SUBSÍDIOS AO ENSINO DE
GEOGRAFIA AMBIENTAL DO ESTUÁRIO DO RIO TIMBÓ (PERNAMBUCO - BRASIL)
Bernadete Negromonte Cavalcante Bem * Lucivânio Jatobá ** -
Orientador
INTRODUÇÃO Na busca de ações pedagógicas eficientes em escolas de
ensino de 1º Grau, a pesquisa ora apresentada propõe-se a oferecer
subsídios ao ensino da Geografia numa perspectiva ambiental, utilizando
como referência a área estuarina do Rio Timbó. Neste trabalho
procurou-se enfatizar as características ambientais da área estuarina,
com ênfase nos seus aspectos naturais, potenciais e antrópicos, como
também, sugestões metodológicas a serem utilizadas por docentes em
escolas situadas às suas margens. Com o levantamento ambiental, o
professor terá o conhecimento básico sobre a área estuarina,
contribuindo para sua formação intelectual e profissional,
possibilitando a explanação do conteúdo programático em sala de aula e
em atividades de campo. E, com as sugestões metodológicas, proporcionará
a iniciação dos discentes em trabalho de natureza científica,
despertando a utilidade prática desta ciência e criando oportunidades
para que adquiram conhecimentos sobre os elementos do meio ambiente no
qual está situada a escola. Com a finalidade a que se propõe esta
pesquisa, o ambiente selecionado situa-se na planície costeira do Estado
de Pernambuco, localizado entre a Latitude 7º50 e 7º54 Sul e Longitude
34º50 e 34º53 Oeste. A área estuarina pertence à bacia hidrográfica do
Timbó, e faz parte do Grupo das Pequenas Bacias Litorâneas do Estado de
Pernambuco (GL-1), situada na Região Metropolitana do Recife - RMR,
abrangendo os Municípios de Abreu e Lima, Igarassu e Paulista. I -
CARACTERIZAÇÃO AMBIENTAL DO ESTUÁRIO DO TIMBÓ 1 - FORMAÇÃO E EVOLUÇÃO DO
ESTUÁRIO DO RIO TIMBÓ A formação do estuário do Timbó está relacionada
com fenômenos erosivos e deposicionais verificados no Quaternário
Superior na costa norte de Pernambuco, entre a Praia da Conceição, em
Paulista, e a extremidade sul da Ilha de Itamaracá. O dinamismo no
estuário do Timbó, com a deposição de sedimentos, é perceptível no
ambiente, pois nota-se o crescimento da restinga de Maria Farinha,
formada pela corrente litorânea que se dirige para o norte,
transportando sedimentos das praias situadas ao sul e as correntes de
marés na foz do rio, bem como a deposição na Ilha Coroa do Avião,
próximo ao Forte Orange. 2 - FUNDAMENTOS GEOLÓGICOS E GEOMORFOLÓGICOS DO
ESTUÁRIO E ÁREAS ADJACENTES * Secretaria de Educação do Estado de
Pernambuco Recife - Pernambuco - Brasil ** Departamento de Ciências
Geográficas Universidade Federal de Pernambuco Recife - Pernambuco -
Brasil 1
2 A bacia
hidrográfica do Rio Timbó localiza-se na bacia sedimentar costeira
denominada Pernambuco-Paraíba e abrange uma área que se estende do
Recife até o vale do Rio Mamanguape. Apresenta a distribuição
litoestratigráfica constituída por: Formação Beberibe, com predominância
de arenitos; Formação Itamaracá, com arenitos carbonáticos; as
Formações Gramame e Maria Farinha, constituídas por calcários e margas; o
Grupo Barreiras, com sedimentos areno-argilosos; e, deposição
holocênica com coberturas arenosas. Na análise geomorfológica da área
estuarina, percebem-se superfícies contrastantes. Na porção oriental, há
o predomínio das terras baixas que se estendem pela restinga de Maria
Farinha, apresentando suaves ondulações. No entanto, a oeste
encontram-se terras mais altas, produzindo fortes declividades nas
vertentes em direção ao estuário. O modelado que margeia a área em
estudo constitui-se de unidades de acumulação e dissecação, provenientes
da interação de fatores climáticos, litológicos e flúvio-marinhos,
atuando no ambiente e exercendo papel fundamental nos processos
sedimentares do estuário. 3 - FUNDAMENTOS HIDROGRÁFICOS A Bacia
Hidrográfica do Rio Timbó cobre uma superfície de 93,5km² e está
totalmente encravada sobre terrenos sedimentares mesocenozóicos (FIDEM,
1978). Pertence ao grupo de bacias de pequenos rios litorâneos (GL-1),
situados totalmente na Zona da Mata, onde as precipitações
pluviométricas distribuídas durante o ano proporcionam perenidade em
todo o seu curso. A rede hidrográfica tem como principais formadores os
rios Barro Branco e Arroio Desterro, confluindo à sua margem esquerda. E
os tributários Caetés, Queimadas, Pirajuí, Zumbi, Fábrica e Fundo, além
de riachos, canais e gamboas. O padrão de drenagem da bacia apresenta
uma disposição fluvial que se assemelha à drenagem dendrítica. 4 -
FUNDAMENTOS CLIMÁTICOS Na definição do clima característico da área da
bacia do Timbó, utiliza-se a classificação climatológica da Köppen, com o
símbolo As, que corresponde ao clima quente e úmido com chuvas de
outono-inverno. A proximidade do Oceano Atlântico exerce influência na
área através da ação dos ventos alíseos e das brisas que, sob baixas
cotas altimétricas, reduz os efeitos da insolação comum em regiões
costeiras de baixas latitudes. 2
3 5 -
COMPOSIÇÃO FLORÍSTICA Os estuários são ecossistemas de elevada
produtividade na biosfera, com um intenso fluxo energético que retém,
com eficiência, os nutrientes através dos meios físicos ou biológicos.
Alguns mecanismos que mantêm o fluxo de energia: a ação das marés,
proporcionando a circulação de nutrientes e outras matérias; o
fitoplâncton e as macroalgas, que vivem nas águas, substrato lamoso ou
fixas; e, as plantas lenhosas fixas - o mangue. O mangue encontra-se
ocupando as margens estuarinas e ilhas dispersas no canal fluvial.
Apresenta um sistema de raízes que permitem a sua fixação no substrato
lamoso, as trocas gasosas, as variações de salinidade, a viviparidade e
as constantes inundações. Desenvolvem adaptações características de cada
espécie e espalham-se nos solos halomórficos ocupando, sobretudo, os
baixios das zonas estuarinas média e superior. Essas espécies estão
representadas por: Rhizophora mangle L., Avicennia schaueriana Stapft e
Leechman, Laguncularia racemosa Gaertn e Conocarpus erectus L. 6 -
COMPOSIÇÃO FAUNÍSTICA A ocorrência das populações faunísticas numa área
estuarina acontece, sobretudo, pela abundância de alimentos, onde alguns
se dirigem temporariamente, trazidos durante o fluxo da maré e outros
dependem exclusivamente da captação dos nutrientes existentes no
ambiente; e, por ser o local ideal para procriação, penetram no
estuário, depositam seus embriões, criam-se suas larvas e, quando se
tornam adultos, abandonam a maternidade do mar e retornam para dar
continuidade ao processo reprodutivo (Bem, 1993). Na composição
faunística do estuário os moluscos, crustáceos e peixes são fundamentais
para a manutenção da vida, uma vez que constituem importantes elos na
cadeia trófica desse ambiente. Os representantes da fauna adaptada ou
visitante ocupam diversos habitats. Os moluscos são encontrados em
diversos substratos, vivendo enterrados na lama, fixados nas raízes ou
locomovendo-se sobre as árvores do mangue. Os crustáceos, os primeiros
estágios de vida desses organismos ocorrem na água, algumas espécies,
posteriormente, em outras fases, passam a viver no ambiente terrestre,
podendo ser encontrados em contínua movimentação entre as raízes e
troncos de mangue. E, os peixes locomovem-se livremente nas águas
estuarinas, podendo passar toda a sua vida ou realizando migrações. II -
POTENCIALIDADE E AÇÃO ANTRÓPICA NO ESTUÁRIO DO TIMBÓ 1 - ATIVIDADE
PESQUEIRA O aproveitamento pesqueiro do Timbó é realizado,
principalmente, pelas comunidades ribeirinhas de baixa renda que mantêm
uma relação de dependência com os recursos oferecidos por esse
ecossistema, onde muitos o utilizam como única fonte de sobrevivência, a
partir do consumo ou comercialização dos seus produtos. Os estoques
pesqueiros estão comprometidos pois a captura e a pesca indiscriminada
dos seus organismos na fase juvenil ou no período de reprodução
prejudicam o seu crescimento, levando à diminuição progressiva das
espécies. Além do que, o uso irracional das águas e margens estuarinas,
acelera o ritmo e a intensidade da degradação ambiental, provocando
danos, diretamente, a esses organismos. 3
4 2 -
APROVEITAMENTO IMOBILIÁRIO DAS MARGENS ESTUARINAS O aumento crescente do
número de residências de veraneio localizadas na porção inferior do
estuário tem contribuído para modificar a paisagem natural desse
ecossistema. As modificações ocorrem lentamente, através de processos
irreversíveis: aterros, muros de arrimo, piers e dragagens, causando
grandes problemas, de ordem ecológica, para a fauna e flora da região. A
problemática sócio-econômica, com a artificialização das margens na
porção inferior do estuário, provoca, gradativamente, uma diminuição dos
recursos pesqueiros, conduzindo os coletores tradicionais a outras
áreas do estuário. A privatização das margens, com a construção de
residências e piers, diminui as oportunidades de sobrevivência das
populações ribeirinhas, principalmente, dos pescadores artesanais, pois
impede o livre acesso, sem locais para atracar suas embarcações ou
guardar seus apetrechos de pesca. 3 - APROVEITAMENTO TURÍSTICO E DE
LAZER Nas últimas décadas, implantaram-se, nas margens do estuário
inferior e áreas adjacentes, hotéis, pousadas, marinas e restaurantes,
oferecendo infra-estrutura turística e de lazer, sem nenhum planejamento
ambiental. Além da ocupação das margens do estuário, as suas águas
calmas, com uma reduzida vazão, constituem o local propício ao
desenvolvimento de passeios turísticos, de lazer e atividades náuticas
que são oferecidos pelas marinas, Yate Clube, hotel e por particulares. A
falta de uma visão sócio-ecológica na implantação desses
estabelecimentos turísticos implicou no aterro e corte do mangue e,
conseqüentemente, na privatização das margens com a construção de muros
de arrimo, cais para atracação e piers. 4 - LANÇAMENTO DE DEJETOS
URBANOS A deficiência do saneamento básico torna o estuário uma bacia
receptora de dejetos urbanos. Esses dejetos são provenientes do
escoamento de fossas convencionais, quando infiltram-se no solo e
atingem as águas subterrâneas; canalização direta; a céu aberto, com a
construção de privadas inadequadas, sendo arrastados pela precipitação
pluvial ou infiltrados no solo, até atingir os lençóis subterrâneos. O
lançamento desses dejetos é comum em toda a região que margeia o
estuário, exemplo disso são os bairros de Timbó e Cueiras, onde existem
residências com exposição de dejetos no solo. 5 - LANÇAMENTO DE DEJETOS
INDUSTRIAIS As unidades industriais da RMR instalaram-se às margens ou
nas áreas adjacentes aos rios litorâneos. Dentre estas, encontra-se a
Bacia do Timbó, com dezenove unidades industriais. As indústrias que
lançam efluentes na bacia, conforme dados da Unidade da Região
Metropolitana da CPRH, são: uma de produtos alimentares, com efluentes
contendo matéria orgânica; três metalúrgicas, liberando metais pesados,
detergentes e material particulado do processo; uma têxtil, com líquidos
alcalinos contendo matéria 4
5
orgânica e corantes; uma química, que libera matéria orgânica e produtos
químicos; e, uma de abrasivos, com metais pesados e resinas fenólicas. 6
- LANÇAMENTO DE RESÍDUOS SÓLIDOS NO ESTUÁRIO DO TIMBÓ O lançamento
inadequado lixo urbano traz uma série de prejuízos ao ambiente estuarino
e à comunidade local, dentre os quais pode-se citar: os vidros (cacos)
que se misturam ao substrato lamoso em algumas áreas que estão sendo
evitadas pelas pescadeiras de mariscos; os plásticos, encontrados em
todo o ambiente que, quando ingeridos pela fauna, provocam bloqueio
intestinal, levando à morte dos organismos. O destino final do lixo
urbano descartado pelas comunidades locais, veranistas, marinas e
restaurantes esbarra na falta de uma coleta ordenada pelas prefeituras
locais, como também na falta de conscientização da população. III -
SUGESTÕES METODOLÓGICAS AO ENSINO DE GEOGRAFIA AMBIENTAL DA ÁREA
ESTUARINA DO TIMBÓ O ensino da Geografia nas escolas de 1º Grau, quando
voltado para o meio vivido pelo aluno, torna-se o ponto principal para a
compreensão da realidade social em que o mesmo está inserido. Partindo
desse princípio, o estudo dos elementos de natureza geográfica do
ambiente ao qual pertence a escola, por seus educandos, redireciona o
ensino dessa disciplina, no sentido em que insere no seu contexto os
elementos percebidos pelos alunos, concretizando a sua aquisição de
conhecimentos. Na realização dessa proposta, a ação educativa,
desencadeada pelo professor, consiste em explorar as experiências de
ambiente vivenciadas e percebidas pelos alunos, onde desperte a
investigação e a curiosidade científica sobre os elementos do ambiente.
No decorrer da pesquisa ambiental, através de aulas práticas, os alunos
realizarão a coleta e o registro de dados e fatos referentes aos
recursos naturais, às potencialidades, à ação antrópica e, sobretudo, às
possíveis formas do uso racional das suas águas e margens.
Simultaneamente, no transcorrer das atividades práticas no estuário,
haverá a intercalação com aulas teóricas, que proporcionaram a
compreensão das relações entre os diversos elementos desse ambiente
pelos alunos e auxiliaram na sistematização de seus conhecimentos. O
progresso das sugestões metodológicas propostas nesta pesquisa depende,
principalmente, da disposição do professor em dominar conhecimentos
através de bibliografia específica e investigação prévia na área objeto
de estudo, como também, de um planejamento com atividades ajustadas ao
nível mental e à experiência dos alunos, proporcionando a troca
simultânea de conhecimentos. 1 - PESQUISA AMBIENTAL 1.1 - Etapa Inicial
da Pesquisa O professor irá sugerir aos alunos o desenvolvimento de uma
pesquisa ambiental, discutindo a sua importância e como o seu progresso
facilitará a aprendizagem da Geografia, a partir da compreensão dos seus
elementos naturais e antrópicos do ambiente do qual faz parte. 1.2 -
Explanação de Conteúdos em Sala de Aula e Desenvolvimento do Trabalho de
5
6 Campo A
realização desta etapa depende da capacidade de organização do
professor e da seleção da metodologia adequada a ser utilizada em sala
de aula e em campo. Para isso, sugere-se que estimule os alunos à
pesquisa bibliográfica com temas referentes ao estuário, ensinando-os a
registrar os elementos e fatos geográficos percebidos neste ambiente.
1.3 - Elaboração e Conclusão O professor dividirá a turma em grupos,
para analisarem o material bibliográfico e os dados coletados nas
atividades de campo, pelos alunos. Para isso, propor uma discussão em
grupo, onde os seus componentes selecionarão e organizarão os conteúdos
mais adequados aos objetivos do trabalho, o que auxiliará na sua
conclusão final. 2 - CAMPANHA DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL 2.1 - Exposição na
Escola Após a sistematização da pesquisa ambiental, o professor
organizará com os alunos uma exposição destinada à comunidade escolar e a
local, utilizando como recursos: painéis, maquetes, dramatização,
excursões ao estuário. É interessante que os alunos transformem os
observadores em membros participativos. 2.2 - Campanhas Diversas A
partir do conhecimento adquirido com a pesquisa ambiental, propõe-se ao
professor desenvolver, com os alunos, uma campanha de conscientização
ecológica com a população usuária das suas águas e margens, seja através
de visitas domiciliares ou no próprio ambiente; e, como intercâmbio
cultural, através de excursões programadas, que atenderiam a outras
unidades de ensino da RMR. Indica-se, ainda, que os alunos fiscalizem as
mudanças ambientais provocadas pelo uso inadequado da área em estudo e
passem a denunciar e a exigir a aplicação da legislação vigente pelos
órgãos governamentais. CONSIDERAÇÕES FINAIS A caracterização ambiental
do estuário, com as suas potencialidades e ação antrópica, oferece
subsídios ao ensino da Geografia Ambiental em escolas de 1º Grau das
suas áreas adjacentes. Com esta visão, a proposta de sugestões
metodológicas a serem utilizadas por professores dessas escolas,
facilitará a aquisição de conhecimentos pelos alunos. Com o
desenvolvimento das sugestões metodológicas voltadas ao ensino dessa
disciplina, através de aulas teóricas e práticas, os alunos passarão a
perceber e a se integrar com os diversos elementos do seu ambiente,
permitindo a sua vivência em situações concretas, ao sistematizar seus
conhecimentos sobre esse ecossistema. No propósito de dinamizar o ensino
nas escolas que margeiam o estuário, as sugestões metodológicas
propostas nesta pesquisa não estão inacabadas. É necessária uma
análise sistematizada e o desenvolvimento de adaptações a serem
realizadas pelos professores, conforme a realidade da escola e o
desenvolvimento cognitivo dos alunos. Conclui-se, ainda, que, para a
realização dessa proposta de estudo, o professor deverá seguir um
planejamento, com atividades estimuladoras, criadas em conjunto com os
discentes.
BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA
BEM, B.N.C. et alii. (coordenação).
Macrofauna: fonte alimentar do manguezal de Vila Velha - Itamaracá-PE.
Relatório do Colégio Dom Bosco de Olinda. Olinda, 1993. 52p.
DEMO, P.
Desafios modernos da educação. Petrópolis: Vozes, 1992, 263p.
FIDEM.
Plano Diretor Urbanístico do estuário do rio Timbó. Recife, Governo de
Pernambuco, 1978. p.
LIBÂNEO, J.C. Didática. São Paulo: Cortez, 1992.
261p. 7
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