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sábado, 28 de maio de 2016

RELAÇÕES ESTRUTURA GEOLÓGICA E RELEVO



O RELEVO TERRESTRE E A ESTRUTURA GEOLÓGICA
          
Autor: Prof. Lucivânio Jatobá

A expressão estrutura, quando empregada na análise geomorfológica, tem um sentido muito amplo. Estrutura não significa apenas a rocha, mas um conjunto de  fenômenos, que compreendem, por exemplo: os movimentos tectônicos e seus efeitos, a disposição das camadas rochosas, a maior ou menor dureza das rochas , os movimentos epirogenéticos, dentre outros.
Os movimentos tectônicos são provocados por esforços internos do planeta. São responsáveis pela ruptura dos corpos rochosos, pelos enrugamentos do terreno, além do arqueamento e a subsidência de amplas áreas da superfície terrestre. Os tipos de relevo que resultam das ações tectônicas são conhecidos como relevos morfotectônicos. Na verdade, são morfoestruturas, na concepção de Guerasimov.
No ensino de Geografia, os relevos morfotectônicos podem ser bem explorados em classe e no trabalho de campo, em algumas áreas do Nordeste. Em classe, o emprego de desenhos simples e esquemáticos de falhas e dobras, que são dois dos mais comuns relevos morfotectônicos, pode se constituir num rico recurso didático. As falhas e os restos de antigos dobramentos são relativamente freqüentes no Escudo Brasileiro, e em particular nos terrenos cristalinos do Nordeste brasileiro. Que sugestões podem ser aqui apontadas para o ensino desse tema?



1- O Relevo em Estruturas Falhadas e Dobradas

            Uma falha é uma ruptura de continuidade verificada no terreno com o conseqüente deslocamento de um bloco rochoso  contra o outro. As rochas ígneas e as metamórficas são as que mais reagem aos esforços tectônicos falhando-se, mesmo que esses esforços sejam convergentes.
            As falhas deixam suas marcas na paisagem geomorfológica. Essas marcas podem ser de caráter geomorfológico ou petrográfico. E são essas marcas que devem ser exploradas pelo professor de Geografia. As principais evidências de falhamentos no campo são: escarpas retilíneas, terraços anormalmente dispostos, vales suspensos, presença de facetas triangulares e trapezoidais e a presença de rochas do tipo milonito, freqüentes, no Nordeste, ao longo dos Lineamentos Pernambuco e Patos, por exemplo.
            Em sala de aula, o professor de Geografia pode mostrar aos alunos mapas hipotéticos com padrões de drenagem indicadores de falhas e/ ou fraturas, ou seja, padrões retangulares. A exibição de transparências contendo cópias de imagens de satélite ou de radar com texturas que denunciem morfoestruturas de falhas.
            As dobras são ondulações das camadas rochosas acarretadas por esforços tectônicos de compressão. São estruturas geológicas típicas de margens ativas de placas litosféricas. Os grandes dobramentos que atualmente se salientam nas paisagens globais ( Andes, Himalaia, Rochosas, Grande Atlas etc) fazem parte de sistemas orogenéticos profundamente dobrados e relativamente recentes. As dobras que existem disseminadas pelo território brasileiro são muito antigas e foram submetidas a prolongadas fases de erosão. Faltam, portanto, no País, sistemas orogenéticos modernos, como aqueles que são vistos nas áreas de colisão de placas.
            Dois tipos básicos de morfoestruturas de áreas dobradas podem ser referidos: relevo jurássico e relevo apalachiano. O relevo jurássico, que não existe no Brasil, resulta de um conjunto de dobras simples  que se encontram numa fase “inicial” do processo erosivo. E´o relevo que caracteriza os Montes Jura, na fronteira da França com a Suíça. O relevo apalachiano é o resultado da evolução avançada do relevo jurássico. Constitui-se de um conjunto de cristas e serras mais ou menos paralelas, produzidas pelos complexos mecanismos da erosão diferencial.
            “Para que ocorra o relevo apalachiano, são necessárias as seguintes  condições:o material rochoso dobrado e  que foi arrasado pela erosão deve ser heterogêneo; ocorrência de afloramentos paralelos de camadas rochosas duras e tenras;existência de um fenômeno tectônico capaz de acarretar o levantamento da área para provocar uma retomada das ações erosivas.Esse tipo de relevo desenvolvido em estruturas dobradas apresenta, em geral, estas características: cristas paralelas, conjunto de vales que geralmente se dispõem sobre rochas tenras; rede de drenagem superimposta.” (JATOBÁ & LINS- 1998, p.45-46)
            Um número considerável de livros didáticos de Ensino Fundamental e do Ensino Médio ilustra o relevo dobrado apenas com feições que são típicas do relevo jurássico. Assim, o professor precisa mostrar aos alunos que esse é somente uma modalidade de relevo em estruturas dobradas. A ênfase, na nossa opinião, deve ser para o relevo apalachiano, que pode ser encontrado em várias áreas do País.
            Outro aspecto que pode ser explorado pelo professor de Geografia, quando abordar esse tema, é a presença das gargantas de superimposição da drenagem, conhecidas regionalmente como boqueirões. Grande parte dos boqueirões  desenvolve-se em cristas de atitude apalachiana.



2- O Papel da Disposição das Camadas Rochosas

            A disposição das camadas rochosas é outro elemento estrutura de grande importância na definição de certas morfoestruturas. As camadas rochosas, particularmente as sedimentares, dispõem na superfície terrestre de duas maneiras: horizontal e inclinada. Numa bacia sedimentar, as camadas sedimentares ficam horizontalmente dispostas no centro dessa unidade geotectônica. Na periferia de uma bacia sedimentar que não foi tectonicamente perturbada, as camadas sedimentares encontram-se inclinadas e  mergulhando para o centro dessa unidade.
            As camadas sedimentares horizontalmente dispostas originam morfoestruturas do tipo chapada.  As inclinadas da periferia das bacias contribuem para a gênese de um relevo dessimétrico, que recebeu a denominação de “cuestas”, como por exemplo a da Ibiapaba, que impropriamente ficou conhecida como “Serra” da Ibiapaba.
            No Nordeste, uma outra impropriedade terminológica acabou sendo consagrada, lamentavelmente. Nos referimos à expressão “Chapada da Borborema”. A Borborema, sob nenhuma hipótese pode ser referida como um chapada. Chapada e´ uma morfoestrutura desenvolvida em bacia sedimentar. A Borborema dispõe-se em terrenos pré-cambrianos do Escudo. E´na verdade um saldo de diversas superfícies de erosão cenozoicas.
            Quando o mergulho das camadas rochosas é mais enfático, inclusive em terrenos cristalinos e cristalofilianos, originam-se feições de relevo conhecidas como cristas. No relevo apalachiano essas cristas são freqüentes.

3- A Erosão Diferencial

            A erosão diferencial é um processo de desgaste e retirada dos materiais rochosos. E´ fenômeno  eminentemente seletivo, haja vista que se faz mais enfático sobre rochas mais tenras, enquanto “poupa” os corpos litológicos mais resistentes. Podemos afirmar, portanto, que sob um mesmo domínio morfoclimático, rochas diferentes dão feições de relevo também diferentes.
             Os numerosos inselbergues que povoam a depressão sertaneja nos diversos Estados nordestinos exemplificam , em sua quase totalidade, os mecanismos da erosão diferencial. Na Depressão de Patos são vistos vários inselbergues em rochas graníticas encaixados em rochas metamórficas, menos resistentes à erosão.
Nota-se, na fotografia, uma nítida influência da estutura geológica sobre o relevo terrestre. ( Extraído de:  https://sites.google.com/site/contienentes/home/relieves)


                     Observa-se  na figura a influência da  disposição das camadas sobre as formas de relevo. (Extraída e modificada de : http://vocabulariogeografico.blogspot.com.br/2011/11/relieve-aclinal.html )




                                                                         
                         Feições de relevo desenvolvidas em terrenos graniticos no semiárido de Pernambuco, Brasil. Localidade: Caruaru.   ( Foto de Mariana Lins, 2007)

Este texto foi utilizado como material didático em aulas da disciplina Análise  Climática, no curso de Ciências Ambientais da UFPE, Recife, Brasil


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