O
RELEVO TERRESTRE E A ESTRUTURA GEOLÓGICA
Autor: Prof. Lucivânio Jatobá
A expressão estrutura,
quando empregada na análise geomorfológica, tem um sentido muito
amplo. Estrutura não significa apenas a rocha, mas um conjunto de fenômenos, que compreendem, por exemplo: os
movimentos tectônicos e seus efeitos, a disposição das camadas rochosas, a
maior ou menor dureza das rochas , os movimentos epirogenéticos, dentre outros.
Os movimentos tectônicos
são provocados por esforços internos do planeta. São responsáveis pela ruptura
dos corpos rochosos, pelos enrugamentos do terreno, além do arqueamento e a
subsidência de amplas áreas da superfície terrestre. Os tipos de relevo que
resultam das ações tectônicas são conhecidos como relevos morfotectônicos. Na
verdade, são morfoestruturas, na concepção de Guerasimov.
No ensino de Geografia,
os relevos morfotectônicos podem ser bem explorados em classe e no trabalho de
campo, em algumas áreas do Nordeste. Em classe, o emprego de desenhos simples e
esquemáticos de falhas e dobras, que são dois dos mais comuns relevos
morfotectônicos, pode se constituir num rico recurso didático. As falhas e os
restos de antigos dobramentos são relativamente freqüentes no Escudo
Brasileiro, e em particular nos terrenos cristalinos do Nordeste brasileiro.
Que sugestões podem ser aqui apontadas para o ensino desse tema?
1- O Relevo em
Estruturas Falhadas e Dobradas
Uma falha é uma ruptura de
continuidade verificada no terreno com o conseqüente deslocamento de um bloco
rochoso contra o outro. As rochas ígneas
e as metamórficas são as que mais reagem aos esforços tectônicos falhando-se,
mesmo que esses esforços sejam convergentes.
As falhas deixam suas marcas na
paisagem geomorfológica. Essas marcas podem ser de caráter geomorfológico ou
petrográfico. E são essas marcas que devem ser exploradas pelo professor de
Geografia. As principais evidências de falhamentos no campo são: escarpas
retilíneas, terraços anormalmente dispostos, vales suspensos, presença de
facetas triangulares e trapezoidais e a presença de rochas do tipo milonito,
freqüentes, no Nordeste, ao longo dos Lineamentos Pernambuco e Patos, por
exemplo.
Em sala de aula, o professor de
Geografia pode mostrar aos alunos mapas hipotéticos com padrões de drenagem
indicadores de falhas e/ ou fraturas, ou seja, padrões retangulares. A exibição
de transparências contendo cópias de imagens de satélite ou de radar com
texturas que denunciem morfoestruturas de falhas.
As dobras são ondulações das camadas
rochosas acarretadas por esforços tectônicos de compressão. São estruturas
geológicas típicas de margens ativas de placas litosféricas. Os grandes
dobramentos que atualmente se salientam nas paisagens globais ( Andes,
Himalaia, Rochosas, Grande Atlas etc) fazem parte de sistemas orogenéticos
profundamente dobrados e relativamente recentes. As dobras que existem
disseminadas pelo território brasileiro são muito antigas e foram submetidas a
prolongadas fases de erosão. Faltam, portanto, no País, sistemas orogenéticos
modernos, como aqueles que são vistos nas áreas de colisão de placas.
Dois tipos básicos de
morfoestruturas de áreas dobradas podem ser referidos: relevo jurássico e
relevo apalachiano. O relevo jurássico, que não existe no Brasil, resulta de um
conjunto de dobras simples que se encontram
numa fase “inicial” do processo erosivo. E´o relevo que caracteriza os Montes
Jura, na fronteira da França com a Suíça. O relevo apalachiano é o resultado da
evolução avançada do relevo jurássico. Constitui-se de um conjunto de cristas e
serras mais ou menos paralelas, produzidas pelos complexos mecanismos da erosão
diferencial.
“Para
que ocorra o relevo apalachiano, são necessárias as seguintes condições:o material rochoso dobrado e que foi arrasado pela erosão deve ser
heterogêneo; ocorrência de afloramentos paralelos de camadas rochosas duras e
tenras;existência de um fenômeno tectônico capaz de acarretar o levantamento da
área para provocar uma retomada das ações erosivas.Esse tipo de relevo
desenvolvido em estruturas dobradas apresenta, em geral, estas características:
cristas paralelas, conjunto de vales que geralmente se dispõem sobre rochas
tenras; rede de drenagem superimposta.” (JATOBÁ & LINS- 1998, p.45-46)
Um número considerável de livros
didáticos de Ensino Fundamental e do Ensino Médio ilustra o relevo dobrado
apenas com feições que são típicas do relevo jurássico. Assim, o professor
precisa mostrar aos alunos que esse é somente uma modalidade de relevo em
estruturas dobradas. A ênfase, na nossa opinião, deve ser para o relevo
apalachiano, que pode ser encontrado em várias áreas do País.
Outro aspecto que pode ser explorado
pelo professor de Geografia, quando abordar esse tema, é a presença das
gargantas de superimposição da drenagem, conhecidas regionalmente como
boqueirões. Grande parte dos boqueirões
desenvolve-se em cristas de atitude apalachiana.
A disposição das camadas rochosas é
outro elemento estrutura de grande importância na definição de certas
morfoestruturas. As camadas rochosas, particularmente as sedimentares, dispõem
na superfície terrestre de duas maneiras: horizontal e inclinada. Numa bacia
sedimentar, as camadas sedimentares ficam horizontalmente dispostas no centro
dessa unidade geotectônica. Na periferia de uma bacia sedimentar que não foi
tectonicamente perturbada, as camadas sedimentares encontram-se inclinadas
e mergulhando para o centro dessa
unidade.
As camadas sedimentares
horizontalmente dispostas originam morfoestruturas do tipo chapada. As inclinadas da periferia das bacias
contribuem para a gênese de um relevo dessimétrico, que recebeu a denominação
de “cuestas”, como por exemplo a da Ibiapaba, que impropriamente ficou
conhecida como “Serra” da Ibiapaba.
No Nordeste, uma outra impropriedade
terminológica acabou sendo consagrada, lamentavelmente. Nos referimos à
expressão “Chapada da Borborema”. A Borborema, sob nenhuma hipótese pode ser
referida como um chapada. Chapada e´ uma morfoestrutura desenvolvida em bacia
sedimentar. A Borborema dispõe-se em terrenos pré-cambrianos do Escudo. E´na
verdade um saldo de diversas superfícies de erosão cenozoicas.
Quando o mergulho das camadas
rochosas é mais enfático, inclusive em terrenos cristalinos e cristalofilianos,
originam-se feições de relevo conhecidas como cristas. No relevo apalachiano
essas cristas são freqüentes.
3- A Erosão
Diferencial
A erosão diferencial é um processo
de desgaste e retirada dos materiais rochosos. E´ fenômeno eminentemente seletivo, haja vista que se faz
mais enfático sobre rochas mais tenras, enquanto “poupa” os corpos litológicos
mais resistentes. Podemos afirmar, portanto, que sob um mesmo domínio
morfoclimático, rochas diferentes dão feições de relevo também diferentes.
Os numerosos inselbergues que
povoam a depressão sertaneja nos diversos Estados nordestinos exemplificam , em
sua quase totalidade, os mecanismos da erosão diferencial. Na Depressão de
Patos são vistos vários inselbergues em rochas graníticas encaixados em rochas
metamórficas, menos resistentes à erosão.
Nota-se, na fotografia, uma nítida influência da estutura geológica sobre o relevo terrestre. ( Extraído de: https://sites.google.com/site/contienentes/home/relieves)
Feições de relevo desenvolvidas em terrenos graniticos no semiárido de Pernambuco, Brasil. Localidade: Caruaru. ( Foto de Mariana Lins, 2007)
Este texto foi utilizado como material didático em aulas da disciplina Análise Climática, no curso de Ciências Ambientais da UFPE, Recife, Brasil
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