliográfica, por meio de documentos e artigos referentes à área. Também foram realizadas pesquisas em campo, que permitiram uma observação mais detalhada e a obtenção registros fotográficos.

 RESULTADOS E DISCUSSÃO 

A situação socioambiental que se instala nas terras do Complexo Industrial Portuário Governador Eraldo Guedes (Porto de Suape), em virtude do grande interesse na ocupação de áreas, juntamente com projetos de grande infraestrutura, trouxe um notável desenvolvimento econômico para o litoral Sul pernambucano, levando cada vez mais o incentivo de políticas públicas voltadas para o crescimento econômico da área do Porto.

Por sua vez, tais posicionamentos resultantes de articulações entre o setor público e privado geram externalidades que afetam diretamente o meio ambiente e grande parte da população local. Dentre as consequências mais notáveis dessa expansão, além da questão econômica, encontra-se a degradação dos ambientes costeiros existentes, que podem ocorrer na forma de: erosão, desmatamento, poluição, aterro e esgotos domésticos (BARBOSA et al., 2011). O ecossistema manguezal é um dos mais produtivos desempenhando importante papel como exportador de matéria orgânica para o estuário e produzindo boa parte dos produtos que o homem captura no mar entre outros, porém é também o mais vulnerável aos efeitos do desenvolvimento econômico e do crescimento desordenado das populações humanas (MANSO et al., 2010). Para o desenvolvimento do Porto de Suape foi realizada a supressão da vegetação de mangue em extensas áreas, levando a região a um forte desequilíbrio ambiental, além dos impactos já previstos. Além dessa supressão da vegetação litorânea, verifica-se também uma significativa redução do habitat natural de inúmeras espécies (marinhas e terrestres), o que interfere de forma direta na dinâmica do ecossistema estuarino diminuindo a diversidade biológica tanto em termos de fauna, quanto de flora, no ambiente (BARBOSA et al., 2011). É perceptível as diferentes formas de degradação e recorrentes consequências ambientais que a área do Porto de Suape sofreu e continua sofrendo, devido às grandes ações antrópicas. De fato, é necessária uma maior abrangência na questão da geoconservação deste ecossistema que é tão importante para a população local e para o cenário mundial.

CONCLUSÕES

 Tratando-se de uma região que possui um grande acervo de ecossistemas naturais a que se tem conhecimento em manguezal, emerge a necessidade de sua geoconservação, propostas norteadas pelos princípios de interdisciplinaridade, sustentabilidade e educação ambiental além de uma maior atenção às consequências geradas pelas interferências antrópicas nesses ambientes. Para isso, sugere-se o desenvolvimento de ações educativas em escolas da comunidade em projetos que possam ser desenvolvidos a distribuição de folders e cartilhas educativas e que haja também, uma maior efetividade nas práticas de recuperação e manejo das áreas ambientalmente degradadas em ecossistemas de mangues, garantindo assim uma sustentabilidade ambiental e social para a conservação da zona costeira, além da participação do poder público, privado e comunidade. É importante o incentivo a economia local e o turismo sustentável objetivando a garantia destes importantes elementos da geodiversidade e da biodiversidade às gerações futuras.

REFERÊNCIAS

 BARBOSA, V. V., AMÂNCIO, E. S., SILVA, R. A. S., FILHO, J. L. B., BARBOSA, A. D. IMPACTOS AMBIENTAIS NO ECOSSISTEMA MANGUEZAL CAUSADOS PELAS AÇÕES ANTRÓPICAS EM IPOJUCA. In: REUNIÃO ANUAL DA SBPC, 63., Goiânia. Anais... 2011.

MANSO, V. A. V; COUTINHO, P. N; GUERRA, N. C; JUNIOR, C. F. A. S. Erosão e Progradação do Litoral Brasileiro. Brasília: Ministério do Meio Ambiente. 2010. SCHAEFFER-NOVELLI, Y. (Coord.). Manguezal: ecossistema entre a terra e o mar. São Paulo: Caribbean Ecological Research, 1995.



IV Encontro de Desenvolvimento e Meio Ambiente 30 e 31 de maio de 2016 | Recife - Pernambuco

DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO E PLANEJAMENTO URBANO: UM OLHAR AMBIENTAL SOBRE O RIO APODI-MOSSORÓ-RN

DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO E PLANEJAMENTO URBANO: UM OLHAR AMBIENTAL SOBRE O RIO APODI-MOSSORÓ-RN

DESARROLLO ECONÓMICO Y URBANISMO: UNA MIRADA AMBIENTAL SOBRE EL RIO - APODI MOSSORÓ – RN

Josiani Alves de Morais; Kandysse Paiva de Melo² ¹Bacharel em Gestão Ambiental pela Universidade Estadual do Rio Grande do Norte (UERN); Mestre em Extensão Rural e Desenvolvimento Local pela Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE). E-mail: josi.morais@yahoo.com.br; ²Bacharel em Gestão Ambiental pela Universidade Estadual do Rio Grande do Norte (UERN). E-mail: kiviapaiva@gmail.com. Palavras-chave: Desenvolvimento; Planejamento; Meio ambiente; rio Apodi-Mossoró.

INTRODUÇÃO De forma geral, as regiões ditas desenvolvidas no Brasil estão caracterizadas pelo desequilíbrio entre crescimento e demanda de recursos naturais mediante a valorização da sociedade capitalista. Esse desequilíbrio é possível a partir do momento em que as políticas para o desenvolvimento econômico valorizam o crescer sem perceber a realidade e sua complexidade, assim surge reivindicações sociais mobilizadas na construção do espaço natural, social e cultural (GOLDEMBERG; LUCON, 2008). É devido a isso, que a extensa expansão territorial vem acontecendo sem prévio planejamento, tudo isso transforma os ambientes naturais e ocasionam impactos sociais e ambientais para as populações mais vulneráveis. Em meio a esse dilema entre desenvolver e preservar está o rio Apodi-Mossoró, importante recurso natural para o estado e o segundo rio em extensão, sua nascente dá-se na cidade de Luís Gomes passando aproximadamente por 51 cidades (SEMARH, 2016). Diante do processo de urbanização sem planejamento o rio Apodi-Mossoró acaba sofrendo as consequências de assoreamento, retirada da mata ciliar, poluição de suas águas devido ao lançamento de esgoto sem tratamento prévio, baixa biodiversidade entre outros fatores. Trata-se de uma região de alta sensibilidade ambiental, sujeita a pressão de atividades humanas, principalmente devido aos condicionantes como industrialização, comércio informal e ocupações irregulares (BOORI, 2011). Especialmente as comunidades ribeirinhas que viviam e sobreviviam do rio foram as mais afetadas. Sendo assim, é IV Encontro de Desenvolvimento e Meio Ambiente 30 e 31 de maio de 2016 | Recife - Pernambuco LIVRO DE RESUMOS 9 importante frisar o que Diegues (apud FRAXE; PEREIRA; WITKOSKI, 2007) nos diz sobre as populações tradicionais, para ele essas populações têm uma relação profunda com a natureza e acolhe com sabedoria o que ela oferece, o rio é a fonte principal de sobrevivência dos ribeirinhos. Assim, o desenvolvimento como sinônimo de crescimento tem afetado de forma direta o rio Apodi-Mossoró e sua população ribeirinha. Para que efetivamente seja garantido o direito dos povos tradicionais são necessárias a constante compreensão e expressão da realidade além da participação da comunidade como processo decisório para a preservação desse patrimônio local. Este artigo tem por objetivo analisar o modelo de desenvolvimento econômico na cidade de Mossoró-RN e seus impactos no entorno do rio Apodi-Mossoró, gerados pela ausência de planejamento urbano. MATERIAL E METODOLOGIA A cidade de Mossoró está situada no semiárido do Rio Grande do Norte Brasileiro. Sua economia gira em torno do petróleo, produção de sal, comércio varejista e fruticultura irrigada. Assim, Mossoró é uma referência de desenvolvimento para região do oeste potiguar, considerada uma das cidades de médio porte brasileira, estando na segunda colocação de cidade mais populosa do estado (IBGE, 2016). A pesquisa ora apresentada foi realizada no período de abril a maio de 2016 no município de Mossoró e a sua escolha é justificada pelo processo de urbanização gerado pelas atividades econômicas e que acarretam impactos sociais e ambientais para as populações mais vulneráveis localizados as margens do Rio Apodi-Mossoró. O desenvolvimento da referida pesquisa se deu por meio de investigação bibliográfica através de literatura especializada, com os seguintes temas: desenvolvimento econômico, expansão urbana e planejamento socioambiental; pesquisa documental; visita in loco ao rio Apodi-Mossoró na zona urbana de Mossoró como também a subsecretaria de meio ambiente da prefeitura de Mossoró durante o mês de abril de 2016.

 RESULTADOS E DISCUSSÃO A pesquisa indica que o processo de desenvolvimento econômico na cidade de Mossoró tem acarretado danos ao rio Apodi-Mossoró e ribeirinhos através de atividades poluidoras como descarte inadequado de resíduos nas margens, crescimento populacional próximo ao rio, ausência de saneamento básico para essa população e assim sendo há o despejo inadequado dos esgotos no rio. O despreparo dos setores públicos, responsáveis pelo planejamento urbano é revelado nos impactos negativos sobre o corrente rio. O fato de contar com uma subsecretaria de meio ambiente, conforme previsto em visita, a mesma não significa que tenha resultado em aprendizado para os moradores próximos ao rio, visto que a subsecretaria tem poucos funcionários e grande demanda. No caso dos ribeirinhos, onde as famílias viviam dos recursos na atividade da pesca, constatou-se que os impactos negativos ocasionados pela poluição do rio levaram os mesmos a sobreviverem a trabalhos oriundos do comércio informal algumas dessas atividades sequer tem relação com a pesca.

CONCLUSÕES A necessidade de planejar a zona urbana em Mossoró se evidencia pelo crescimento populacional que nos últimos atingiu cerca de 5% (IBGE, 2016), deve-se levar em conta que este aumento acarretou danos ao rio Apodi-Mossoró como já apontado anteriormente. Observou-se um processo de degradação ambiental, este inclusive acarretou danos visíveis aos ribeirinhos. Nesse caso constatou-se que a ausência do planejamento contribui para ocupações desordenadas, causando sérios e graves danos ao ecossistema. Diante do exposto, se conclui que a apropriação e consequente utilização do espaço as margens do rio Apodi-Mossoró evoluiu para o estágio de degradação ambiental do mesmo. Degradação esta que constitui alguns dos impactos negativos decorrentes do modelo destrutivo de desenvolvimento econômico. Assim, o desenvolvimento sem planejamento urbano quase sempre causam graves e sérios danos a este rio, além de irem de encontro às leis ambientais. Desta maneira, sendo o rio Apodi-Mossoró um importante recurso hídrico para o estado, cujo valor extrapola a preservação do meio ambiente, se destacando também pela IV Encontro de Desenvolvimento e Meio Ambiente 30 e 31 de maio de 2016 | Recife - Pernambuco LIVRO DE RESUMOS 11 relevância social para os moradores dos bairros as margens, deve ser preservado e protegido das ações que lhes são danosas.

 REFERÊNCIAS 

BOORI, M. s. Avaliação de impacto ambiental e gestão dos recursos naturais no estuário Apodi-Mossoró, Nordeste do Brasil. 2011. 188 p. Tese (Doutorado em Geodinâmica e Geofísica) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2011.

FRAXE, T. J. P.; PEREIRA, H. S.; WITKOSKI, A. C. Comunidades ribeirinhas amazônicas: modos de vida e uso dos recursos naturais. Manaus: EDUA, 2007.

 GOLDEMBERG, J.; LUCON, O. Energia, meio ambiente e desenvolvimento. 3. ed. São Paulo: Universidade de São Paulo. 2008.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Cidades@. Disponível em: . Acesso em: 02 maio 2016. 

SECRETARIA DO MEIO AMBIENTE DOS RECURSOS HÍDRICOS. Sistema de informações: bacia Apodi/Mossoró. Disponível em: . Acesso em: 02 maio 2016.


IV Encontro de Desenvolvimento e Meio Ambiente 30 e 31 de maio de 2016 | Recife - Pernambuco LIVRO DE RESUMOS 10

quinta-feira, 9 de junho de 2016

MAPA DOS REGIMES DE CHUVA DO NORDESTE BRASILEIRO



                  Este mapa corresponde aos diversos regimes pluviométricos da Região Nordeste do Brasil.   Foi originalmente concebido pelos geógrafos Gilberto Osório de Andrade e Rachel Caldas Lins.    Os regimes de chuvas foram designados segundo a terminologia de Koppen, adaptada ao Brasil.
                 A versão original está no livro Nordeste, o Meio e a Civilização, de Vasconcelos Sobrinho, publicado pelo CONDEPE.



CONSIDERAÇÕES SOBRE A ESTRATIGRAFIA DOS SEDIMENTOS CENOZÓICOS EM PERNAMBUCO ( GRUPO BARREIRAS)


Estou disponibilizando o clássico artigo "  CONSIDERAÇÕES SOBRE A ESTRATIGRAFIA DOS SEDIMENTOS CENOZÓICOS EM PERNAMBUCO ( GRUPO BARREIRAS), redigido por João José Bigarella e Gilberto de Osório de Andrade, úblicado na revista do ICT, da Universidade do Recife, em 1964.




















domingo, 5 de junho de 2016

NEOTECTONISMO NA MARGEM CONTINENTAL BRASILEIRA?



NEOTECTONISMO NA MARGEM CONTINENTAL BRASILEIRA?
                                       Lucivânio Jatobá


            A Neotectônica volta-se fundamentalmente para a ação e os efeitos dos processos  tectônicos ditos modernos, ou seja, aqueles que teriam acontecido no Neógeno-Quaternário. Em outras palavras, os fenômenos  neotectônicos seriam aqueles ocorridos de 2.600.000 de anos até o Presente.

 É  necessário lembrar que ainda existe uma certa controvérsia com relação à idade a partir da qual os fenômenos estruturais podem ser tidos como  neotectônicos. Há autores, por exemplo, que os  consideram como sendo os que ocorreram do Cretáceo ao Holoceno. Há outros, como por exemplo Y. Hasui (1990), que preferem a utilização do termo “tectônica ressurgente”, ao se referirem à reativação de falhamentos  pré-cambrianos acontecidos, no Brasil, durante o Cenozóico.

            Em 1948, o geólogo russo V. Obruchev apresentou uma interessante classificação dos  movimentos neotectônicos. Segundo tal autor, esses movimentos   são:
a)    Movimentos Alpinos
b)    Movimentos Recentes ( do Plioceno ao Quaternário)
c)    Movimentos Atuais.

São vários os indícios dos movimentos neotectônicos na superfície terrestre. Os que mais se destacam são:
-falhamentos em depósitos sedimentares plio-pleistocênicos.
-dobramentos que afetam camadas sedimentares terciárias e/ ou quaternárias.
-terraços marinhos e fluviais deformados.
-superfícies de erosão desniveladas ou assimetricamente dispostas.
-ocorrência de cachoeiras ( excluindo-se as interferências litológicas).
-lagos tectônicos na base de uma elevação.
-abalos sísmicos freqüentes nas proximidades de uma escarpa de falhas.
-meandros encaixados.

            Ainda existe um certo ceticismo com relação à existência de uma neotectônica no Brasil. Algumas razões são apontadas para justificar tal ceticismo:
- é possível a ocorrência de fenômenos neotectônicos numa margem passiva  de uma placa litosférica como a Sulamericana?
-   o número de sismos verificados no Brasil é muito pequeno, sobretudo quando comparado com os que se verificam em outras áreas tectonicamente ativas do planeta.
-  Não seriam as mudanças climáticas cenozóicas a principal causa do policiclismo do relevo brasileiro?

            As idéias sobre a ocorrência de manifestações neotectônicas no território brasileiro não são recentes. Diversos autores já fizeram referências a fenômenos dessa natureza no Brasil. Um dos trabalhos mais interessantes sobre esse tema foi o artigo intitulado “Vales tectônicos na planície amazônica” , escrito por Hilgard O’Reilly Sternberg, em 1950 e publicado na Revista  Brasileira de Geografia, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).  Naquele clássico trabalho, Sternberg chama a atenção para dois importantes aspectos da hidrografia amazônica que poderiam levar à suspeita de vales tectônicos jovens na região. Os indícios apresentados foram o paralelismo de alguns afluentes da margem esquerda do Amazonas e o padrão de drenagem retangular existente na Bacia Amazônica.

            Um outro autor que examinou mais detalhadamente a questão foi Rui Osório de Freitas, em seu artigo “Ensaio sobre o relevo tectônico do Brasil”, publicado em 1951, na Revista Brasileira de Geografia, do IBGE. Esse foi um trabalho mais vertical sobre as interferências tectônicas modernas sobre o relevo brasileiro. Rui Osório de Freitas afirmou que:
            As forças tectônicas, de natureza epirogênica, impuseram ao Brasil deformações caracterizadas por um relevo de bacias e planaltos, arqueamentos, muralhas , fossas e vales de afundamento , que dirigiram a geologia brasileira desde o Devoniano.”

            Esse autor  apontou, no artigo mencionado, vários indícios dessa ação tectônica no País:
            -drenagem dirigida para o interior da Bacia do Paraná;
            -altitudes crescentes das serras do Mar e da Mantiqueira;
            -arqueamento e ruptura da Serra do Mar e da Mantiqueira;
            -inclinação do peneplano ( sic) nordestino de W.NW a E. SE;
            -o “planalto da Borborema”, como o do Atlântico, é assimétrico. Possui o escarpamento de falha voltado para o lado oriental, bem marcado em Pernambuco e descamba gradualmente para o interior, exatamente como o planalto limitado pela escarpa da Serra do Mar.

Um outro autor que tratou das ações neotectônicas no Brasil foi o geógrafo francês Francis Ruellan, no clássico trabalho, sobre a Geomorfologia brasileira, “ O Escudo Brasileiro e os Dobramentos de Fundo” .  Ruellan, que influenciou consideravelmente toda uma geração de geógrafos físicos  do Brasil, identificou e mapeou as antigas linhas de dobramentos de fundo, que foram reativadas durante o Cenozóico, identificando as suas principais direções, por ele assim designadas:  Direção E-O; Direção “Brasileira” ( NE-SO) e Direção “Caraíba”(NO-SE).  Essas são as direções verificadas sobretudo no Nordeste do Brasil.

Gilberto Osório de Andrade e Rachel Caldas Lins, no artigo “Introdução à Morfoclimatologia do Nordeste do Brasil”, insistiram em afirmar que o relevo nordestino havia sofrido os efeitos de um tectonismo recente. Ao examinarem o núcleo pré-cambriano do Nordeste Oriental, esses autores concluíram que o núcleo referido esteve submetido à maior parte dos mesmos dobramentos de fundo que afetaram o Escudo Brasileiro, e  que, no Terciário Inferior, estes  teriam voltado a funcionar modestamente.

Essas idéias estruturalistas foram também aceitas por João José Bigarella e Gilberto Osório de Andrade, no artigo “Considerações sobre a estratigrafia dos sedimentos cenozóicos em Pernambuco- o Grupo Barreiras”  Esses autores consideraram que a partir do Terciário Inferior, a porção nordestina do escudo pré-cambriano brasileiro foi submetida a um soerguimento  epirogênico a cujo mecanismo esteve ligado o fato de terem voltado a funcionar antigos dobramentos de fundo das direções NE-SO ( direção “Brasileira”) e NO-SE ( direção “ Caraíba”), acompanhadas de falhas e fraturas.  Andrade e Bigarella consideraram, ainda, a participação da “flexura continental”, tese defendida por Boucart, em 1950, como de fundamental importância para a retenção dos sedimentos que compõem o Grupo Barreiras, na faixa oriental do Nordeste brasileiro.

“ O modo por que a formação Guararapes foi depositada na periferia atlântica do Nordeste induziu Andrade ( 1955, p.34), Dresch ( 1957) e Birot ( 1957) a configurarem uma deformação do tipo flexura continental que, segundo Boucart ( 1950), afeta geralmente os bordos dos continentes. Já Ruellan ( 1952) assinalara uma flexura da direção “Brasileira”(SW-NE) ao longo de toda a costa oriental do país, considerando ainda que os dobramentos dessa direção parecem os mais recentes na tectônica do escudo Brasileiro. Dresch e Birot admitiram que essa deformação teria ocorrido desde o Cretáceo, ou mesmo antes, tendo voltado a funcionar no Cenozóico.  Segundo Boucart, a linha axial da flexura é móvel e pode se deslocar, no correr dos tempos, quer para o interior do continente ( alargamento da zona subsidente), quer para o mar (alargamento da zona soerguida). Teria sido , então, na zona costeira subsidente alargada durante a reativação cenozóica que a acumulação dos depósitos correlativos da pediplanação se efetuou.”
(Andrade, 1968, p.6)

            Na década de 1970, Rachel Caldas Lins ( 1974), no livro “Aspectos gerais do Agreste pernambucano, epecialmente Caruaru”, publicado pela Fundação Joaquim Nabuco, voltou a defender a participação do neotectonismo na elaboração do relevo nordestino.  A autora adovoga que o Pd3 foi elaborado com a participação do tectonismo epirogenético ocorrido no Oligoceno. Essa superfície de erosão teria sido exaltada e a conseqüência principal desse fato foi a elaboração de um novo pediplano, o Pd2, no Plioceno Inferior. O Pd2, por sua vez, sofreu deformação tectônica que colaborou para a formação de uma nova superfície de erosão, o Pd1, fato este que se fez acompanhado de falhas e fraturas.

            José Salim, Maria do Socorro Lima e J.M. Mabesoone, ainda nos anos 70, estudando a Geomorfologia da faixa costeira oriental do Rio Grande do Norte identificaram diversos vales estruturais, do tipo “graben”, de idade recente, provavelmente do Quaternário Inferior. Tratam-se de vales mais novos do que a formação Guararapes e mais antigos do que a formação Macaíba, no Rio Grande do Norte. O amplo vale do Curimataú, por exemplo, na faixa de contato entre o cristalino pré-cambriano e os sedimentos Barreiras, encontra-se profundamente relacionado com um falhamento NE-SO. Os outros vales influenciados por um neotectonismo no Rio Grande do Norte são os rios Jacu, Trairí, Jundiaí e Potengi.

            Mais recentemente, Allaoua Saadi ( 1993), apresentou um importante esboço com algumas interpretações preliminares da neotectônica da Plataforma Brasileira.  Nesse didático e bem estruturado trabalho de síntese, Saadi ressalta que um dos fatos marcantes da Neotectônica no Nordeste brasileiro está representada por um domeamento crustal de escala regional, composto por vários eixos menores de direção NE-SW. Outras evidências do neotectonismo, apontadas pelo prof. Saadi, no Nordeste brasileiro são deslocamentos e dobramentos que teriam afetado sedimentos miocênicos e pleistocênicos no Ceará, mais especificamente a formação Camocim e alguns terraços fluviais.
           

quinta-feira, 2 de junho de 2016

ALGUMAS DEFINIÇÕES BÁSICAS PARA O ESTUDO DA GEOMORFOLOGIA ESTRUTURAL

ALGUMAS DEFINIÇÕES BÁSICAS PARA O ESTUDO DA GEOMORFOLOGIA ESTRUTURAL

                                          Lucivânio Jatobá

Serão apresentadas, a seguir, de forma bastante sintética, algumas definições e conceitos que consideramos  necessários a uma melhor compreensão de vários assuntos que comumente são abordados na disciplina Geomorfologia Estrutural.

1-Antéclise- estrutura de plataforma, tipo arco, com configuração assimétrica, composta de rochas sedimentares estendidas a partir de um centro.

2- Sinéclise- grande estrutura negativa dos crátons. As camadas sedimentares possuem inclinações suaves para o centro da bacia. ( Sinônimo- bacia sedimentar, bacia tectônica). Na parte central das sinéclise afloram osmsedimentos mais jovens, nas margens, os mais antigos..

3- Anticlinório- “Grandes conjuntos  de estruturas anticlinais. Originam-se por dobramentos regionais.

4-Astenosfera- Camada viscosa e plástica do manto superior. Localiza-se sob os continentes a uma profundidade de  mais ou menos 100 km. É a fonte dos movimentos crustais. 

5- Arco  Insular-  Sistema montanhoso submarino cujos cumes elevam-se sobre o nível do mar, formando cadeia de ilhas em arco. Associam-se às trincheiras oceânicas.

6- Batólito-  grande corpo intrusivo com contatos bruscos e uma grande espessura. Possui uma área superior a 100 km2.  Tem composição granitoide. Aflora em decorrência de fases erosivas.

7-Cinturão Ativo-  maior elemento estrutural da tectonosfera que se estende no interior dos continentes e oceanos. Apresenta uma notável atividade tectônica. Exemplificam-no: dorsais oceânicas, sistemas orogênicos e as trincheiras submarinas.

8-Correntes de Convecção do Manto-Circulação lenta  de massas do manto da Terra.

9- Cráton- elemento básico da estrutura dos continentes. Apresenta um regime tectônico estável. Possui a seguinte estrutura: piso inferior , com rochas ígneas e metamórficas; piso superior com rochas sedimentares e vulcânicas. Nos crátons a atividade vulcânica é muito fraca. Nos crátons predominam relevos relativamente planos e montanhas erodidas. “ Todas as plataformas continentais, ou seja, crátons, surgiram no lugar dos geossinclinais de idade mais antiga.  As rochas originadas durante a pré-história geossinclinal das plataformas integram seu  embasamento dobrado ou escudo.  Como regra geral, são intensamente dobrados e mais ou menos metamorfizados; em sua composição tomam parete essencial as formações magmáticas, tanto efusivas como intrusivas; entre estas últimas são específicos os granitos. .  No caso  de predominância, no embasamento, de rochas altamente metamorfizadas- gnaisses, xistos cristalinos- o  embasamento denomina-se cristalino. Este caso é comum nas plataformas antigas. O embasamento está recoberto de massas rochosas não metamorfizadas sedimentares e em alguns trechos vulcânicas, em geral fracamente alteradas, dispostas quase que horizontalmente. “( JAIN, V.E. Geotectónica general, 1)

10- Dorsais-Conjunto de sistemas montanhosos submarinos na zona axial.  Apresentam depressões conhecidas como “rifts”.

11- Escudos- a maior estrutura positiva dos crátons. Apresentam vastos afloramentos de rochas pré-cambrianas e forte metamorfismo ,   granitização  e rochas dobradas e intensamente falhadas.

12-Fossa Tectônica - zona de afundamento tectônico, delimitada por falhas paralelas.  Essa expressão é, algumas vezes empregada como sinônimo: “graben”.

13- Litosfera- é a camada rígida externa da Terra. E´ a mais rígida do planeta. É limitada na parte inferior por uma zona de baixa velocidade, que vem sendo definida, convencionalmente, por uma superfície isotérmica de 1300- 1400°C.  A litosfera é má condutora de calor. Transmite o calor recebido pela astenosfera, através da convecção, por condução e irradiação.
A litosfera é definida pela crosta continental e pela crosta oceânica, além da parte não convectiva do manto. “A porção oceãnica da litosfera é formada da mesma maneira em todo o mundo, sendo mais homogênea, e tem sido ( e pode ser) reciclada continuamente no manto. A porção continental da litosfera resiste ao processo de subdução por sua natureza física , é altamente variável e é produto de bilhões de anos de evolução.
(...) A litosfera não é monolítica, sendo constituída por um contexto composto de vários segmentos, em natureza, espessura e constituição, sendo estes considerados grandes (>100000000km²), intermediários (10000000- 1000000km²) e pequenos ( < 1000000km²) , chamados de placas litosféricas. Entre os segmentos pequenos, além das microplacas ( segmentos que devem Ter pelo menos uma margem ativa) e microcontinentes ( balizados integralmente por margens passivas), destacam-se os chamados blocos ( algum tipo de rigicez interna) e terrenos. Estes últimos são deformados internamente durante as orogêneses e geralmente afastados da sua posição original por extensões muitas vezes superiores à sua maior dimensão ( por convenção). Esta conceituação (placas grandes, intermediárias e pequenas, microcontinentes, blocos, “terrenos”, etc) é muito controvertida ainda e longe do consensual, tendo aqui sido adotadas as designações de Condie ( 1989) e Berckemann & Hsü ( 1982). O número  da segmentação da litosfera é muito grande, e sua identificação vem sendo acrescida na proporção que se intensifica o conhecimento geológico e geofísico, sendo incorreto pensar em número pequeno e finito de placas.
No contexto das placas grandes., ocorre litosfera de natureza continental e oceânica ( às vezes apenas oceânica), nos demais segmentos geralmente um ou outro tipo de litosfera é predominante, precisando ficar claro que mesmo nos segmentos da litosfera há variações laterais de composição, estrutura e comportamento muito importantes. No caso dos segmentos cada vez menores, um só tipo de litosfera costuma ocorrer.

 ( Benjamim Bley B. Neves- Crátons e Faixas Móveis)

14- Sistema Montanhoso- série de elevações mais ou menos extensas, unidas em grupos montanhosos separados por depressões intermontanas e vales fluviais.   AB’SÁBER ( 1975)   classifica as montanhas, segundo a origem em: montanhas de dobramento,  montanhas dômicas, montanhas de blocos falhados,  montanhas vulcânicas, escarpas de falha, escarpas de erosão e minimontanhas. Eis as definições  apresentadas pelo autor (op. cit, p. 30 e 31) para essas formas de relevo:
Montanhas de dobramentos: cordilheiras oriundas do dobramento de camadas originalmente depositadas no fundo dos mares. Após os dobramentos, as camadas dobradas são soerguidas a milhares de metros de altura, sulcadas  pelos rios e, às vezes, por geleiras de altiitude ( exemplo: Andes , Alpes, Himalaia).
Montanhas dômicas: são camadas deformadas em forma de abóbadas. Após a ação de demorados processos erosivos, os domos podem dar origem a montanhas semicirculares, com cristas serrilhadas e abruptas para o interior das depressões dômicas e encostas suaves inclinadas para o exterior da antiga abóbada. Nas porções centrais de alguns domos foram descobertas jazidas de petróleo em profundidade.
Montanhas de blocos falhados: porções da crosta terrestre soerguidas em blocos, a diferentes alturas ( exemplo: Mantiqueira, Bocaina).
Montanhas vulcânicas: cones vulcânicos, extintos ou ativos, formados pelo acúmulo de lavas e cinzas em torno de crateras de vulcões.
Minimontanhas: área de pequena altitude relativa, porém com forte grau de acidentação.”

15- Relevos controlados por subsidência: essas morfoestruturas sofrem uma notável influência da tectônica extensional e, também de uma tectônica plástica..  São encontradas nesse grupo as seguintes morfoestruturas:  relevos planos de bacias sinclinais, grabens, fossas intermontanas ou de piemonte.

16- Rifts :  são morfoestruturas de caráter tectônico, relativamente estreitas e com grande extensão. Têm origem a partir de uma tectônica extensional ou por fenômenos de natureza termotectônica.  Um grande rift e´encontrada na África Oriental, mais especificamente na região dos  grandes lagos africanos.

( Texto complementar , para uso em aula, na disciplina Geomorfologia Estrutural, ministrada pelo autor no curso de Graduação em Geografia, Licenciatura, da Universidade Federal de Pernambuco, em 1999 )



ARMAZENAMENTO D’ÁGUA EM PEDIMENTOS DETRÍTICOS

ARMAZENAMENTO D’ÁGUA EM PEDIMENTOS DETRÍTICOS[1]

 Gilberto Osório de Andrade


Resposta dada a uma consulta dirigida ao coordenador do ICT pelo deputado estadual dr .Osvaldo Coelho:

         “Atendo, com muito prazer, pela presente, à solicitação que V. me  fez de que lhe resumisse por escrito as observações a que recentemente procedemos, acompanhados da profa. Rachel Caldas Lins, assistente de Geomorfologia da Escola de Geologia de Pernambuco, em meados de agosto próximo passado, durante excursões feitas em várias direções no município de Petrolina, deste  Estado. Essas observações tiveram como principal motivação  verificarmos a possibilidade de serem propostos  critérios morfológicos  para a determinação, ali, de áreas suscetíveis de prospecção d’água do subsolo . Critérios substancialmente morfológicos que se acrescentassem aos tectônicos propriamente ditos, ou seja: àqueles que visam os mesmos resultados mediante: a) identificação foto-analítica de ocorrência de fraturas adaptadoras das linhas de drenagem ; b) determinação do mergulho de camadas ( de gnaisses, no caso).

         Devo preliminarmente acentuar que, como professor de Geomorfologia da Escola de Geologia de Pernambuco, insisto sempre com os alunos que:
1º a utilização de critérios morfológicos para a pesquisa d’água subterrânea é de particularíssimo interesse nas regiões semi-áridas;
2º porque nas áreas evoluídas segundo o sistema morfoclimático de erosão semi-árido ( e estruturalmente representadas, no caso, por porções de velho escudo cristalino) não há que pensar , apenas, em afloramentos e mantos de alteração in situ (estes últimos , de resto, ordinariamente infreqüentes ou de fraca espessura); e sim, também, levar em conta depósitos de tipo especial ( pedimentos detríticos), que são formações sedimentares, portanto suscetíveis em princípio de armazenamento d’água meteórica.
3º mas que a utilização de tais critérios morfológicos não deprecia e muito menos invalida os critérios tectônicos; devem, em lugar disso, coadjuvar as pesquisas feitas à base destes últimos, ou ainda operar por si mesmos, quando os tectônicos não têm aplicação prática possível.

         Toda a área correspondente ao município de Petrolina e aos adjacentes apresenta-se extensivamente nivelada por um considerável aplanamento cenozóico (possivelmente plio-pleistocênico), que se consumou à custa dum relevo relativamente bem movimentado. Esse relevo pré-pliocênico seria, assim registo de paleoclima menos severo do que o atual e, em qualquer hipótese, bem diverso daquele sob a qual o aplanamento veio a evoluir. A acentuação dos desníveis dum relevo jovem, e mesmo já maduro, ocorre, com efeito, na razão  direta da concentração de drenagem ( erosão linear, de escavação de talvegue); essa concentração é típica dos climas com precipitações abundantes ou, pelo menos, bem distribuídas (paleoclima pré-pliocênico úmido tropical, no caso, segundo se deve inferir da situação geográfica da área) . Enquanto isso , as superfícies de aplanamento se elaboram sob condições climáticas caracterizadas por chuvas de volume anual escasso, concentradas , porém, numa curta estação, dando processos de escoamento superficial difuso (paleoclima) plio-pleistocênico semi-árido, semelhante ao atual , senão bem mais severo).

         Do relevo que precedeu o aplanamento, persistem hoje na área formas residuais que documentam a sucessão dos eventos cenozóicos indicados: cristas e formas menores isoladas ( inselbergue), que são remanescentes atuais de antigas massas progressivamente reduzidas mediante recuo das escarpas , e cujos perfis documentam, inequivocamente, os mencionados efeitos dum sistema de erosão semi-árido.

         O perfil característico  das escarpas em recuo ao longo dum processo de aplanamento é o chamado perfil de pedimento: do alto para baixo, ligeiramente côncavo a princípio, e depois  projetando –se em plano inclinado para o talvegue ou talvegues vizinhos. Trata-se de encostas, ou vertentes, cuja evolução se caracteriza pela rapidez com que os produtos da alteração do embasamento são removidos para baixo, pelos aguaceiros torrenciais típicos do semi-árido. Em conseqüência disso, as partes superior e média da vertente permanecem  desprovidas de manto de alteração, e o  substrato aflora geralmente  (pedimento rochoso), sob a forma de “ lajedos” . Quanto aos materiais postos assim em movimento ao longo do declive, sobrecarregam a drenagem que os transporta :uma vez alcançada a base da encosta, a competência da descarga se anula e os detritos são abandonados em massa (pedimento detrítico).

         Os produtos clásticos dessarte carregados para baixo e sedimentados como pedimento detrítico são , portanto, materiais resultantes de morfogênese mecânica, isto é,: de desagregação com que mal interferem, ou mesmo não interferem, processos químicos de decomposição ( sistema morfoclimático semi-árido). Esses depósitos de pedimentos detríticos são facilmente identificáveis : o material é rudáceo (anguloso , por não Ter sofrido longo transporte); são desprovidos de estratificação aparente, ou têm estratificação cruzada ( efeitos de sucessivos suprimentos que a drenagem episódica e sobrecarregada ora retoma, ora abandona); são mal selecionados (lâminas d’água que deslocam e misturam partículas dos mais diversos calibres); apresentam freqüentemente na massa, grânulos e seixos disseminados  nela (alta densidade do meio de remoção); e finalmente contêm partículas de minerais inalterados ( como o arcósio).

         Como V. está lembrado, nossas investigações se orientaram insistentemente, durante as excursões, para a identificação desses depósitos. E as indicações que fizemos, então, de áreas prospectáveis, tomaram como índice principal a evidência desses pedimentos detríticos, ali onde os leitos atuais dos riachos deixam-nos expostos e com satisfatória espessura.

         Esses registos sedimentológicos, aliás, nem sempre ao alcance dum controle  direto, foram por nós associados à topografia. A partir, por exemplo, do alto das cristas residuais na região ocidental do município, pudemos chamar a atenção para o fato de que, ao longo do perfil já descrito linhas atrás, a cada pedimento rochoso sucede-se um pedimento detrítico. O aspecto da caatinga ( de melhor porte e muito menos ressequida, quando não verdejante, nos pedimentos detríticos), bem como as pequenas lavouras permanentes e os bananeirais não irrigados coincidem, em posição relativa, com esses depósitos de grande porosidade, isto é: dotados de acentuada capacidade de absorção e de armazenamento d’águas pluviais. Dá V. a notícia, com efeito, duma perfuração bem sucedida , com poço de profundidade relativamente pequena e vazão satisfatória, precisamente num dos lugares por nós indicados como devendo ser prospectados com boas esperanças.

Restaria ainda mencionar que, consumando-se um apanhamento semi-árido por coalescência de pedimentos, regiões inteiras se apresentam, atualmente, sem mais formas residuais sobre aqueles eminentes. Quando isso acontece, é óbvio  que o controle topográfico do perfil de pedimento não pode ser diretamente utilizado. Contudo, como o aplanamento se opera mediante recuo de escarpas, e como  os pedimentos detríticos acumulados na base dessas vertentes hoje desaparecidas, permanecem em qualquer caso incorporados ao plano geral da superfície, há sempre que Ter em vista a hipótese de que cada  grande extensão consumadamente aplanada jaz na esteira do mencionado recuo . E, portanto, conterá, em princípio, áreas sedimentares bem confinadas em desvãos do embasamento, como depósitos correlativos do aplanamento. Toda a região que , sem formas residuais, se alastra para leste das cristas existentes na fronteira ocidental do município , está nesse caso, e merece, portanto, ser considerada.

         Finalmente, parece-nos necessário referir que, durante um ciclo de pedimentação, Ter-se-ão sucedido, numa certa medida, flutuações climáticas. Assim, quando sobrevêm condições climáticas menos severas, ou de maior umidade, a morfogênese mecânica nas encostas cede o passo a processos de alteração química ; e quando se restauram, a seguir, as condições semi-áridas, o material que é então removido para o pedimento detrítico apresenta-se argiloso ou síltico-argiloso. Temos tido a oportunidade de controlar registos dessa natureza noutras áreas de pedimentação do semi-árido em Pernambuco.  A importância do fato reside em que, quando se intercalam, num pedimento detrítico, depósitos rudáceos e horizontes argilosos, estes costumam funcionar como camadas de impermeabilização capazes de manter lençóis  freáticos a diferentes profundidades abaixo da superfície.

         Espero que estas sumárias informações e o rascunho representativo que as acompanham satisfaçam seu interesse. Se não, continuo ao seu dispor, com o melhor apreço.

Recife, 23 de outubro de 1963

Gilberto Osório de Andrade



[1] Este artigo foi na verdade um documento encaminhado pelo geógrafo Gilberto Osório de Andrade ao então deputado estadual dr. Osvaldo Coelho , em 1963. No texto, o autor examina com muita propriedade e com uma linguagem bastante didática alguns aspectos da geomorfologia do semi-árido.  Em face da importância que tem  para o processo ensino-aprendizagem da presente disciplina, ministrada no Curso de Especialização em Programação de Ensino em Geografia, resolvemos aqui transcrever o artigo supracitado, publicado originalmente na  revista Arquivos do ICT, da Universidade do Recife, nº 2, outubro de 1964. ( Nota de L. Jatobá)