A GEOGRAFIA FÍSICA NOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL
Lucivânio Jatobá[1]
A Geografia é
uma ciência cuja conceituação apresenta um certo grau de complexidade, em face
da situação epistemológica em que se encontra. Por se situar numa zona de
interseção entre as geociências e as ciências sociais, a Geografia ora é
radicalmente concebida como “ciência social”, ora como uma ciência da natureza.
Esse caráter meio híbrido tem-se transformado num certo óbice ao avanço da
educação geográfica no Brasil, com repercussões negativas sérias no processo
ensino-aprendizagem dessa importante disciplina escolar.
Durante
muitos anos, a Geografia ensinada ficava muito presa à memorização de fatos
naturais e socioeconômicos. Saber dela era possuir a capacidade incomum de
dizer altitudes dos lugares mais altos do planeta, profundidades das fossas
abissais, densidade demográfica de São Paulo, produção de petróleo do Oriente
Médio etc. Essa “Geografia” traumatizou muitas gerações de estudantes que não
possuíam uma boa memória e passou a ser conhecida como “a ciência da decoreba”. Lamentavelmente, vários professores ainda
insistem nessa Geografia superada, deixando de lado a Geografia mais ativa, de
caráter prático-utilitário.
A Geografia,
por razões fortemente didáticas, é dividida em Geografia Física
e Geografia Humana e Econômica. Na verdade, como insistem os grandes teóricos
dessa ciência, ela é uma só. Volta-se, em sua essência, à compreensão da
dialética existente entre a Natureza e a Sociedade. Essa interação precisa ser
analisada desde os anos iniciais do Ensino Fundamental, que constituem um
momento muito rico da trajetória escolar do estudante. Nesse sentido, a
formação do professor para atuar nesse nível de ensino deve contemplar a
abordagem dessa dialética, enfatizando saberes que possam ajudar a compreensão,
pelo aprendiz, da relação natureza-sociedade, a exemplo das noções de tempo e
clima. As condições climáticas ambientais são um dos mais destacados elementos
da Natureza. Exercem uma notável influência sobre as atividades humanas,
particularmente, a agricultura. Assim, é
necessário que o professor, nas dimensões conceituais de Geografia, trabalhe
exaustivamente esse tema com os seus alunos. Neste texto, de caráter didático,
voltamo-nos à abordagem de alguns aspectos relacionados ao tema Clima, que poderão ser objeto de estudo,
com o intuito de subsidiar o trabalho metodológico no ensino de Geografia nas
séries iniciais do nível fundamental.
Não serão aqui examinados apenas fatos climáticos, como algo próprio da
atmosfera terrestre, mas como fenômenos que exercem grande influência sobre a
produção do espaço geográfico, objeto de estudo da Geografia.
Os conceitos
de tempo e clima devem iniciar a abordagem dos conteúdos de climatologia nos
anos iniciais da escolaridade. Os diversos canais de televisão, no Brasil,
diariamente referem-se ao tempo, em matérias geralmente bem ilustradas com
imagens de satélite, de fácil compreensão. A criança atual vem tendo contato permanente
com essa informação geográfica fornecida pela mídia, o que não deixa de ser um
certo “privilégio” que outras gerações não tiveram. Mas, o que é mesmo tempo
meteorológico? Em que ele se diferencia de clima?
O tempo[2],
não no sentido cronológico, mas meteorologicamente falando, significa o estado
momentâneo da atmosfera sobre uma determinada região ou localidade. É algo que
se caracteriza por uma permanente mudança. O tempo pode variar de uma hora para
outra, de um dia para outro. Por exemplo, o dia pode começar com a pressão
barométrica elevada, ventos calmos e ausência de chuvas. À tarde, entretanto, a
pressão poderá cair, os ventos ficarem mais fortes e ocorrerem chuvas
abundantes. Os apresentadores de televisão falam, diariamente, de tempo, porém,
muitas vezes, cometem erros quando dizem “hoje o clima está chuvoso, mas no final de semana, na maior parte da região, o
clima estará seco!”, uma vez que quem variou foi o tempo e não o clima.
O clima é
algo mais permanente. Consiste no resultado de um certo “andamento habitual” do
tempo verificado numa região ou localidade durante mais de 30 anos. O geógrafo
Max Sorre , . em seu livro clássico
“Lês Fondements Biologiques de la Geographie Humaine ”, assim definiu clima: “o ambiente atmosférico constituído pela
série de estados da atmosfera que recobre um lugar em sua sucessão habitual”.
O clima,
levando-se em conta o fator escala, pode ser dividido em três níveis: local,
regional e zonal. O clima local é aquele observado, por exemplo no topo de uma
área serrana ou numa depressão, em espaços secos. O clima regional abrange
áreas mais amplas que as do clima local. Por exemplo, o clima semi-árido observado
no Estado da Paraíba é um clima regional. Já o clima percebido na serra úmida
dentro desse semi-arido é um exemplo de clima local. O microclima não pode ser
confundido com o clima local. Trata-se de um clima de áreas muito restritas e
nem sempre bem percebido pelo aluno. O clima verificado próximo ao solo de uma
floresta úmida diferencia-se do clima existente no topo das árvores; são
microclimas distintos, no espaço dominado pelo clima regional ou local.
As principais dimensões conceituais que devem ser tratadas nesse tema
poderiam ser assim sintetizadas:
a)
o clima exerce uma enorme influência sobre a vida dos
seres vivos e particularmente dos seres humanos;
b)
o clima pode influenciar as nossas emoções;
c)
o tempo muda de uma hora para outra, o clima não;
d)
o clima reflete as condições do ar que envolve o
planeta Terra. Entre essas condições, estão a temperatura do ar, a pressão
atmosférica, os ventos e a umidade;
e)
o clima colabora para o desenvolvimento das atividades
agrícolas ou as dificulta.
As crianças conseguem
facilmente perceber as mudanças do tempo e os seus efeitos sobre a vida das
pessoas. O uso de sombrinha, guarda-chuva e agasalhos está sempre associado a
um tempo chuvoso e/ou frio. As crianças também sentem os dissabores de um dia
em que há uma forte insolação e a temperatura do ar se eleva. Falta-lhes o
conhecimento científico dos fatores e fenômenos envolvidos nessas situações
atmosféricas adversas nas áreas em que vive. Essas mesmas crianças ainda
percebem que, numa área rural, as chuvas podem representar algo muito
importante para o plantio, especialmente numa região semi-árida. O professor
tem, assim, a oportunidade de contar com a motivação das crianças para
trabalhar objetiva e cientificamente o tema.
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