Sedimentação e Tectônica
Kenitiro Suguio
A tectônica
sedimentar ocupa-se com o estudo detalhado das relações entre o tectonismo e as
propriedades dos sedimentos acumulados. O vínculo inalienável existente entre a
sedimentação e a tectônica tem sido reconhecido praticamente por todos os
autores que se dedicaram ao assunto. Via de regra, pode-se admitir que toda
sedimentação tem uma causa tectônica, ainda que remota, como nos depósitos
eólicos.
O
tectonismo pode ser entendido como o comportamento estrutural da parte da
crosta terrestre, durante ou entre os maiores ciclos de sedimentação,
abrangendo a área-fonte e o ambiente de sedimentação (âmbito geográfico de
acumulação de sedimentos).
As
principais variáveis determinantes das características de uma rocha sedimentar
são:
1-
Natureza da rocha-fonte
2-
Expressão topográfica e relevo da
área-fonte
3-
Distribuição dos elementos tectônicos
na fonte e área de deposição
4-
Agentes geológicos que transportam os
sedimentos até o sítio deposicional
5-
Intensidade do tectonismo em cada
elemento tectônico
6-
Tipo de ambiente reinante na área de
sedimentação
7-
Condições climáticas ( da área-fonte e
do sítio de deposição).
Em geral,
deve-se esperar por uma combinação desses fatores refletindo na definição das
propriedades das rochas sedimentares . Logicamente, um ou mais desses fatores
tornam-se preponderantes em detrimento dos demais, obedecendo a
condicionamentos locais. Os fatores a e b podem estar ligados ao ambiente
tectônico regional, na medida em que principalmente o fator b traduz as
intensidades tectônica, epirogênica ou orogênica da área-fonte. Os fatores c e
e estão claramente ligados ao ambiente tectônico regional. Os fatores d e f
estão relacionados ao ambiente geográfico-geomorfológico de sedimentação, mas
também são afetados pelo tectonismo, que pode modificar amplamente o nível de
base regional. A tectônica controla a sedimentação em cada estágio do ciclo
geológico da formação de sedimentos, estabelecendo as taxas de levantamento e erosão,
determinando o gradiente das superfícies topográficas pelas quais o sedimento é
transportado, definindo as taxas de subsidência e deposição nas bacias, e
influindo nas diferenças de pressão e temperatura exercidas pelo soterramento,
dobramento e falhamento dos sedimentos . As condições climáticas podem
superimpor-se aos demais fatores afetando o grau de intemperismo das rochas na
fonte e durante o transporte, a maturidade dos sedimentos e propiciando a
formação de evaporitos.
O estudo dos ambientes de sedimentação atuais parece
mostrar que as propriedades sedimentares sejam controladas tão-somente pelos
agentes geológicos de deposição. As análises de sedimentos antigos evidenciam
um efeito mais ponderável da tectônica enquanto os ambientes geográficos de
deposição transparecem como meros complementos de um conjunto de fatores
fundamentais. A reconstrução dos ambientes antigos, além de seu interesse
científico, constitui uma importante
ferramenta na detecção dos elementos de controle das propriedades dos
sedimentos sendo, portanto, de grande interesse prático ligado à geologia
econômica das rochas sedimentares.
Tectonismo e níveis de base
Um aspecto importante nos estudos de tectônica e
sedimentação é o nível estrutural das falhas que permitiram a subsidência de
uma área. Dois tipos de interfaces embasamento/sedimento podem ser
reconhecidos. No primeiro tipo, a deposição se processa sobre plataformas ou
bacias suavemente subsidentes, que não apresentam falhas sindeposicionais à
superfície, embora provavelmente tenham ocorrido a níveis crustais mais
profundos para acomodar a bacia subsidente. O segundo tipo caracteriza-se por
falhas superficiais, dando origem a fraturas falhadas em horst e graben. Essa
distinção é muito importante, pois o falhamento superficial causa rápida mudança
faciológica e sua presença pode ser até responsável pelo desenvolvimento de
fácies adicionais.
Além do nível estrutural das falhas, a natureza e a
distribuição das fácies sedimentares são controladas pela superfície
deposicional. Entende-se por superfície deposicional o plano limitante entre o
sedimento e o fluido sobrejacente ( água
ou ar). Desse modo, o nível médio do mar na época da deposição ou o nível de
base das ondas ( wave base) é, em geral, fator crítico na diferenciação das
fácies sedimentares. Mas, quando o fornecimento de sedimentos terrígenos à zona
costeira é acelerado por tectonismo mais intenso ou por condições climáticas
mais secas, a seqüência de sedimentação marinha é precedida por sedimentação
não-marinha. Neste caso, o padrão sedimentar é determinado, de certo modo,
independentemente do nível médio do mar ou do nível de base das ondas. Essa
situação é encontrada na Bacia do Recôncavo ou, como constataram Suguio e Petri
( 1973), ocorre na Ilha Comprida (SP), onde a formação Pariquera-Açu (
continental) se acha sotoposta à seqüência transgressiva da Formação Cananéia.
De acordo com Stoneley ( 1969), seqüências sedimentares
espessas podem ser atribuídas essencialmente ao resultado de subsidência
tectônica devida a uma ou mais das três causas seguintes:
1- Deslocamento subcrustal do manto,
ocasionando um arqueamento da crosta para baixo. Este caso é verificado em
zonas de subducção, que são feições lineares constituindo sítios de
sedimentação geossinclinal.
2-
Transformações no
manto causando afundamento em grande escala da crosta terrestre e dando origem
às bacias intracratônicas. No caso inverso, essas mudanças podem levar à
formação de estruturas dômicas coroadas por fossas tectônicas preenchidas por
espessas seqüências sedimentares e vulcânicas.
3- Peso dos sedimentos acumulados, somados a
fatores internos à crosta, causando uma subsidência isostática da crosta.
Naturalmente, neste caso, o sítio de acumulação inicial é formado por
interferência de um processo externo. Um dos locais favoráveis a esse tipo de
fenômeno encontra-se na margem continental, onde toda a bacia oceânica está
sendo preenchida. Segundo Drake et al. ( 1968), dados da
geofísica sugerem a ocorrência de depressão isostática da crosta por acumulação no sopé ou taludes
continentais.
Propriedades sedimentares herdadas da tectônica
A tectônica influi
diretamente nas intensidades de erosão e sedimentação, e, por conseguinte,
controla o tipo de sedimentação e os produtos sedimentares. A intensidade de
sedimentação é função tanto da intensidade de suprimento como da intensidade de
subsidência, e ambas são função do tectonismo regional. O balanço entre a
sedimentação e a subsidência determina se o sedimento será depositado abaixo ou
acima do nível de base regional.
Desse modo, as propriedades sedimentares, além de outras
influências, controladas pela intensidade do tectonismo são as seguintes:
maturidade; textura e estrutura e geometria do litossoma.”
( Texto extraído do livro:
Rochas Sedimentares. Kenitiro Suguio. Ed. Edgard Blucher,,
1982)
Questões para discussão
1- O que entende por manifestações
tectônicas?
2- Explique como a natureza da rocha da
área-fonte pode influenciar as características de um depósito sedimentar.
3- De que maneira o relevo da área-fonte
pode determinar o caráter dos depósitos correlativos?
4- Explique a participação dos climas na
definição dos depósitos correlativos
5- O que é nível de base? Que relação existe entre nível de base,
tectonismo e sedimentação?
______________
Atividade prática desenvolvida na disciplina Fundamentos Geomorfoloógicos, no curso de Especialização em Ensino de Geografia, ministrada pelo prof. Lucivânio Jatobá, na Faintvisa, Vitória de Santo Antão, Pernambuco , Brasil.. ( 2013)
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